Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
O Flow Festival é realizado em Helsinki desde 2004, tendo começado sua história focando no soul e no jazz. É um festival boutique que acontece no meio da capital finlandesa numa área pós-industrial bonita de tirar o fôlego. Nela, chaminés gigantescas e construções esféricas servem de cenário para criar instalações imponentes, mas áreas verdes não faltam. Em 2018 passaram 84 mil pessoas pelo festival com direito a sold out.
Há tempos o festival está na minha mira, mas somente esse ano é que rolou ir conhecê-lo. O que me leva até lá são quatro nomes: The Cure, a Robyn, meu ponto fraco do pop, a Erykah Badu e o James Blake. Além, claro, de poder finalmente desbravar o atual país mais feliz do mundo.
O Flow atualmente abraça várias frentes além da música. Arte, gastronomia, cinema, video art e artes performáticas, como dança contemporânea, fazem parte da programação. No line-up uma lista bem curada de artistas do indie rock ao soul e jazz, do folk à música eletrônica e experimental, do pop ao hip-hop.
Um dos principais destaques do Flow Festival é seu comprometimento com a sustentabilidade. É um dos primeiros festivais europeus a neutralizar a emissão de carbono, além de utilizar biodiesel para gerar energia elétrica. Todo o lixo gerado no festival é reutilizado e toda decoração é feita com material reciclado. A comida é baseada em alimentos orgânicos e de época, além de trabalharem apenas com produtores locais. 46% do menu é vegetariano e/ou vegano.
O Flow faz parte do Keychange, iniciativa internacional que trabalha para alcançar a equidade de gênero até 2022 tornando isso o “novo normal” no universo dos festivais de música.
Quem foi garante que o festival é impecável, com escandinavos bem vestidos, bar de champagne, instalações de arte contemporânea e cerveja a 7 euros. Não é barato, mas nada em qualquer país da Escandinávia é. São cerca de 40 restaurantes e mais de 20 bares espalhados pelo Suvilahti, a antiga usina elétrica que abriga o evento. Para fãs da alta gastronomia é possível comer bem, como no badalado Emo, que leva para o Flow um menu degustação de cinco tempos num mix da cozinha nórdica com a da Anatólia. Mas a pizza, o hambúrguer, o hot-dog e os tacos também estão presentes.
Durante a época em que acontece, agosto, a luz do dia segue até por volta das 22h30, o que é uma delícia quando estamos num festival. Mas atenção, há riscos de tempestades de verão. A temperatura é amena, nada de verão escaldante. A média é de 22ºC durante o dia, podendo cair para 12ºC depois, dando uma boa razão para aproveitar e curtir saunas finlandesas depois.
São sete palcos e 150 artistas se apresentando nos três dias de festival. Ele acontece entre os dias 9 e 11 de agosto. Desde 2015 o Flow tem palco assinado pelo Resident Advisor e outro pelo Red Light Radio (Amsterdã), levando para a Finlândia alguns dos DJs mais renomados e que melhor esquentam uma pista de dança da atualidade. Mas não é só nele que reside a música eletrônica. O Backyard é também animado por DJs. Alguns destaques na pista este ano são Nina Kraviz, The Black Madonna, Eva Geist, Ash Lauryn, Juliana Huxtable, Carista, K-Hand, D. Tiffany, Yeboyah, o duo finlandês Männikkö, a DJ Katerina fazendo b2b com Linda Lazarov, além da nossa conhecida Valesuchi. Vai ter festa ou vai ter festa? :)
Um dos cartões postais do Flow é o palco 360º Balloon, que apresenta showcases de world-class jazz, sonoridades africanas e folk. Ou seja, a área mais bonita abriga a essência do festival. Nele toca este ano uma das mais novas estrelas do jazz britânico, a Nubya Garcia; o principal selo da Uganda, o Niege Niege leva Kampire e Bamba Pana & Makavelin para representar a África; e ainda nomes expressivos da cena de jazz e música experimental da Finlândia, como o minimalismo experimental do trio Katu Kaiku, o embalo pop delicioso do Elifantree e o indie obscuro da Suad.
Quem gosta de novos sons, o palco Other Sound apresenta artistas mais experimentais. Coloquei na minha lista a produtora de música eletrônica Jlin, que assina várias trilhas sonoras de espetáculos de dança contemporânea e se apresenta ao lado da artista visual Theresa Baumgartner; a suíça Aïsha Devi, também produtora de trilha sonora, promete uma viagem sonora intergalática; Lanark Artefax, que tem Aphex Twin e Björk como fãs; a pianista Kelly Moran; e o artista queer e saxofonista dinamarquês Bendik Giske, que eu já vi show e me deixou sem ar.
O palco principal está bem estrelado. Além do The Cure, Robyn, Erykah Badu e o James Blake, tocam nele a Cardi B., Solange, as estrelas pop suecas Tove Lo e Seinabo Sey, a veterana e também sueca Neneh Cherry, os psicodélicos Tame Impala, o funk eletrônico da britânica NAO que faz shows incríveis, entre outros.
Além desse caldeirão de música boa, o Flow Festival estica sua programação na Ópera Nacional de Helsinki nos dias 7 e 8 de agosto, num warm-up para o festival com o espetáculo de dança contemporânea Autobiography Edits, assinado pelo premiado coreógrafo britânico Wayne McGregor, com trilha sonora executada ao vivo; e o show audiovisual Fractal Fantasy, dos produtores de música eletrônica e artistas visuais Zora Jones e Sinjin Hawke.
O Pink Space é um novo espaço para celebrar a diversidade, também na Ópera, com um programa mais alternativo com poesia, arte performática e instalações de vídeos. A programação focada em arte se estende numa área exclusiva do Flow com filmes, animações, video art, light art, artes visuais, sound art e street art.
Animação e curiosidade por aqui não está faltando, afinal conhecer um novo festival é sempre uma experiência excitante. E aí, quem se animou em seguir comigo para a terra do Papai Noel?
Flow Festival
www.flowfestival.com
*Foto capa: Flow Festival 2018 por Petri Anttila / divulgação
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.