Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Qual será o futuro da música, de shows ao vivo e festivais, em um mundo pós-quarentena? Ninguém sabe, mas os movimentos da cultura, em plena quarentena, indicam alguns caminhos.
Enquanto as lives tomaram conta do mundo, produtores e promotores buscam novos formatos para dar conta do mundo durante e pós-pandemia a curto prazo. Parece cedo demais para pensar em “entretenimento”, mas é justamente ele, ao lado do turismo, um dos segmentos mais prejudicados pelo coronavírus.
Já são cerca de mil casas de shows nos Estados Unidos que não vão abrir suas portas quando o mundo começar a ir além da janela de casa. Escrevi um textão justamente para refletir sobre o futuro da música ao vivo. Serão as lives? Será nos games? Será drive-in concert? Enfim, para onde este mercado está indo?
A resposta ninguém tem. Mas é possível que o game online venha a ser uma de suas arenas, depois do estrondoso sucesso da turnê Astronomical, do Travis Scott, feita no Fortnite. Foram 5 shows em 3 dias, com quase 28 milhões de usuários únicos (fora os que assistiram em gravações via Youtube e Twitch). A música inédita ‘THE SCOTTS‘, produzida em parceria com o Kid Cudi, foi lançada tocou quase 100 milhões de vezes no Spotify desde seu lançamento há menos de 2 semanas. Está em 1º lugar no “The Hot 100”, da Billboard.
A Sony Music não demorou a anunciar vagas para construir um novo time para re-imaginar a música em universos imersivos como o de games.
Festivais, como Primavera Sound e Sónar, que ainda resistiam em manter as datas da edição 2020 já postergaram para 2021. Já a Suécia (que está tendo uma quarentena controversa mundo afora) e a Finlândia ainda mantêm seus festivais Way Out West e Flow Festival (cancelado) na agenda de agosto 2020. A Dinamarca e a Noruega foram mais pé no chão e já adiaram seus grandiosos festivais Roskilde e Øya para 2021. O Coachella também mantém seus dois finais de semana de festival em outubro 2020.
Na Dinamarca rolou show em drive-in. O cantor dinamarquês Mads Langer vendeu 500 ingressos em minutos para um concerto nos arredores de Aarhus. O público foi em torno de 2.000 pessoas (contando 4 pessoas por carro). As músicas tocadas foram transmitidas via rádio FM e o público pode interagir com o músico via Zoom ou colocando os braços pra fora do carro em alguns momentos.
A Alemanha também abrigou uma rave num drive-in promovida pelo Index, um dos maiores clubs do país que fica na cidade Schüttorf. A festa Autodisco reuniu 250 carros também com a música sendo transmitida por uma rádio FM. Deu tão certo que o evento já está programado para três datas neste próximo fim de semana.
Na Lituânia também tem acontecido concertos feitos dos jardins dos prédios para que as pessoas possam assistir de suas varandas e/ou janelas.
Aqui no Brasil, já anunciaram que o estádio Allianz Parque (SP) está sendo adaptado para receber cinemas drive-in. No Rio, o mesmo tipo de evento vai acontecer na Jeunesse Arena. Quem sabe além dos filmes, não comecem a rolar também por aqui shows dentro do carro?
A cidade de Fort Smith, no estado de Arkansas, abrigará o primeiro show ao vivo nos Estados Unidos após a pandemia. O show de Travis McCready, previsto para 15 de maio, acontecerá num teatro com capacidade para 1.000 pessoas, mas para um público limitado de 229 pessoas para atender todo o protocolo de distância. Além disso, serão tomadas todas as precauções, incluindo medir a temperatura do público antes da entrada na casa. Os ingressos foram vendidos em pequenos lotes de 2 a 12, sempre em par, para garantir que estejam próximas apenas as pessoas com quem as demais estão passando a quarentena. Parece-me um pouco precipitada a iniciativa e o governo também deixou claro que os promotores não estão seguindo as instruções locais. Mas vamos ver se o show irá acontecer mesmo.
A Coréia do Sul chegou a reabrir clubs, mas o surgimento de novos casos de infectados pelo coronavírus relacionados à reabertura fez o governo fechá-los novamente. A China também liberou a reabertura dos nightclubs desde o final de março. O Resident Advisor fez essa lista do plano da retomada dos clubs e festivais ao redor do mundo.
É difícil prever o futuro dos shows ao vivo e festas neste momento, mas elas continuarão existindo, assim como os festivais. Provavelmente voltem com diversas mudanças, especialmente enquanto não houver vacina para a Covid-19 disponível. Ou seja, é provável que os eventos encolham de tamanho consideravelmente neste período e se remodelem para o futuro, inclusive para acontecerem de forma mais sustentável.
Live streaming está aí rolando faz tempo, com 25 anos de história. Diversos festivais já criaram sua edição online pra quem quer curti-los apenas do sofá, incluindo formatos mais imersivos. Esse artigo de 2018 já questionava se o futuro dos festivais de música seria a internet. Mas o futuro, que chegou a galope, mostra que não é só nela. O futuro será lá fora de novo, seja num estádio, numa casa de shows ou num drive-in. O presente abriu possibilidades incríveis para que a música se torne ainda mais acessível e para que fãs se conectem de um jeito mais real com seus ídolos. A minha aposta é que as lives continuarão existindo, talvez como um novo tipo de meet & greet direto do sofá de casa; o número de festivais e shows aumentarão nos games online. As plataformas sociais têm investido em novas ferramentas para viabilizar transmissões de shows ao vivo, incluindo para possibilitar que as lives sejam pagas, afinal os artistas também têm boleto pra pagar.
Destaco aqui alguns eventos em relação às lives diárias (e ótimas) que podem acrescentar algo diferente no formato:
Além dos sites especializados em música, eu tenho também consultado o Bandsintown, DiceTV, Live Nation e os eventos no próprio Facebook pra saber as lives que vão rolar.
*Foto destaque: Heshan Perera – Unsplash
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.