Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Uma casa enorme de arquitetura moderna e elegante no alto da colina. Uma varanda com mesas de toalhas brancas com vista para o ensolarado vale listrado de vinhas. Um enólogo simpático que vem pessoalmente até você para relatar cada característica das uvas. Uma degustação de 5 vinhos de uma das regiões mais reconhecidas do mundo, acompanhada por harmonização com algum tira-gosto. Quanto vale essa experiência? Em muitas partes do mundo, com certeza você vai precisar reservar uma verba extra. Mas esse sonho de qualquer apreciador de bons vinhos está ao alcance de qualquer um por menos de R$20 nas vinícolas da África do Sul.
O país está hoje entre os 10 maiores produtores e exportadores de vinhos finos do mundo, lado a lado com o Chile. São cerca de 340 vinícolas e 4.200 produtores em atividade. A grande diferença é a excelente relação custo-qualidade que se encontra por lá. Os primeiros vinhedos sul-africanos foram plantados no começo do século XVII, pela holandesa Cia das índias Orientais e impulsionados pela chegada de imigrantes huguenotes franceses. Mas a produção sempre foi meio capenga por inúmeros motivos: guerras, pragas, impostos e até o excesso de produção.
Para melhorar a péssima situação das vinícolas, no início do século XX o governo sul-africano subsidiou a criação de cooperativas para estabilizar os preços dos vinhos no mercado interno e controlar a produção com um sistema de cotas que vigorou até 1991. A partir de 1994, com o fim do apartheid, a eleição de Nelson Mandela à presidência, e a queda das barreiras para a exportação, o país investiu pesado em tecnologia e modernas técnicas de vitivinicultura, tornando o país em um grande produtor de vinhos de qualidade em poucos anos. Inclusive, eles são hoje referência para o fornecimento de mudas, graças ao avanço nas técnicas de clonagem que desenvolveram.
A maior parte dos vinhedos está concentrada na região sudoeste do país, ao redor de Cape Town. O clima é mediterrâneo, com verões quentes e secos e invernos frios e úmidos, com muita influência do mar, o que favorece muito o desenvolvimento dos vinhedos. O calor do interior do continente é atenuado pela fria corrente marítima de Benguela, vinda da Antártida. No verão, o Vento “Cape Doctor”, vindo do sudoeste, resfria os vinhedos e ajuda a prevenir doenças.
As uvas mais celebradas das vinícolas da África do Sul são a Pinotage e a Chenin Blanc. A Pinotage é quase exclusividade do país. Como tem difícil manejo e pode produzir vinhos de má qualidade, poucos produtores se arriscam com ela. Mas os sul-africanos desenvolveram técnicas de ponta para usá-la, e fazem excelentes vinhos com essa variedade. Já a Chenin Blanc é destaque porque os vinhos brancos feitos com essa uva lá estão entre os melhores do mundo fora da região do Vale do Loire, na França. Além delas, o clima da região recebeu bem uvas francesas como Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot, Cinsault (ou Hermitage), Cabernet Franc e Pinot Noir. E entre as brancas existe também o cultivo de Chardonnay, Suavignon Blanc e Riesling.
Todas as regiões de vinícolas da África do Sul podem ser exploradas a partir de Cape Town, pois são todas muito próximas. As mais conhecidas (e visitadas) são Constantia e Stellenbosch, que são também as mais antigas. Outras regiões importantes são Franschhoek, Paarl e Robertson, mas são mais afastadas, então vamos deixá-las de fora. Eu, que sou apenas um apreciador de vinhos (e nem de longe um conhecedor), não me proponho a fazer um guia para você que entende tudo de uvas e safras – tem muitos sites especializados para te ajudar. Mas vou fazer aqui um mini guia para ajudar os leigos animados a terem experiências únicas na hora de conhecer as vinícolas da África do Sul.
Para visitar as vinícolas abertas ao público, e que fazem degustação, é muito importante se informar antes. Dificilmente você precisa agendar a sua ida, mas não custa nada perguntar para não acabar com a cara na porta. Os dias de abertura podem variar, e muitas não abrem nos feriados. Os horários são restritos, então para aproveitar mais de uma deve-se chegar cedo. Nunca é cedo demais para se tomar vinho, né? (Os horários listados aqui são para degustação de vinho. Horários de hoteis e restaurantes podem ser diferentes.)
Como ninguém quer ser o motorista designado em um dia como esses, o melhor é pegar um motorista. O Uber na África do Sul é muito barato, e pode ser uma solução bem fácil. Só tome cuidado que em algumas vinícolas o sinal de 3G é bem ruim e chamar um Uber para ir de uma a outra pode ser um pouco problemático. Outra forma de ir sem ter que se preocupar é fechar o motorista para o dia. Muitos taxistas e uberistas fazem pacotes. Negocie bem. Eles geralmente vão te indicar algumas das vinícolas mais conhecidas, mas você pode dizer quais quer conhecer e ver a melhor rota no Google Maps. E nem se preocupe com endereço, o Maps encontra todas elas pelo nome. Por isso é bom dar uma estudada antes.
Outra coisa a se considerar antes de fechar o roteiro é pesquisar quais vinícolas tem restaurante. Muitas delas tem restaurantes bem requintados e lindos, mas a degustação é feita em um salão separado. Mesmo os mais bacanudos não são mais caros que um restaurante médio de São Paulo ou Rio de Janeiro. Em todas elas você consegue comprar os rótulos que estão na degustação, e outros de linhas superiores. Algumas ainda tem à venda outros produtos como chocolates, azeites, temperos, livros, louças e até artesanato. Mas se você estiver com a mala cheia, e não quiser ficar carregando garrafas pelo resto da viagem, os free shops dos aeroportos de Johanesburgo e Cape Town tem muita variedade, de todos os preços, e vale a pena comprar só na hora de embarcar mesmo.
Constantia é um distrito de Cape Town, e fica só a 16km do centro. Chegar lá não leva mais que 20 minutos. As vinícolas são próximas umas às outras, então dá tempo de fazer mais de 3 no mesmo dia. O lado não tão bom é que algumas vinícolas são bem turísticas, então podem ser bem cheias. O lado bom é a paisagem, pois a região fica cercada pela cordilheira da qual faz parte a Table Mountain. Constantia sempre foi reconhecida pelo vinho de sobremesa, mas tem trabalhado muito para recuperar o prestígio com a produção de vinhos finos. Hoje as melhores uvas de lá são a Cabernet Sauvignon e Merlot.
Uma das maiores e mais antigas vinícolas da região, a Groot é também uma das mais movimentadas. A degustação de 5 vinhos pode ser casada com o tour pela adega ou com a degustação de chocolates. Tem dois restaurantes espalhados na propriedade, além de espaço de eventos, espaço para piquenique e para as crianças e loja de arte e artesanato. A arquitetura tem mais valor histórico que estético. A vantagem é que é uma das poucas que abre todos os dias da semana, e com horário mais extenso.
Groot Constantia
Segunda a domingo, das 9h às 18h (Fecha só no Good Friday e no Natal).
Escondida no alto do monte Constantiaberg, a vinícola Glen parece aquela casa de fazenda maravilhosa do tio rico que a gente sonha ter quando é criança. O restaurante fica em uma varanda voltada para a vista magnífica das montanhas, do vale coberto de vinhas e do mar. Ali só servem pratos de queijos e frios, mas que são tão bem servidos que quase funcionam como refeição. Fora que nada combina tão bem com algumas taças de vinhos variados.
Constantia Glen
De domingo a quinta, das 10h às 17h. Sextas e sábados das 10h às 20h.
Do alto da Constantia Nek, essa vinícola-boutique tem uma produção relativamente pequena, mas muito bem cuidada. Do alto da casa envidraçada, a vista do salão de degustação luxuoso das vinhas íngremes tem a False Bay como pano de fundo. O restaurante Chef’s Warehouse funciona também para o jantar, fora do horário de degustação, e o cardápio, focado em matéria prima sazonal, tem nas tapas seu carro chefe.
Beau Constantia
De terça a domingo, das 11h às 18h.
O nome quer dizer ‘Além das Expectativas’. Essa vinícola histórica fazia parte da Groot, quando foi fundada por Simon van der Stel, o primeiro governador da colônia holandesa na África do Sul. O caminho para dentro da propriedade é um espetáculo à parte, com sua alameda cercada de carvalhos. O restaurante, eleito um dos 100 melhores do país pelo guia da American Express, prepara releituras de pratos famosos, indo desde a Salada Caesar até o Steak Tartar, passando pelo inglesíssimo Fish & Chips e o alemão Schnitzel. Se quiser algo mais light, eles ainda tem um café fofo, com bolinhos e docinhos, café da manhã e almoço leve.
Buitenverwachting
Segunda a sexta, das 9h às 17h. Sábado, das 10h às 17h.
Além de ser tida como uma das vinícolas mais bonitas do mundo, seus vinhos ainda fazem parte do mundo da literatura: seus vinhos são mencionados em livros de Baudelaire, no clássico Razão e Sensibilidade, de Jane Austin, no último romance de Charles Dickens, não publicado. Outro grande apreciador dos vinhos doces da Klein, o Vin de Constance, era Napolão Bonaparte, que recebia remessas mensais em sua ilha-exílio de Santa Helena.
Klein Constantia
Segunda a sexta, das 10h às 17h. Sábado, das 10h às 17h. Domingo, das 10h às 16h30.
Entre junho e agosto: sábado, das 10h às 16h30.
Olhos abertos para encontrar essa gema, pois a entrada fica escondida no meio de árvores altas. Piscou, passou. Ali atrás fica um cenário bucólico perfeito para experimentar, entre tanto, um Shiraz que foi condecorado como o melhor do mundo recentemente. Escolha um lugar debaixo de um guarda-sol, ou então sob a copa dos salgueiros, e fique admirando a água do riacho correr com a taça na mão. Dá até para levar a criançada e deixar eles se divertindo enquanto você relaxa. Mas para levar as garrafas de vinho para casa precisa ter sorte: a British Airways tem comprado produções de um ano inteiro para servir na primeira classe.
Eagles Nest
Segunda a domingo, das 10h às 16h30.
Para chegar a Stellenbosch você deve percorrer cerca de 50km a partir do centro de Cape Town, mas as estradas de qualidade europeias facilitam a vida, e em menos de uma hora você está lá. A região é a mais famosa de viticultura do país. Por aqui, mais do que tradição, as vinícolas primam pela qualidade dos vinhos. Por isso, a região tem muitas adegas privadas. Se você curte muito vinho, vale a pena se hospedar por lá pelo menos por uma noite. Stellenbosch concentra muitas, muitas vinícolas, uma mais linda que a outra. É até difícil escolher.
Durante duas décadas, Ernie Els figurou entre os melhores jogadores de golfe do mundo, chegando a ocupar o número 1 do ranking internacional por um bom tempo. Essa mesma busca por perfeição é mote da vinícola que ele comprou em 1999, que leva seu nome. Desde então, a Ernie Els Wines ja ganhou muitos prêmios que nada tem a ver com a grama. A sede da vinícola é bem tradicional, com cara de clube de campo das antigas, muito elegante. No inverno, a degustação de vinhos pode ser feita ao redor da lareira. No verão, o melhor lugar é no terraço, com vista para os campos de vinhas e com um pequeno green pra todo mundo treinar umas tacadas. Por lá só é possível comer um almoço simples, com tábuas de frios e sanduíches. Mas Els mantém um restaurante bonitão na cidade de Stellenbosch, e outro em Durban, do outro lado do país.
Ernie Els Wines
Segunda a sábado, das 9h às 17h.
Essa é provavelmente uma das vinícolas mais modernas e sofisticadas de Stellenbosch. O dono é ninguém menos que o joalheiro bilionário Laurence Graff, que transformou as instalações em um dos lugares mais luxuosos que você deve ter visto. Obras de arte por todos os lados, uma loja reluzente de diamantes e outras pedras preciosas, duas butiques, um spa, dois restaurantes, e um hotel para quem pode passar alguns dias por lá com toda a realeza. Mas mesmo que esteja contando as moedas, não se intimide. A degustação de vinhos é igualmente barata, e eles recebem os turistas mais mulambentos com a mesma simpatia. Se for até lá para jantar, chegue um pouco antes para ver o por-do-sol por trás das montanhas da varanda.
Delaire Graff
Segunda a domingo, das 10h às 21h.
Ali ao lado da Delaire Graff, fica outra vinícola deslumbrante, ultra sofisticada, mas mais moderna e interessante. A Tokara também se destaca pela arquitetura arrojada, o serviço luxuoso e as obras de arte de cair o queixo. Além da degustação de vinhos, peça também para provar a seleção de azeites que eles produzem na propriedade. Dá vontade de levar todos. Na sede, tem ainda um restaurante maravilhoso, com vista para o vale. Saindo da propriedade, e seguindo um pouco a diante na estrada, você ainda encontra o empório da Tokara, que tem uma deli para uma refeição mais leve, perfeito para o almoço. Só segura o bolso, porque o empório é um paraíso de perdição para gourmands de plantão.
Tokara
Segunda a sábado, das 10h às 18h.
A Spier é conhecida pelos vinhos muito celebrados e premiados, mas ela oferece muito mais. Para começar, é uma das vinícolas mais antigas da região, e com os edifícios coloniais mais bem preservados, desde os tempos das colônias inglesa e holandesa. Lá ainda tem um hotel e um restaurante que usa apenas ingredientes frescos e locais nas receitas. Eles desenvolvem também tecnologias de plantio eco-friendly, e mantém um programa de sustentabilidade com as comunidades pobres das redondezas. A degustação pode ser harmonizada com chocolates, e tem degustação de sucos de uva para os pequenos. Se você ainda achou pouco, por lá ainda dá para fazer um passeio de Segway por dentro das vinhas.
Spier Wine Farm
De novembro a março: segunda a sábado, das 9h às 18h. Domingo, das 11h às 18h.
De abril a outubro: segunda a sábado, das 9h às 17h. Domingo, das 11h às 18h.
Na contramão de todos os avanços tecnológicos conquistados pelos vinhos sul-africanos, em Kanonkop a tradição mantida é da produção mais manual e natural possível. Junto com a degustação, é possível fazer o tour completo da produção dos vinhos. Da colheita, passando pela seleção, até a maceração das uvas em grandes tanques de concreto, tudo é feito pela equipe da fazenda de 54 pessoas. Para achar a entrada de Kanonkop é fácil, pois um enorme canhão de guerra fica parado na beira da estrada. O nome, aliás, vem de um morro de onde era disparados tiros de canhão para avisar aos fazendeiros do século 17 que navios vindo da Europa tinha aportado em Cape Town para um stopover – sinal de bons negócios!
Kanonkop
Segunda a sexta, das 9h às 17h. Sábado, das 9h às 14h. Feriados, das 10h às 16h.
A Rust en Vrede também está entre as mais antigas e tradicionais vinícolas sul-africanas. Mas diferentemente da Spier, aqui a tradição é o foco. Tanto que hoje eles se dedicam exclusivamente vinhos tintos, para conseguir o melhor resultado possível. O resultado é que eles foram os primeiros sul-africanos a emplacar um vinho tinto no Top 100 Wines of the World (feito repetido pelos 4 anos seguintes). Eles também se gabam de ser a única fazenda do país a ter o vinho e o restaurante ranqueados entre os 100 melhores do mundo. Ainda não deu para acreditar? Então segura essa: era a vinícola favorita de Nelson Mandela, que escolheu os vinhos da Rust en Vrede para serem servidos no jantar de de comemoração do seu recebimento do Prêmio Nobel. Que tal?
Rust en Vrede
Segunda a sábado, das 9h às 17h.
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
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Gostei muito deste artigo e vou recomendá-lo a todos os meus amigos
que ótimo! :)
Olá Renato, adoramos seu artigo, inclusive o incluímos no nosso post recente sobre:10 dicas para conhecer uma das melhores regiões vinícolas do Mundo! http://habitomundo.com.br/dicas-viagem-vinicolas-africa-do-sul/
Se achar válido seria legal compartilhar-lo nas suas redes sociais, para dar um tira gosto para seus leitores sobre está incrível região das vinícolas na Africa do Sul!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.