Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
O SXSW é conhecido como o maior festival de inovação do mundo. Interatividade, cinema, música, comédia e gaming são hoje as frentes que o evento abraça. É possível navegar em apenas uma dessas frentes ou fazer todas elas. Tudo depende muito da intenção e prioridades de quem vai. Mas mesmo ele tendo nascido como um festival de música em 1987 para discutir o mercado, a inovação passou a permear a programação e o Interactive foi o que ganhou mais fôlego. O SXSW Film também foi outro que ganhou relevância no mercado de cinema. Os festivais de Comédia e Gaming foram os últimos a chegar e têm conquistado mais espaço a cada ano.
O SXSW é também um grande festival de ativação de marca. Austin, no Texas, vira palco de live marketing para marcas dos mais variados segmentos, selos de música, estúdios, publicações (revistas, blogs, etc), plataformas digitais, países, cidades, etc. A lista é tão extensa que é possível passar os dez dias de evento somente visitando ativações e não conseguir ver tudo.
Esse foi o primeiro ano em que fui ao SXSW focada apenas na programação de música. Deixei o FOMO (medo de ficar de fora de algo) na gaveta e parti para Austin com muito fôlego e curiosidade. A experiência que tive nesta edição 2019 foi totalmente nova, mais leve e divertida.
Diferentemente de outros festivais de música, o SXSW Music não tem headliners e, quando têm, você fica sabendo sobre eles em cima da hora. Muitas vezes uma banda conhecida vai até Austin apenas para tocar numa ativação de marca que não necessariamente dá acesso para quem tem a badge de música (ou qualquer outra badge).
Mas o SXSW Music é um grande festival de música focado em quem tem ouvidos e coração abertos para novidades. É também um ótimo celeiro para quem pesquisa tendências no mercado musical, quer descobrir novos talentos, escreve e/ou estuda o assunto. Vale muito a pena estudar a imensa lista de quase 2 mil artistas convocados antes de embarcar pra Austin. Mesmo sem headliners, tem muito artista emergente (e alguns bem conhecidos) talvez tocando pela última vez num palco pequeno antes figurar no palco principal de qualquer outro grande festival. Este ano, uma das várias surpresas foi uma discotecagem (farofa) surpresa do Justice, que foi lançar o documentário “Iris: A Space Opera by Justice” e esticou com a gente na pista. Khalid foi outro que tocou também por lá sem ter sido anunciado. O show aconteceu na ativação do Uber Eats.
A minha experiência em mergulhar apenas em música foi surpreendente. Decidi ir em cima da hora, então dei uma pesquisada geral em quem ia tocar a partir de listas já curadas por revistas e blogs. Fiz uma lista prévia, ouvi os artistas e separei os que eu gostei. Durante o festival eu tive várias surpresas boas. Vi uma média de 8 shows por dia. A banda mais conhecidas que vi foi o Broken Social Scene, que tocou para um público de umas 150 pessoas num show lindo de morrer.
Comecei minha programação praticamente todos os dias entre 12h e 13h esticando até último show, que termina sempre às 2h da manhã em ponto. Até às 18h eu raramente tinha uma agenda preestabelecida. Fiz uma lista de casas de shows e/ou bares que raramente desapontam com a programação e de ativações de marcas/países que costumam ter curadoria impecável. Depois disso eu seguia com a agenda que tinha feito. Uma das melhores surpresas foi o dia em que eu estava tão cansada que, para não voltar pra casa, eu decidi ir dar uma relaxada numa das igrejas que abrigam shows do SXSW (e quem sabe até dar uma cochiladinha). Foi lá que vi um dos shows mais emocionantes do festival, o Mother Falcon, uma banda de Austin de rock sinfônico que lembra um pouco o Arcade Fire dos primórdios. Claro que o cochilo não rolou.
Além da agenda lotada de shows, a programação do SXSW Music abriga cada vez mais palestras, meet ups, debates e mentorias focadas na indústria. Na programação deste ano não faltaram destaques na conferência de música. David Byrne, T Bone Burnett, Shirley Manson com a Lauren Mayberry (vocalista do CHVRCHES), Adam Horovitz & Michael Diamond (Beastie Boys), A$AP Rocky e Amanda Palmer foram alguns dos nomes (é possível ver/ouvir as palestras clicando nos links). Além dos papos inspiradores com artistas e produtores, tiveram vários painéis para discutir o futuro da música, dos festivais, dos shows, dos podcasts, do streaming, marketing da música digital, indústria da música & blockchain. Esses todos dentro da programação oficial, mas ativações de países como German Haus e a New Dutch Wave (Holanda) foram duas casas que tiveram também boas palestras sobre a indústria musical.
Muita gente pergunta se ainda vale a pena ir ao SXSW, que completou 32 anos de existência em 2019 e está mais mainstream do que nunca. As pessoas acham que o fato do festival ter sido invadido por brasileiro o faz menor, o que eu discordo totalmente. Esse ano foram quase 2 mil brasileiros das mais diversas áreas, incluindo audiovisual, música e até médica. Com o tamanho da programação oficial e não oficial oferecidas, o SXSW é um festival diferente para cada pessoa que está lá. Raramente duas pessoas terão a mesma experiência (a não ser que elas façam tudo juntas). Além disso, cada um entende e absorve o festival de forma distinta também. O SXSW promove uma experiência intensa e única. Estar lá é navegar pelo futuro, é encontrar grandes pensadores e criativos, é se inspirar, é aprender e a entender um festival que ninguém consegue explicar exatamente como ele é. Só estando lá para saber.
O próximo post será o Top 10 artistas que vi durante o SXSW. Aguardem! :)
*Foto destaque: Otoboke Beaver / divulgação SXSW
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.