Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
O meu post sobre o Sónar Barcelona está atrasado, assim como foi a edição 2019 que rolou um mês depois da data habitual. Ainda assim, foram 105 mil pessoas nos três dias de festival com 48% formado por público internacional. Só a minha turma tinha uns 15 brasileiros. O line-up trouxe uma diversidade real. Estava praticamente todo mundo representado por lá, o que ainda é raro ver na maioria dos festivais de música.
Enquanto a programação diurna foi marcada pela presença feminina nos palcos, a noite contou com artistas masculinos dominando a lista de headliners.
Divagando com amigos sobre esta edição, concluímos que o estilo musical em alta no momento, especialmente o reaggaton na Espanha, atinge um novo público que o Sónar está começando a formar. Você percebe que envelheceu quando não conhece mais da metade do line-up, especialmente os headliners, e também não se identifica com boa parte da programação. Isso não quer dizer que em algum momento houve um gap no line-up e não sobrou opção para você curtir. Ao contrário, com tantos palcos e um lista tão extensa de artistas, é possível encontrar seu lugar ao sol, ops, na pista.
O palco principal diurno, o SonarVillage, dá cada vez mais espaço à essa nova música urbana. Ao longo das três tardes ensolaradas eu fugi dele apavorada para voltar somente no fim do dia quando os decibéis baixavam e a música ficava menos barulhenta. O pop, r&b, reggaeton, hip-hop e a música eletrônica bate-cabelo dominou bastante sua programação. Alvva, Bad Gyal e Lyzza, arrastaram uma multidão jovem para dançar esses ritmos contemporâneos. Quando o sol finalmente baixava, nomes como Ross From Friends, Daphni, Artwork, Maya Jane Coles, Red Axes, Erol Alkan promoviam uma mudança perceptível de público e também de estilo musical. Pena que nos três dias só uma mulher, a Maya Jane Coles, esteve presente na lista dos artistas que fecharam o SonarVillage.
A música latino-americana também tomou conta de momentos concorridos do festival. O porto-riquenho Bad Bunny fez, provavelmente, o show mais cheio do Sónar Night. Eu nunca tinha ouvido falar dele.
Um dos palcos mais novos do festival, o SonarXS, tem apresentado a cada ano um excelente recorte da “nova música” com artistas novos de diversos cantos de planeta. Boa parte dos shows aqui tem uma música difícil de caber em rótulos. É você assistindo novos ritmos nascendo.
Para quem, como eu, gosta de shows aliados a performances visuais, o SonarHall foi puro deleite. No ano passado o destaque foi a Rosalía, ainda desconhecida na época, que arrebatou uma multidão que não coube no palco deixando metade do público para fora. Este ano o grande destaque foi o Nicola Cruz que fez um show envolvente onde ninguém arredou os pés da pista enquanto ele tocou seu último trabalho Siku. Foi uma lavada de alma. Mostrou que o downtempo ganhou o mundo e o francês que trocou a França pelo Equador, alcançou o grande público. O venezuelano Arca também levou uma multidão para curtir seu som pop futurista difícil de classificar.
Kelly Moran fez um live belíssimo e emocionante com seu piano no conforto do SonarComplex, o palco mais refrigerado e experimental do festival, onde os shows são assistidos sentados. Foi nele que eu vi um dos shows que mais gostei, da Káryyn, artista baseada em LA de família da Síria. Fez um show hipnótico com boas pitadas de trip-hop. É o palco onde me conecto com o Sónar e prefiro ter a música experimental como minha música do futuro.
O crescimento da presença de artistas africanos que explodiu no Sónar em 2018 (Diplo foi o embaixador desse rolê no ano passado) continuou em 2019 a todo vapor espalhando artistas do continente em vários palcos do festival. Foi lindo descobrir artistas como FAKA, Sho Madjozi e Hibotpe. Mas quem realmente arrebatou meu coração e ouvidos foi a tunisiana Deena Abdelwahed. Ela fez um live arrebatador no SonarNight para um público pequeno, cheio de referências árabes misturadas a potentes beats eletrônicos. Foi meu show favorito de todo o festival. É justamente esse tipo de surpresa que faz eu voltar anualmente ao Sónar. Sempre vai ter alguém que você nunca ouviu falar que vai te fascinar.
Foi difícil não se render a um dos sets mais deliciosos do festival com o trio Body & Soul. Eles armaram uma discoteca cheia de clássicos disco & house dando uma aula de seis horas no SonarCar, palco que só recebe long sets. Dali foi difícil sair. O festival se encerrou no sábado com uma grande festa comandada pela dupla Louie Vega & Honey Dijon colocando o público para dançar até o sol raiar. Nela o público velho e o novo se misturaram numa catarse coletiva ao som de “I feel love”, de Donna Summer. Nesse momento quem venceu mesmo foi a música do passado.
O próximo Sónar Barcelona será de 18 a 20 de junho de 2020. Para quem quiser curtir uma edição ainda em 2019, no México rola no dia 05 de outubro; Atenas, em 11 e 12 de outubro, e Buenos Aires, em 10 de novembro. Para 2020 já tem confirmadas as edições em Istambul, em março, e em Hong Kong, em abril.
*Foto destaque: ARCA no Sonar Barcelona / Divulgação
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
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