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O sistema brasileiro oficial de classificação de hotéis não segue o padrão internacional de estrelas. Mas pode ter certeza, as categorias vão de 1 a 5 estrelas. Portanto, todas as notícias que você ler sobre o novíssimo Palácio Tangará, que seria o primeiro hotel 6 estrelas do país, são mentira (ou uma bela estratégia de marketing). A loucura é tanta que teve gente falando até que ele recebeu 7 estrelas! Megalomanias à parte, uma coisa pode ter certeza: o Palácio Tangará merece cada uma das 5 estrelinhas que recebeu, com louvor.
A história do hotel começou nos anos 40, quando a área do parque Burle Marx todo foi comprado como um sítio (a Chácara Tangará) pelo milionário Baby Pignatari. Ele queria que Oscar Niemeyer projetasse uma casa para ser construída ali, para impressionar a princesa austríaca Ira von Fürstenberg. Ela acabou se tornando sua terceira esposa, mas preferiu morar numa região mais central da cidade. Os jardins do Burle Marx já estavam feitos, com direito à avenida de palmeiras reais e gramado quadriculado, mas a casa nunca saiu do papel. A empresa que comprou toda a chácara foi levada a doar 29% da área para a criação do parque, e decidiu construir o hotel em contrapartida. Em 1995, começaram as construções, mas que logo foram abandonadas e a carcaça ficou lá escondida na mata por mais de uma década. Em 2013, o prédio foi comprado por um fundo de pensão americano para ser concluído, e entregue para a operação do grupo de hotéis de luxo alemão Oetker Collection. Depois de tantos imbróglios, era ‘ou vai ou racha’, por isso escolheram quem realmente entende do assunto para fazer dar certo.
O resultado não poderia ser melhor. O castelo neoclássico nababesco herdado foi completamente transformado internamente, com uma decoração bem mais moderna, discreta e elegante. O projeto de todas as áreas comuns tem assinatura da arquiteta Patrícia Anastassiadis. Mistura muito cinza com pretos, brancos, dourados e alguns toques sutis de cor, inspirados nas pinturas e litogravuras do artista francês Jean-Baptiste Debret, que retratou do Brasil do século 19. Os quartos e corredores ficaram a cargo da dupla Luiz Bick e William Simonato, que mesclaram cinzas, verdes e azuis lavados contra as centenas de fotografias P&B de grandes fotógrafos nacionais, como Rômulo Fialdini e Dani Tranchesi.
Os artistas brasileiros, inclusive, foram muito celebrados em todo o hotel. Já no lobby de entrada, uma impressionante escultura pendente dourada da Laura Vinci atrai a atenção dos olhos. Outras peças dela estão no restaurante e na imensa escadaria que leva à área de eventos. Espalhados você ainda encontra peças de Fernando Arias, Claudia Melli, Artur Lescher, Ana Amélia Geniolli, Pedro Petry, e outros. Até as louças dos restaurantes são da ceramista Heloisa Galvão. Ponto para a brasilidade.
Tudo bem, a gente fica ouvindo aquelas manchetes das diárias de R$38 mil, e já acha que o Palácio Tangará não é para qualquer um. Realmente, a suíte presidencial de 500m2 não é para qualquer (ou quase nenhum) bico. Mas as suítes menores, de 47m2, tem diárias em torno de R$1.500. Claro, esse conforto todo tem um custo alto, mas relativamente acessível se comparado a outros hotéis desse padrão no Brasil. Sem contar que todas as suítes são equipadíssimas, lindas e tem varanda ou jardim privativo, voltados para aquela Mata Atlântica remanescente. E que vista essa mata tem! Não existe em São Paulo algo que se compare. Ali, coladinho na pulsante Marginal Pinheiros, o que se ouve é o canto dos pássaros e o farfalhar das árvores.
Ok, pessoas comuns só vão poder desfrutar disso tudo em ocasiões especialíssimas, como lua-de-mel, certo? Errado. Mesmo quem não é hóspede pode aproveitar alguns dos luxos que eles oferecem. O spa, administrado pela grife parisiense de cosméticos Sisley, pode ser usado por qualquer um, com hora marcada. Os espaços de evento também podem ser alugados para reuniões, palestras, convenções e festas (dizem que o salão principal já tem 15 casamentos agendados). E ainda mais fácil, dá para passar por lá só para comer ou bebericar numa noite qualquer.
São dois restaurantes comandados pelo chef francês Jean-Georges Vongerichten, que carrega 3 estrelas Michelin no currículo (de 3 possíveis, viu?). O Tangará Jean-Georges, o principal, abre apenas para o almoço e jantar, e o menu faz uma mistura contemporânea da gastronomia asiática com ingredientes nacionais. No lounge, ao lado do lobby, uma versão mais simples do restaurante funciona em esquema all-day-dining, junto com um piano bar. Já o Bar Burle, o único espaço sem janelas de todo o hotel, tem um ambiente escuro e sofisticado, ótimo para drinks com privacidade. Ele abre todos os dias das 17h até a 1h. E tem ainda, em frente, a adega envidraçada pomposa, que tem cerca de 40% da coleção de rótulos nacionais, e alguns pacotes de degustação. Os não-hóspedes só vão ter que se contentar em ficar de fora da academia, do espaço kids, e das duas impressionantes piscinas aquecidas. A de fora fica estrategicamente posicionada entre as duas alas do hotel e um paredão de floresta deslumbrante. A de dentro, mais discreta, é inteirinha revestida de mármore branco, dando um efeito de lagoa impressionante.
Mesmo tendo só 5, o Palácio Tangará merece todas as outras estrelas que atribuem a ele. De cada detalhe da decoração à simpatia e prestatividade dos funcionários, tudo é meticulosamente cuidado para a experiência de estar lá ser a mais agradável possível. Estar lá parece ser transportado para outro mundo, longe de todo o caos de São Paulo. É uma vida de sonho que, mesmo não sendo para qualquer um, a cidade merecia ter pelo menos um pouco.
Palácio Tangará
Avenida Deputado Laércio Corte, 1.501 – Panamby
(11) 4904-4001
*Foto de destaque – luxetiffany.com
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.