Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
A grande discussão em torno do Coachella é que ele não é mais um festival sobre música. Eu, mesmo sem nunca ter colocado os pés no festival anteriormente, afirmo isso há algum tempo (pura pretensão a minha). Uma pessoa comentou num grupo que participo no Facebook: “eu não sabia que tinha música no Coachella, achei que era festival de moda”. E ela estava sendo sincera, não era uma ironia.
Mas então, afinal, o Coachella é sobre o quê?
Demorei para encará-lo, o que eu lamento um bocado. Mas finalmente fui lá entender melhor do que ele se trata. Estive no último Coachella, no segundo fim de semana, com a expectativa nas alturas depois da Beyoncé fazer um show mostrando que ela é maior do que ele. E é mesmo! Mas ainda assim, o Coachella é gigante!
O festival, que fatura mais de 110 milhões por ano, é impecável. Tudo funciona perfeitamente bem. É grande, mas dá para andar de um lado para o outro sem tanto drama. Filas só para a roda gigante – que é paga e só aceita dinheiro – e para entrar nas ativações de marcas e nas instalações de artes. Os banheiros estavam geralmente limpos e tranquilos, muitas opções de comida, água de graça, postos para recarga de celular em todas as áreas de alimentação sem precisar esperar por uma tomada.
A música está presente em sete palcos, do meio-dia à 1h45 da manhã. Em 2018, o pop, r&b e hip-hop lideraram. A notícia boa é que no Coachella o futuro do rap é feminino. Quem, como eu, não é tão adepto do pop, não precisa se preocupar, pois há bons palcos dedicados à música eletrônica. Tive grandes surpresas no caminho, e muitas vezes fiquei dividida entre bons shows que aconteciam ao mesmo tempo.
O primeiro show que vi, um dos mais entusiasmados que presenciei, foi com os mexicanos Los Ángeles Azules, banda de cumbia em atividade desde 1983. Foi emocionante e um bom jeito de começar a minha experiência por lá. Descobri também os franceses The Blaze, que provavelmente já tinha ouvido, mas foi ao vivo que prestei atenção. As projeções e a cenografia criada no palco resultam em videoclipes feitos ao vivo. O encerramento foi um dos mais geniais que já vi na vida (eles desaparecem do palco que vira uma tela branca com ficha técnica como em fim de filmes).
Vi um montão de gente bacana que eu não conhecia, mas esses dois primeiros levaram o troféu “descobertas do ano”. O show da St. Vincent trouxe uma Annie muito mais sedutora, provocativa e sexy. Os vídeos projetados atrás do palco, todos protagonizados por ela, eram irônicos, divertidos e surreais (no sentido literal da palavra). Já David Byrne, de quem tanto ouvi falar após os shows que fez no Brasil, também me seduziu com seus hits num show animado, leve e com direito ao belo pôr-do-s0l do deserto. Foi um dos momentos mais alto astral que tive no Coachella. Rever o Soulwax depois de dois anos foi uma boa surpresa. A banda que, desde 2016 conta com a dupla brasileira Iggor Cavalera & Laima Leyton, está mais madura com sua nova formação, agora com três bateristas (é realmente insano ao vivo). O show está ainda mais empolgante e a cenografia mais bonita. O sul-africano Black Coffee foi outro que ganhou meus ouvidos (atenção: ele toca no Sónar!). O DJ e produtor está na ativa desde 1995 e deu um show e tanto de música eletrônica.
Outro momento divertido foi ter sido convidada para dançar com o Niles Rodgers & Chic no palco. Foi uma experiência única! Ver o Coachella de cima do palco principal é inexplicável. Uma festa e tanto no meio de uma tarde ensolarada com o termômetro batendo quase nos 40ºC. Encontrar a Sudan Archives, uma das artistas mais incríveis que conheci esse ano, e bater um papo com ela sobre os (três) shows dela que vi, foi emocionante. Ela, que tocou bem no comecinho do dia, pareceu surpresa com a minha tietagem e quase me desconcertou com tanta simpatia. Só digo uma coisa: se ainda não ouviu essa mulher fantástica, corra e ouça já!
O palco Do LAB é para ficar de olho. O coletivo faz uma curadoria impecável e apresenta sempre atrações surpresa sem pré-anunciar. Este ano, algumas das surpresas foram Bonobo, Bedouin, TOKiMONSTA e até b2b da Black Madonna com o Jackmaster.
O corre-corre para ver a Beyoncé, o show mais esperado do festival, não foi fácil. Mesmo estando na área VIP (a ingrata que fica ali na frente de todo mundo, mas já que estava lá, fiquei) foi um exercício de paciência. Lembrando que não rola tomar cerveja ou drinks alcóolicos nas áreas abertas (nem na VIP, o que é justo). Mas quando a Queen B entrou, o coração tremeu. Todo mundo se apertou e eu quase não vi mais nada! Não demorou para eu desistir e ir assisti-la da área de alimentação VIP (sim, tem também área de alimentação VIP). Para a minha surpresa a área tinha uma vista super privilegiada do palco, mesmo não estando no gogó, e eu ainda pude assistir o show tomando uma cerveja.
A arte está presente no Coachella desde o início, mas nos últimos anos tem ganhado cada vez mais espaço, tanto físico quanto no tamanho do line-up. Este ano foram convidados onze artistas e/ou coletivos para criarem instalações de arte para o festival. A maioria eram instalações em grande escala. O palco Do LAB entra nessa categoria. O coletivo homônimo criou uma instalação em formato de palco, já bem conhecido pelos frequentadores do festival.
Apesar da roda gigante ser um dos cartões postais e um dos lugares mais fotografados do Coachella, afinal ela é instalada estrategicamente na direção do por do sol, foram as instalações de arte que dominaram o Instagram em 2018. Este ano as mais fotografadas foram a Supernova, dos artistas Robert Bahr e Rosario Marquardt; a Spectra (a mais linda e a mais concorrida), do coletivo Newsubstance; a Etherea, de Edoardo Tresoldi e, por fim, Palm-3 World Station, de Simón Vega.
Além da música, das instalações de arte, da moda, das ativações de marcas, o Coachella oferece também uma grande experiência gastronômica. São mais de cem “barracas” diferentes espalhadas entre áreas gerais e áreas VIP. Os preços da comida variam entre 9 e 20 dólares, enquanto a cerveja (Heineken) custa 11 dólares – uma facada para quem ganha em reais. Há também bar de cervejas artesanais, coquetéis, prosecco, vinhos, sucos, smoothies, sorvetes, limonadas… tem tudo. Para quem tinha acesso à área VIP, foi possível agendar uma mesa via Open Table (bela ativação) em um dos três restaurantes pop up, todos eles badalados, incluindo opção vegana, para ter uma refeição decente e sem presa.
Para quem ama uma experiência gastronômica, o Coachella oferece um jantar a céu aberto com um menu de quatro tempos preparado por renomados chefs (cada dia é apresentado por um chef diferente). A harmonização é feita com vinhos. Você provavelmente pensou: quem vai parar tudo no festival para um jantar que exige tempo em plena 6 horas da tarde? Pois bem, o pacote, mesmo custando 225 dólares por pessoa estava esgotado.
Qualquer frequentador do Coachella possivelmente sonha em ficar no Safari Tent, o camping (ops, glamping) mais chique do festival, posicionado estrategicamente na área atrás dos palcos. Mas é para poucos, pois o pacote custa 8.500 dólares para duas pessoas, já incluindo os ingresssos vip.
A minha tenda tinha duas camas queen size de verdade com travesseiros fofos, edredon, ar-condicionado, espelho grande e frigobar. A maioria das pessoas leva piscina inflável para curtir as manhãs se refrescando dentro d’água. O Safari Tent conta ainda com um grande lounge, onde é servido o café da manhã e jantar, mas também onde muita gente busca se refrescar durante o início da tarde enquanto toma um drink antes de ir para o festival. O café da manhã é bem caprichado. Tem omelete e ovos preparados na hora de acordo com sua preferência, mimosa, smoothies e mais um monte de coisa (café da manhã bem americano). As refeições estão incluídas no pacote.
A maior comodidade do Safari Tent é ter um carrinho de golfe à disposição para nos levar para qualquer um dos palcos do festival e trazer de volta. Eu praticamente não esperei mais de três minutos por um. A entrada pelo palco principal se dá pelo backstage, onde ficam os camarins e um grande lounge para relaxar. Ou seja, ainda há chance de encontrar uma ou outra celebridade por ali.
A resposta é simples. O Coachella é um festival de experiências, e música é apenas uma delas. É possível passar o dia todo visitando lounges e as instalações de arte, ver pessoas (eu adoro assisti-las), experimentando as diversas ativações de marcas ou mesmo tentar a sorte de andar na roda gigante e, claro, assistindo aos shows.
Eu fui ao Coachella à convite do Visit California, a quem eu agradeço imensamente por finalmente ter conhecido um dos maiores festivais do mundo. Agradeço também a Easysim4fyou por me manter conectada durante toda a viagem. A bagagem voltou cheia de aprendizados e novas amizades.
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsNão entendi direito. Não pode beber na área dos shows?
Oi Renata, pode beber qualquer coisa na área aberta desde que não seja alcóolico. :)
Mais por curiosidade sobre o seu ponto de vista, você também teve a sensação que essa coisa de Visual Montado para o Festival é mais dessas blogueiras/famosos e pessoal que ganha p ficar divulgando marca?
Em 2014 eu fui no Festival no primeiro fds, não sei como está agora em relação a isso, mas sinceramente quase não vi esse pessoal montado, eu vi pessoas vestidas a vontade para se divertir e curtir o Festival e sobre isso foi a sensação mais incrível que eu tive. (até pq né, não há estilo montado que sobreviva aquela tempestade de areia)
Aí eu tenho a sensação que passa uma imagem bem errada do festival, as pessoas acham que é um Festival de Moda como você comentou.
Uma vez comentei com uma colega que eu já tinha ido, e ela ficou sabendo a pouco tempo sobre o Coachella, e então ela começou a me perguntar sobre isso como se fosse obrigação ir montado…
Sobre o pessoal ir para curtir o Festival no geral/experiência e não especialmente para ver os shows, isso sim realmente é o Festival e é sensacional!!!
Oi Débora. Eu fui no segundo fim de semana que, pelo que eu li, é o que tem menos “influencers” e “celebridades”, que lotam o primeiro finde. Li até matérias afirmando que quem se importa com a música, o segundo finde é melhor. E concordo com você. Vi muito menos pessoas montadas do que imaginei que veria… o que eu acho é que o Coachella tem um estilo bem particular de moda (totalmente boho), mas vi também gente cheio de paetê, brilhos, e afins… porém, o Coachella é um dos festivais em que os influencers encontraram um ótimo destino para rentabilizarem vendendo looks (tem meninas que vão, vendem um look por dia para marcas diferentes, vendem o look também para as cidades que vão passar, como LA e Palm Spring, e é isso… vão, fazem as fotos e acabou). Acho até compreensível, porque o Coachella é visualmente lindo, é no deserto, tem pôr-do-sol atrás de roda gigante e palmeiras, proporciona várias experiências ótimas para serem fotografadas… mas gera um bodinho de quem assiste de longe acreditando que música está em terceiro plano e, no fim das contas, não está.
Renata, não pode beber alcoólicos mas areas abertas. O restante pode. Vou reler o post e corrigir.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.