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#VaiTajapós: a melhor festa de ano novo de Alter do Chão

Quem escreveu

Vanessa Mathias

Data

23 de January, 2018

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Amo festa de revéillon. Essa história de recortar o tempo e começar tudo de novo sempre me pareceu genial. Um bobo ritual da cor da calcinha é se conectar com suas intenções – mesmo que nelas tenham um monte de repetentes de ano. Quem é, afinal, que realmente perdeu aqueles oito quilos?

Curiosamente esse clima de reconexão com minhas intenções, perdidas na correria do dia a dia, é que eu tive desde a primeira vez que visitei a Amazônia. Juntar a época, o espírito, com meu lugar favorito, não tive dúvidas. Meu destino foi a festa Vai Tapajós, em Alter do Chão, no Pará. Então antes de qualquer coisa, vamos colocar a trilha sonora perfeita para continuar esse post:

Estava com amigos que pousavam pela primeira vez no Caribe Amazônico, e reconheci nos olhinhos o mesmo sentimento que tive alguns anos atrás: uma mistura de êxtase com “como não conhecia isso antes”? Aquela areia branquinha, num rio de proporções oceânicas, árvores que fazem eucaliptos parecerem arbustos, aquecidos pelo tremor do jambu. Entrar nos igapós e igarapés e dar de encontro com as tradicionais comunidades ribeirinhas, sempre com aquele sorriso na cara de quem nunca viu um inverno, cativa esse nosso coração semi-forasteiro.

Pôr do Sol no Tapajós. Foto: Lucas Kappaz

E certamente foram envenenados com esse mesmo fascínio que os meninos do Soul Kitchen – Pernet, Rodrigo  e Guilherme – tiveram uma pira muito louca, e resolveram  transformar  em realidade.

Pernet e Lele, imperador e imperatriz do Tapajós. Foto: Bruno Erlan

Assim eles resolveram trazer seus amigos, e amigos de amigos, para o vértice oposto do país. Experimentar um pouco da comida que deixa com água na boca, rebolar um pouco com o balanço do Carimbó, e compartilhar sorrisos com pessoas que fazem querer amar. Na palavra dos mesmos. É notório o amor dedicado a criar a festa perfeita. Não à toa os pacotes que ocuparam boa parte da zona hoteleira (ou poderíamos dizer, zona pousadística) da vila acabaram alguns meses antes. Ao todo foram três festas. A primeira, no pôr-do-sol, perto da vila, se alcançava com um barquinho em poucos minutos.

Chegando na festa. Foto: Vanessa Mathias

Uma das minhas principais preocupações era como a festa poderia se unir a um cenário tão bucólico sem interromper o funcionamento da vila.

Estrutura. Foto Bruno Erlan

Mas eles pensaram nisso antes: tudo feito com materiais naturais, folhas trançadas, comidas na cuia, respeitavam as tradições e o espaço onde estava inserido. Até eles ganharam um prêmio da prefeitura por colaborar com o turismo.

Comida Tapajônica. Foto Bruno Erlan

Minha primeira surpresa foi a qualidade da comida. Não esperava menos de uma organização que tem a gastronomia no DNA, mas o risoto de Santarém e a pescalhoada estavam de comer chorando.

A festa começou com as idiossincrasias indietrônicas do Lumen Craft.

Lumen Craft. Foto: Lucas Kappaz

A festa foi animada também por Kiko Costato, Giu Viscardi e encerrou com os lindos da Gop Tun.  A festa estava em peso na pista.

Foto panorâmica, Bruno Erlan

O melhor é a mistura entre natureza e festas: ter os dias para curar a ressaca nas águas morninhas, ou suando em uma trilha, para logo se preparar para próxima.

Um dos passeios de barco, na Ponta do Cururu. Foto: Vanessa Mathias

A segunda festa. Ahhhhh a segunda festa. Unanimemente a melhor das três. Ficava a 1,5h de viagem, o que seria ruim se você não estivesse em uma balsa-balada: os DJs e cervejas tijuquinhas davam o tom do aquece que permaneceria o dia inteiro. Todos a bordo, som na caixa!

Barco-balada. Foto: Lucas Kappaz

Nada melhor para fazer amigos que uma pista quadrada flutuante, só as garças e sumaúmas de testemunha. Chegamos à Casa do Saulo, o chef local por trás da logística do festival. Ele é reconhecido por ser o maior expoente da tal comida tapajônica – e da linda piracaia (peixe feito na brasa) com acompanhamentos locais que pareciam nunca ter fim. Pausa para palmas para o Saulo!

Foto Bruno Erlan

É nessa praia da foto que fica seu restaurante. Durante o dia foi som, bar, comidinhas, e praticamente quatrocentas pessoas que se recusavam a sair da água.

A galera em peso na água. Foto: Lucas Kappaz

O sol, o álcool e o som levinhos e na medida certa só lubrificaram uma tarde com amigos que você parecia conhecer a vida inteira.

Fotos: Luca Kappaz

E quando você achava que estava bom: um picolé de frutas locais para todo mundo. “Então eles colocaram uma canoa cheia de cerveja para navegar no rio… e nessa hora eu pensei “esses caras tão levando a sério impressionar a gente”- sabiamente disse Gabriel Barros, uma dessas amizades que brotou da floresta.

Essa festa foi só amor. Foto: Lucas Kappaz

Daí você acha que acabou, certo? Não: o pôr-do-sol vem com um início de pista com som delicioso começando com carimbó, passando para Selvagem.

A pista em fervo e…. Piii! Hora de embora. E quem disse que a galera queria ir?

Volta da Balsa. Foto: Lucas Kappaz

Se tem que ir embora da festa, melhor levar a festa com você. O momento mais catártico de todas as festas foi a tal “Volta da Balsa”. Estavam todos na mesma vibe, achando que o mundo ia acabar no dia seguinte e aquela era a última festa na vida.

Volta da balsa. Foto: Lucas Kappaz

Vou deixar as fotos e esse vídeo – que é amador mas vocês tem que perdoar as condições dos cinegrafistas.

Vídeo: neto.neto

Na pequena vila no dia 30, reza a lenda que a aspirina acabou na farmácia –  porque a paulistanada não aprendeu que ressaca se cura com tacacá. Foi dia de deitar na praia e ver a garça passar.

Quem se movimentava no dia 30. Foto: Lucas Kappaz

A festa do dia 31 foi impecável. Cheio de pessoas vestidas com esperança no rosto. A passagem de ano marcou o começo da noite:

A névoa com uma luz roxa cuidosamente posicionada trouxe uma aurora boreal amazônica. A galera concordou: “Festejar em um lugar que transpira essa transição de ciclos foi especial” – Gabi Leite, a loirinha fofa e sorridente que logo virou amiga.

A festa estava ótima, mas acho que lá pelas cinco da manhã entrei em um transe só meu toda de vestido branco na água, em que a festa e o som era apenas o cenário para uma visão mais profunda.  Sem dúvida para mim 2017 foi um ano especial e de completa mudança de ciclos. Atravessar esse portal em um dos locais que eu mais me sinto conectada foi uma experiência transcendental.

O nascer do sol veio com todas as novas energias do tempo que deu um reboot. Nesse lugar onde a natureza é tão majestosamente óbvia, nos colocamos no nosso lugar como pequena parte de um grande ciclo – só agradecendo pelas energia revigorada do Tapajós  que veio, e logo foi.

Agradecimentos ao Soul Kitchen, e ao Lucas Kappaz, que tirou fotos lindas. Vale olhar o site dele!

*Foto destaque: Vista panorâmica por Bruno Erlan

Quem escreveu

Vanessa Mathias

Data

23 de January, 2018

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Vanessa Mathias

Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.

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Comentários

  • Além dos aspectos citados pelo Roberto Vietri, Santarém/Alter do Chão sofrem também de um problema crônico nas cidades da Amazônia: o deficiente e, às vezes, até mesmo inexistente saneamento básico (especificamente limpeza urbana e coleta e tratamento de esgoto). Santarém tornou-se uma imensa latrina a céu aberto, esgotos proliferam-se até mesmo pelo centro da cidade, sem falar que o rio Tapajós, na orla, tornou-se pura vala de esgoto. Na vila de Alter do Chão a situação não é muito diferente. A coleta de lixo é precária e, ao contrário do que falam, suponho que algumas redes de esgoto (residencial e comercial) já estão expelindo dejetos no rio em frente à vila. Ninguém por lá suporta tocar nesse assunto, mesmo porque o cérebro já se acostumou com uma paisagem de imundície urbana generalizada e também porque a vila vive do turismo, sendo que uma notícia desse tipo poderia vir a refrear o fluxo turístico. Comerciantes, moradores, profissionais de turismo etc sentem-se agredidos quando alguém toca no assunto, mas o problema existe. Então, parafraseando e copiando o Roberto Vietri, penso também que na grande virada do ano, época de mudanças, tanto externas quanto internas, seria um bom momento para a reflexão e para um começo de conscientização, transformando o “delírio lúdico” do réveillon no meio da selva em um grande gesto não somente político, mas também social.

    - Jeferson Tapajós
  • Foi mais mágica ainda por ter vc ao lado nessa viagem e lugar tão especiais!

    Parabéns pela matéria, estou aqui emocionado com todo o seu relato que não poderia ter sido mais verdadeiro e nostálgico.

    Parabéns para os meninos da festa e para a comunidade de Alter que deu um show na recepção!

    - Bruno Höera
  • Alter do Chão, a exemplo de tantas regiões da Amazônia, principalmente no Pará, sofre com o risco vindo de mineração, projetos de hidrelétricas, fronteira da soja etc. É um lugar muito bonito, mas cheio de questões complexas também. Os amantes de Alter do Chão, como eu, torcem para que festas e celebrações sejam também acompanhadas da conscientização sobre esse tipo de risco que envolve toda a Amazônia, de alguma maneira transformando um pouco desse devaneio todo em gesto político e pé na realidade.

    - Roberto Vietri
    • Você tem toda razão, aliás, seria muito legal um post só sobre isso. Você tem mais informações? Tenho um conhecido que faz muito tours sobre esse aspecto por lá. Seria muito legal ter algo seu no blog, ou fazermos juntos :)

      - Vanessa
      • Claro, com o maior prazer! Me dá um alô por favor no [email protected] e falamos melhor :)

        - Roberto Vietri

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