Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
*Texto por Lillian Vidigal
Sempre falamos por aqui sobre eventos e festivais que acontecem no mundo todo. Música, arte, cultura, tecnologia, gastronomia… dá para rodar o planeta sem parar acompanhando esses encontros. E uma das cidades que todo mundo fala o ano todo por conta dos festivais é Cannes, que recebe em maio os astros do cinema mundial para a entrega da Palma de Ouro, e em junho os astros da criatividade mundial para a caça aos Leões de Ouro.
Cannes é de fácil acesso, tem o Mar Mediterrâneo com praias lindas, clima gostoso o ano inteiro, uma gastronomia de pirar e uma estrutura hoteleira incomparável. Nunca sai do circuito. Nunca fica démodé. Ao contrário: cada vez mais é tendência. E sabe por que a gente não falou dela até agora? Porque Cannes é mais legal ainda sem festival.
O Festival de Cinema é aquele glamour, com desfile de beldades e poderosos do cinema, que acabam voltando a Cannes em épocas mais tranquilas e com menos paparazzi. O Cannes Lions Awards é uma folia. Imagina um festival que reúne os publicitários e afins mais criativos do mundo no balneário mais charmoso do sul da França, querendo provar uns para os outros o quanto eles são mais bacanas que os outros. Naquele cenário. Aqueles rosés. Aquele mar. Com aquela profusão de restaurantes estrelados. Com shows de bandas que eles descobrem antes de todo mundo e ainda vão estourar.
Fui em cinco edições do festival ao longo dos últimos anos. Talvez seja a semana do ano em que os publicitários mais se divertem. Antes disso, eu já tinha vagado tranquilamente por toda a Costa Azul de carro: um pedaço da Itália, a França inteira e um pedacinho da Espanha. Confesso que terminei com vontade de voltar a Cannes. E todas as vezes em que voltei para o Cannes Lions Awards não foram suficientes. Recentemente, estive lá uma sétima vez, fora de estação. E, por incrível que pareça, foi surpreendente. Descobri alguns cantinhos que em época de festival não daria para ver. Agora não restam dúvidas: preciso voltar uma oitava vez. No mínimo.
Porque o legal mesmo é visitar Cannes fora do Festival de Cinema, para não tropeçar em celebridades, e longe do glitter dos leões de ouro da criatividade. É quando se apagam os holofotes que se pode apreciar o verdadeiro brilho dessa pérola do Mediterrâneo.
Comece o reconhecimento de área com uma caminhada pela Croisette, a avenida à beira-mar símbolo da Riviera Francesa. Ela começa no Palácio dos Festivais e termina numa marina, onde iates e veleiros gigantescos estão atracados. Ao longo do percurso, comércio de luxo com as melhores marcas europeias, cassinos suntuosos, despretensiosos cafés, um nostálgico carrossel e as palmeiras imperiais tão típicas ao longo da orla de areia branca e água azul, onde se intercalam as praias privativas dos hotéis, cheias de mimos, e as abertas ao público, com garotas de top-less colocando o bronzeado em dia.
Estando na Provence, que tal fazer a Route des Rosés? As tradicionais vinícolas recebem para visitas pré-agendadas, com degustação de surpreendentes rótulos, em paisagens bucólicas. Ou, para uma visita agrícola ainda mais surreal, vá ver os campos de perfumes de Grasse, ali pertinho. A cidade fornece flores aromáticas para toda a indústria de perfume mundial. Os campos roxos de lavanda a perder de vista, em contraste com a água de mar que se vê dali, são algo de inesquecível. O perfume que paira no ar se espalha por quilômetros.
Para quem gosta de arte, a região é um parque de diversões: o Château Grimaldi, em Antibes, foi residência de Pablo Picasso e hoje em dia é um museu dedicado à obra que ele produziu neste período. Marc Chagall também viveu por ali e ganhou um museu em sua homenagem. Vários outros artistas deixaram um legado pelas cidadezinhas da região. A ilha que se vê da praia se chama île de Sainte-Marguerite e vale a visita. São 20 minutos de barco e abriga o Museu Marítimo Francês com restaurantes voltados para o continente.
Vale vagar também pela ladeira dos restaurantes. São muitos. Todos bons, geralmente de comida local. Faça suas próprias descobertas. Não tem erro. A ruela foi apelidada carinhosamente de ‘Pelorãn’ pelos nossos publicitários baianos. Pegou. Mas o nome oficial é Rua Saint-Antoine.
Você já tem o privilégio de estar em Cannes, mas vai que a sorte te sorri ainda mais… que tal terminar a noite se arriscando num cassino? A sugestão é o Les Princes, aberto até as 5 da manhã. Coloque-se um limite, vista-se cinematograficamente e banque o expert entre milionários russos gastando Rublos e ganhando Euros, cercados por seguranças e beldades. Quem sabe?
Cannes é lugar para se mimar. Hospede-se no hotel mais disputado, e quem sabe, durma na mesma cama onde o seu crush cinematográfico já descansou: Le Majestic Barriére. É onde fica a suíte mais cara e suntuosa da Europa, com 450m2 e vários ambientes privativos, incluindo cinema, academia e terraço com uma ampla piscina. Tem mordomo particular e a diária custa €32 mil. Mas não precisa gastar tudo isso, afinal a cidade tem inúmeros atrativos e você não vai passar o dia todo no quarto. A partir de €200 você consegue um bom quarto. Todos foram recém-reformados e ganharam ainda mais conforto, sem perder o charme clássico original que consagra o hotel desde 1926. Peça um com vista para o Mediterrâneo e para a bela piscina do hotel. A equipe, afinadíssima, se desdobra em mimar todos os hóspedes. Quem está à frente da conciergerie é Roger Bastoni. Discretíssimo, há mais de 40 anos está habituado a satisfazer os caprichos das inúmeras celebridades que já passaram pelo hotel. Sempre a postos atrás do balcão, é nascido em Cannes e tem dicas de todo tipo. Fellini e De Niro gostavam de papear com o presidente da organização internacional de concierges, criada para trocar preciosos segredos para mimar hóspedes exigentes. Localizado no famoso Boulevard de la Croisette, de frente para a praia, bem ao lado do palácio dos festivais e próximo ao comércio de luxo, o hotel se estende até a praia, com lounge na areia, píer com esportes náuticos, serviços e um restaurante delicioso na brisa do mar, onde são servidas criações leves e frescas.
Há várias outras opções de hotéis de luxo por ali, de frente para a praia. Este é o mais tradicional e o mais frequentado pelos grandes astros. Uma opção mais acessível, também com muito conforto, é o Le Gray d’Albion, na agitada Rue d’Antibes, cheia de restaurantes despojados e lojinhas diferentes. Ou o nosso Airbnb, que tem mais de 300 opções de apartamentos para você se sentir um local.
Não tem como comer mal em Cannes. Mas vale a pena explorar a alta gastronomia da região, fresca e farta o ano todo. Os restaurantes dos hotéis são preciosistas. O Le Park 45 e o La Palme D’Or carregam estrelas Michelin. O café da manhã servido no Le Fouquet é de longe o melhor entre todos os hotéis de luxo (sim: testamos todos), a começar pela farta quantidade de queijos especiais de toda a França. Os ovos, sempre perfeitos, preparados na hora, do seu jeito. Iogurte natural como só existe na Europa, pães e frutas fresquinhos de todo tipo e – porque não? – champagne logo cedo. Tudo isso ao lado da piscina. No almoço e no jantar, o restaurante apresenta a cozinha de brasserie do consagrado irmão parisiense adaptada ao gosto do Sul da França, em menu criado pelo Chef Pierre Gagnaire e apresentado pelo Chef Brice Morvent. Mais despojado, o Petite Maison de Nicole usa ingredientes frescos locais em coloridas criações provençais. As montanhas do entorno de Cannes escondem cidadelas medievais muradas com grandes surpresas gastronômicas e algumas estrelas Michelin. A melhor dica é se perder por ali com um carro alugado, talvez pegando as dicas de um bom concierge.
Não vá embora sem passar pelo spa Clarins do hotel. As massagens são de fazer levitar. Mãos precisas e delicadas espalhando generosas quantidades de produtos mágicos pelo seu corpo. Você merece. Pronto: pode voltar para casa sabendo o que é ser celebridade.
*Lillian Vidigal não é jornalista, embora adore se embrenhar em aventuras para depois contar a história. Está à frente da Lift Branding & Design desde 2001 e, quando algum assunto a interessa, banca a “enviada especial”. Escreveu um Guia de Nova York e matérias de capa da Revista Viagem & Turismo, foi colunista de vinhos da Revista Alfa e fez matérias gastronômicas internacionais para o Estadão. Foi indicada para o Prêmio Abril de Jornalismo com uma matéria sobre caça e sustentabilidade no Zimbábue.
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