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Sob a sombra dos coqueiros inclinados numa praia tropical, o surfista entra no mar usando nada além de filtro solar e bermuda. Essa é a imagem que temos do surfe – até conhecer Heiðar Logi, o primeiro surfista profissional da Islândia.
Pegar onda naquele país tempestuoso não é fácil. Muitos barcos de pescadores afundam nas águas turbulentas do Atlântico, que banha a vila na península de Reykjanes, onde Logi nasceu. Por lá, o mar é visto como uma ameaça e não um playground, e assim Logi teve medo da água por muito tempo. Não que esse fosse seu único problema. Na infância, ele foi diagnosticado com distúrbio de déficit de atenção e vivia a base de Ritalina. Na adolescência, começou a beber e de vez em quando voltava para casa no carro da polícia.
Aos 16 anos, um amigo emprestou uma prancha de surfe pra Logi pegar umas ondas se tivesse vontade. Brother, e que vontade. Com um wetsuit usado e muita coragem, na primeira hora no mar soube que era isso que queria para o resto da sua vida. Logi saiu da água decidido a se tornar surfista profissional. Ele queria fazer o que muita gente faz, mas de um jeito que ninguém faz.
Abandonou a escola e a vida loka, se mudou pra Reykjavik e arrumou um emprego de bartender. Ele trabalhava de noite e surfava de dia, por quanto tempo seu corpo aguentasse o frio. Descendentes dos vikings, os islandeses têm um verbo que exprime o ato de perseverar nas adversidades: að nenna.
Logi perseverou e ficou tão bom na coisa que teve o que oferecer aos patrocinadores, se tornando o primeiro surfista profissional da Islândia. O orgulho vem mais do processo que do título. Hoje em dia, Logi tem alguns patrocinadores e pega onda em vários picos do mundo, mas sempre bate saudades da terra natal. “A Islândia tem uma inconstância que te faz apreciar cada onda”, ele diz.
De fato, a Islândia transforma qualquer aspirante a surfista num meteorologista. Os padrões de vento mudam constantemente e a busca por uma onda pode resultar num dia perfeito ou numa viagem frustrada. Mas no país, se você se preocupar com o tempo, não faz nada. A água nem é tão horrível quanto você pensa. A temperatura varia entre 5˚ e -14˚C, que dá pra encarar com o wetsuit certo (de no mínimo, 5mm), além de botas, balaclava e luvas. E uma dose descomunal de að nenna.
O Brasil conta com mais de três milhões de praticantes de surfe. Na Islândia são… cerca de 30. Se você quiser se juntar a esse seleto grupo, saiba que tem até agência de viagem especializada na empreitada. Caso prefira uma temperatura mais tropical, ao menos não perca Under an Artic Sky, disponível no Netflix. O documentário narra a saga de Logi e de outros cinco surfistas, que viajam pelo país antes da pior tempestade em 25 anos, em busca de ondas perfeitas sob as luzes da Aurora Boreal.
*Foto Destaque: Heiðar Logi by heidarlogi.com
Carioca da Zona Norte, hoje mora na Zona Sul. Já foi da noite, da balada e da vida urbana. Hoje é do dia, da tranquilidade e da natureza. Prefere o slow travel, andar a pé, mala de mão e aluguel de apartamento. Se a comida do destino for boa, já vale a passagem.
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Cojasoso.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.