Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Com uma sócia grávida de 8 meses e meio, procurávamos um hotel fora de São Paulo para fazer nosso planejamento anual. O briefing era: natureza, um bom espaço para trabalhar, comer bem para celebrar um ótimo ano. Só de pensar em vários quilômetros chacoalhando num carro, praticamente desistimos de cumprir o briefing completo. Até que surgiu a ideia: e o Palácio Tangará, que fica na cidade?
Já havia uns meses que eu tinha vontade de conhecê-lo. A construção luxuosa tem 141 apartamentos com preços que variam entre R$ 1.575 e custa R$ 38 mil a diária (Grand Suit São Paulo). Ele faz parte da companhia Oetker Collection, que é dona de outras propriedades como o Le Bistrol, em Paris. E a suíte mais barata cabia no nosso orçamento e cumpria todos os requisitos!
Além de trabalhar, fizemos um roteiro de um dia no Palácio inspirados pelas dicas do próprio site do hotel. E contamos aqui para curiosos e entusiastas como foi.
Para começar, tangará nos lembra o porquê da escolha de um nome de um pássaro tipicamente da vegetação brasileira: no meio da babilônia de pedra da cidade, o Palácio Tangará fica localizado no parque projetado pelo famoso paisagista Roberto Burle Marx nos anos 50, projeto que ele concluiu pouco antes de morrer deixando-o de presente para um respiro no bairro de Morumbi com um leque exuberante de espécies nativas da Mata Atlântica. Com o sapato correto, dá pra andar horas por lá.
O objetivo do Tangará é oferecer ao hóspede uma experiência tão completa que não seja preciso sair do hotel para nada: natureza, luxo, conforto e um gosto estético nada óbvio, no qual o Brasil aparece nos detalhes coloridos e em um certo “frescor” arquitetônico. Para isso, a parte gastronômica está muito bem servida: são quatro opções de culinária idealizadas pelo renomado chef francês Jean-Georges Vongerichten.
Minha sócia nota que o valor da diária é inversamente proporcional à quantidade de decibéis que o staff utiliza ao se comunicar: quanto mais chique, mais sussurram. Concordo. Isso é uma verdade em quase todo o mundo, mas também acho que tem a ver com nós duas falarmos mais alto que os saguis tufo-branco em período de reprodução no bosque.
O quarto era perfeito para nossas necessidades com uma sala grande, um terraço com vista para piscina e o bosque, um quarto com cama gigante e ainda um sofá cama (mais confortável que a cama da minha casa).
Para o almoço há duas opções: o casual no bar Parque Lounge, e o almoço executivo do Jean-Georges. Ficamos no casual e o salmão com purê não desapontou. Já o executivo no premiado restaurante tem como principal público reuniões executivas da região da Berrini e serve menu em tempos. (Update 2021: atualmente o restaurante só abre para café da manhã de segunda a domingo, e para jantar de quinta à sábado).
Para fazer a digestão em grande estilo, dê uma volta artística no hotel. A arte é, em sua maioria, contemporânea (apesar do estilo neoclássico da construção) e já no saguão há uma instalação de ouro pendurada no teto da artista Laura Vinci, fazendo referência às riquezas minerais brasileiras. (Se você curtir, encontrará mais do trabalho de Vinci na Galeria Nara Roesler, uma das galerias comerciais de São Paulo que vale a pena visitar).
Na parede mais distante da entrada tem duas cortinas de lã feitas à mão por Fernando Arias, que fazem referência à Amazônia, e no confortável bar Burle há uma pintura em quatro partes de uma árvore em tinta sobre vidro de Claudia Melli, além de outras fotos de oásis brasileiros que podem ser ótimas companhias para um drink no fim da tarde.
A apenas dez minutos de carro do hotel fica a extraordinária Casa de Vidro projetada por Lina Bo Bardi, famosa arquiteta ítalo-brasileira, que viveu no local e projetou a estrutura modernista do Museu de Arte de São Paulo. Parte da floresta circundante ainda sobrevive, invadindo as salas envidraçadas – os famosos artistas Gilbert & George passaram um dia na Glass House como esculturas vivas nessa intervenção artística.
Depois de uma relaxante visita à Casa de Vidro, é hora de descobrir a famosa Fundação Maria Luisa e Oscar Americano. O lugar é um must-go para aqueles que amam artes, história e arquitetura. Os visitantes descobrirão que este lugar é um miscelânea de pinturas, móveis, artefatos e objetos de arte sacra do século XVII do século XVII. No final, uma rápida parada no “Tea Saloon” é obrigatória.
De volta ao hotel, finalize a tarde refrescando, um tchibum na piscina interna aquecida, com direito a jacuzzi.
Estávamos super empolgadas para o jantar. Começamos com drink (cortesia da casa) no bar, mas logo mudamos para dentro do restaurante.
Conheço há algum tempo o chef Felipe Rodrigues, e desde sempre as suas refeições sempre foram as mais memoráveis do meu paladar. E não decepcionou. O jantar à luz de velas, com vista para os jardins e para o parque, privilegiou produtos locais com um quê de execução francesa e temperos orientais.
O menu degustação vale cada caloria, cada real e cada segundo. Tartar de atum, seguido de vieiras com redução de maracujá.
Enquanto comíamos, escutamos mais sobre a história do Palácio Tangará. Um milionário paulistano pretendia fazer ali uma mansão com assinatura de Oscar Niemeyer para atrair sua pretendente, uma princesa austríaca. O gracejo deu certo, eles se casaram, mas não houve tempo de casamento o suficiente para terminar a obra, deixando como herança apenas os jardins de Burle Marx.
Não deu tempo de ficarmos triste com a história, já que estávamos ocupadas com uma massa com funghi que nos fez rever nossos conceitos de massa bem feita.
Sorte a nossa do casamento falido, porque por isso podemos desfrutar do Palácio Tangará e absorver o ar romântico e elegante deixado por Baby Pignatari, um dos milionários mais charmosos e românticos que o Brasil já teve. O peixe em crosta de folha de chá – um dos melhores pratos que já provei!
Hora de dormir. Ou melhor, fazer um (wine-induced) ensaio fotográfico no celular vestida de coelho. (Não é um fetiche estranho, apenas uma comemoração da nossa empresa, que tem coelho como símbolo)
Tomamos o café da manhã ao ar livre, saboreando o vento fresco que vem da mata local. Após o café da manhã, fizemos um passeio pelo Parque Burle Marx, absorvendo o silêncio das florestas tropicais brasileiras. O parque tem um visual arrebatador, com trepadeiras irregulares espalhadas e densas palmeiras, além de samambaias, um lago com peixes diversos, tartarugas e cisnes. O bônus do banquete visual está nos gambás e saguis tufo-branco típicos dessa vegetação.
Para terminar nossa estadia, relaxamos à beira da piscina e prestando atenção nas cacatuas voando entre as árvores.
Palácio Tangará
Rua Deputado Laércio Corte, 1.501 – Panamby, Morumbi, São Paulo
Telefone: +55 11 4904 4040.
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os postsAdorei o texto, a leveza, o humor… =)
Ah, a Van Van sempre arrasa nos relatos. Obrigada :)
Parabéns, linda reportagem!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.