Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Festival de música é uma junção de coisas e experiências que vão muito além da própria música. A locação é um item importante. Aliás, sempre foi. Muitas vezes é ela quem faz nos mover de um canto do planeta para outro. Quem nunca escolheu um festival primeiro pelo lugar em que ele acontece para só depois conferir o line-up? Eu visitei o Into the Valley em 2016 justamente por esse motivo. As fotos e a história do lugar me deixaram obcecada o suficiente para querer ir para o meio do mato na Suécia ver qual era a de Dalhalla, o lugar onde ele acontecia. Essa foi a minha primeira experiência em que o lugar superou a música, a organização, a experiência toda. Foi lá que percebi o óbvio: só a locação de cair o queixo não segura um festival, mas pode ajudar a transformá-lo numa experiência única.
Com a profusão de festivais de música nos últimos anos (nunca nasceu e morreu tanto festival no mundo) e a busca por diferenciá-los entre tantas opções, os produtores precisam rebolar cada vez mais para proporcionar essas experiências inesquecíveis, fazendo quem vai querer voltar e ainda levar os amigos. A lista de festivais com locações como uma das estrelas do line-up não é pequena, mas selecionei alguns (que eu queria ir) para compartilhar, todos com edições que ainda acontecem em 2017.
O Berlin Atonal já bate na nossa porta com a próxima edição rolando na semana que vem. A locação não é inédita e nem utilizada somente pelo festival. Porém o Atonal soube como se apropriar do Kraftwerk Berlin, uma usina elétrica construída no início dos anos 1960 e abandonada em 1997, como ninguém. Dimitri Hegemann recuperou o espaço em 2006 para abrir um dos clubes de techno mais emblemáticos do mundo, o Tresor. Não tardou para ressuscitar seu finado “Atonal” e levá-lo também para lá. Impossível não entrar no festival, deixar o queixo cair com os olhos arregalados e falar sobre o local por horas enquanto o show não começa. Caso não dê tempo de participar desta edição, em 29 de setembro acontece o novo festival Parallax, filhote do Atonal, em que produtores de música eletrônica são convidados a reinterpretar obras da música clássica. O local é o mesmo e duvido que a produção decepcione.
Quando: 16 a 20 de agosto, no Kraftwerk, Berlim, Alemanha
Estilo: Música eletrônica experimental
Highlight: Shackleton, Wolf Eyes, Regis, Hypnobeat (Helena Hauff + James Dean Brown), Varg, entre outros.
O Selectors, festival da turma do Dekmantel, criou uma fórmula que não tem erro: festival numa praia paradisíaca na costa litorânea da Croácia, onde a areia branca é coberta pelo mar azul e translúcido do Adriático, regado à música eletrônica de bom gosto. Foi nesse pequeno paraíso que nasceu o The Garden Resort Tisno. Criado inicialmente como campo de férias para os militares croatas, hoje ele abriga com louvor (e calor) festas e festivais dedicados ao house e disco music. Além das tendas com o pé na areia, os produtores do Selectors, que não são bobos nem nada, criaram também festas em barcos para explorar ainda mais a beleza da região. Mais uma notícia boa? Festival intimista para apenas 1.500 pessoas.
Quando: 24 a 28 de agosto (ingressos esgotados), Tisno, Croácia
Estilo: Música eletrônica
Highlight: Moto City Drum Ensemble, Baris K, Antal, Hunee, Objekt, Nobu, entre outros (incluindo nossos amigos Gop Tun)
O Tauron Nowa Muzyka nasceu em Katowice, na Polônia, em 2006 dentro de uma mina de carvão. O festival cresceu e hoje ele rola por quatro dias em lugares distintos, todos bem especiais. Quem gosta de locações industriais aliadas a um bom line-up, pode correr que ainda dá tempo de colocá-lo na lista. O objetivo é combinar sons futurísticos a lugares pós-industriais. Espere por minas desativadas, igrejas, museus e até no magnífico Concert Hall do NOSPR (Polish National Radio Symphony Orchestra), que conta com 1.800 assentos.
Quando: 6 a 9 de setembro, Katowice, Polônia
Estilo: indie, música eletrônica, hip-hop.
Highlight: Róisín Murphy, Cat Power, Shackleton, !!!, Palms Trax, The Cinematic Orchestra, Gang Gang Dance.
A locação do Burning Man é o deserto árido no meio do estado norte-americano Nevada. O local já é magnífico sem mesmo nada nele, mas a cidade construída para o festival cria, com certeza, um dos festivais mais esplendorosos do mundo (mal cabem adjetivos aqui de tantos que eles são). Por uma semana, o Black Rock City vira lar de cerca de oitenta mil pessoas que, juntas, constróem cada pedacinho desta cidade tão especial. Só vendo ao vivo para entender. Provavelmente é, também, um dos festivais mais fotografados e falados do mundo.
Quando: 27 agosto a 4 setembro, Black Rock City, Nevada, Estados Unidos.
Estilo: festival transformativo com muita música eletrônica
Highlight: o festival
O Festival Nº 6 praticamente transforma a pequena Portmeirion, no País de Gales, num vilarejo que parece ter saído de um conto de fadas, com praias, florestas, jardins, lagos e castelos, cercados por montanhas. Tudo é bonito por lá. Quem foi garante: é um dos eventos mais especiais do planeta. É um festival butique como ele deve ser. O line-up é tão impecável quanto a produção do festival. É para colocar na lista e não se arrepender. Se ainda quiser, vale caprichar no figurino para entrar no clima de fábula.
Quando: 7 a 10 de setembro, Pormeirion, País de Gales, Reino Unido.
Estilo: indie e rock.
Highglight: Mogwai, Bloc Party, The Flaming Lips e Royal Liverpool Philharmonic Orchestra & The Bootleg Beatles celebranado os 50 anos de Sgt. Pepper
O Horst é o festival perfeito para quem gosta de aliar música e arte no mesmo line-up. O local é um castelo do século 15 em meio a uma floresta na Bélgica, o Van Horst, cercado por um imenso lago. Os seis artistas convidados criam instalações de arte específica que se espalham pela área do castelo, deixando o lugar ainda mais memorável. O tema desta edição é “Spaces & Places”. O desafio é criar intervenções temporárias e permanentes que destaquem os elementos existentes em torno do castelo. O festival conta também com talks focados na discussão sobre a contribuição da cultura jovem no desenvolvimento das cidades. A curadoria musical também é impecável, com nomes bons os suficientes para garantir um fim de semana épico.
Quando: 7 e 9 de setembro, Horst, Bélgica.
Estilo: música eletrônica.
Highlight: Motor City Drum Ensemble, Helena Hauff, Gilles Peterson, Young Marco, Kórnel Kovács, Jay Daniel.
Qualquer festival na Islândia pode entrar numa lista como esta. Com o Iceland Airwaves não poderia ser diferente. O festival rola no fim do outono, quando os dias são curtos e o tempo já não é lá essas coisas, mas ainda assim vale a pena cruzar o oceano. O Iceland Airwaves acontece em uma das casas de concertos mais bonitas do mundo, a Harpa, que tem projeto assinado pelo artista Olafur Eliasson. O festival conta ainda com outros locais espalhados por Reykjavik para shows mais intimistas, como uma igreja construída em 1899. Em 2017, o festival fez troca das cadeiras, adicionando novas casas e saindo de outras, além de subir para o norte do país, na cidade de Akureyri. Dica para quem tiver apenas o Natal livre em 2017 e não puder ir em novembro: o Sigur Rós faz seu próprio festival, entre 26 e 31 de dezembro, também na Harpa.
Quando: 1 a 5 de novembro, Reykjavik e Akureyri, Islândia
Estilo: indie e música eletrônica
Highlight: Fleet Foxes, Ásgeir, Mumford & Sons, Billy Bragg, Sigrid, Michael Kiwanuka e uma lista imensa de artistas islandeses para conhecer.
Os produtores do Into the Valley decidiram investir mesmo em locações inéditas ao redor do mundo, aliadas ao crème de la crème do techno. Cada local escolhido recebeu um nome diferente de acordo com o espaço. A Cidade do Cabo ganhou o Into the Castle, que acontecerá somente em janeiro, no majestoso Castle of Good Hope (ou Castelo da Boa Esperança). O castelo foi construído entre 1666 e 1679, quando a África do Sul ainda era dominada pelos holandeses. Ele tem o formato de um pentágono, que era utilizado na época como símbolo das Forças Armadas da África do Sul. Em 1936 o castelo foi declarado monumento histórico e agora ganha um festival de música para chamar de seu.
Quando: 26 a 28 de janeiro, 2018, Castle of Good Hope, Cidade do Cabo, África do Sul.
Estilo: techno
Highlight: line-up ainda não saiu, mas aguarde pelo peso pesado do techno
Tem mais festivais acontecendo em lugares incríveis? Tem, e tem um monte. Quem quiser começar mesmo a se planejar para delírios visuais em 2018, sugiro pesquisar os festivais Festival Nomade (Chile), Dimensions Festival (Croácia), Wide Open Space (Austrália), Trænafestivalen (Noruega), Meadows in the Mountains (Bulgária), Calvin on the Rocks (França), G! Festival (Faroe Islands), Wilderness Festival (Inglaterra), Envision Festival (Costa Rica), Melt Festival (Alemanha).
*Foto destaque: Festival Number 6 – divulgação festival
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsÓtima pauta. Sem dúvidas os festivais que mais me chamaram a atenção foram os de indie rock, questão de gosto musical. Porém o burning man o mais surreal, que deve ser uma experiência de vida transformadora.
siiim, concordo com vc :)
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