Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Simpatia, beleza, charme e hedonismo puro. Conheça o Big Mamma Group, a cadeia francesa de cozinha italiana mais cool do planeta.
O flerte criativo entre a França e a Itália já teve passagens gloriosas na história. Por exemplo, quando Leonardo da Vinci se mudou para Cour-Cheverny (na região Loire) para conceber Romorantin, a nova capital da França, no terroir de vinhos mais antigo do país. Ou quando Marie de Médicis assume o trono do Héxagono (um dos apelidos da França). Com a longa união entre Catherine Deneuve e Marcello Mastroianni. Ou ainda quando Pepe Gambardela – o misantropo anti-herói do filme italiano A Grande Beleza – tem uma epifania romântica ao cruzar com a atriz francesa Fanny Ardant em uma escadaria de Roma.
Capitaneado por dois jovens franceses que conceberam um branding tão astuto quanto irresistível: a união entre o cérebro francês e o coração italiano, a moderna cadeia de restaurantes Big Mamma Group é o resultado de mais um desses encontros excepcionais entre os países vizinhos com identidades tão especiais. Não deixa de ser irônico que a cozinha italiana mais hype do momento nasceu em Paris e está em plena expansão, de Londres a Madrid, além de outras cidades francesas como Lille e Bordeaux, além de Lyon, o reputado polo gastronômico francês.
Bellezza, La Felicitá, Pink Mamma, BigLove, Libertino e Carmelo são alguns dos 15 endereços que contrariam o dogma da padronização engessada em empreendimentos de franquia. Cada restaurante é diferente, mas todos com um estilo em comum. Estilo que eu definiria como “rococó lisérgico”. Ou a versão foodie de Ti Amo, o álbum mais solar da banda indie francesa Phoenix inspirado na dolce vita italiana.
As centenas de itens de decoração de cada casa parecem garimpadas (no mercado de pulgas) em Saint Ouen, num cabinete de curiosidades decadente da Rue des Archives, ou num brechó chique de Milão, mas reagrupados com muita coerência lúdica, como num caleidoscópio. O resultado é um ambiente divertido, como uma festa de aniversário em tecnicolor para adultos. Como se a Disneylândia fosse uma trattoria com Alessandro Michele e Jacquemus na mesma mesa.
Em cada restaurante, um elemento surpresa. No Libertino o bar é giratório. No 3º andar do lindíssimo Pink Mamma, o teto de vidro traz o sol, os telhados de Paris e a efervescência de Pigalle pra dentro do salão. Mas se a ideia é privacidade, no 2º andar tem um bar escondido atrás de uma parede falsa como os originais bares secretos da época da Lei Seca. No BigLove do Marais, além do brunch mais concorrido de Paris, o menu é inteiramente vegano. E finalmente, no Carmelo de Lyon, sob os magníficos arcos de um antigo mosteiro carmelita, o finado e mítico chef lyonnais Paul Bocuse poderia dar o braço a torcer.
Depois de tanta pirotecnia, a comida poderia ser apenas correta, mas tudo é absolutamente delicioso. De um barbecue de cordeiro que derrete na boca com o feijão branco mais aromático da vida, passando pela pasta a la truffe, o clássico do chef, até o spaghetti Cacio e Pepe, finalizado dentro de uma maciça peça de pecorino como manda a tradição (este só disponível no Big Love). Tudo harmonizando com o organoléptico vinho tinto da Puglia. E tudo servido em louças que parecem cenográficas dos anos 60 como os jarros de vinho em formato de frutas, ou vindas da mais nova coleção de mesa da Fragornard (a casa francesa de perfumaria, tecelagem e cerâmica que a cada ano se inspira no artesanato de uma parte do mundo).
Enfim, no BMG o imaginário hedonista italiano é reinventado na perspectiva do que os franceses chamam de joie de vivre. Também na perspectiva da excelência francesa e valorização do patrimônio (quesito no qual os primos italianos deixam a desejar). O atendimento é igualmente impecável, com muitos italianos charmosos no salão e drinks na velocidade de um clique. O marido, um parisiense exigente e um ex crítico de gastronomia do conservador jornal Le Figaro, resumiu assim a empreitada dos jovens franceses de alma italiana : “eles entenderam tudo”. Mas para além do cérebro francês, depois de experiência ajusto como desfecho o coração italiano do diretor Federico Fellini : “Life is a combination of magic and pasta“.
PS: Se puder escolher um só, vá ao Pink Mamma – 20bis, Rue de Douai, 75009 Paris. É o mais lindo de todos e vizinho da nova movida parisiense de South Pigalle.
*Foto destaque: Pink Mamma, Paris – divulgação
Cursou letras, mas escreve socialmente. Publicou um livro premiado de ensaios sobre Vicente Cecim (APCA 80 e 88), escritor hermético e Jodorowsky da Amazônia. É produtora cultural desde 2004, tendo trabalhado principalmente em projetos da cena musical de Belém (Rádio e TV Cultura do Pará) e Recife (Astronave Iniciativas Culturais). Escreve eventualmente na Folha de SP. Vive há quatro anos em Paris.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.