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Por sorte, ou destino, eu caí na Nicarágua diretamente na Playa Gigante, um dos lugares mais divertidos da costa do Pacífico.
A região de Tola, no departamento de Rivas, é onde está a Playa Gigante ou Gigante Bay, uma baía sem ondas na maior parte do ano, e uma vila de pescadores com cerca de 500 habitantes. Quem quer balada forte, vai pra San Juan del Sur, mas quem já passou dos 30 anos e está na vibe mais tranquilão, vem pras praias de Tola. E há diversas opções tão ou mais sossegadas que Gigante, como Jiquiliste, Popoyo e Guasacaste, que conseguem ser vilas ainda menores. Praias incríveis e todo dia um Pôr do sol maravilhoso, com pouca gente na água e é claro, poucas ondas. Mas Gigante é certamente um dos melhores picos e o legal daqui é que você encontra um número equilibrado de pessoas fazendo yoga às 7h da manhã e fazendo festa até às 2h da manhã (o mais tarde que uma balada pode chegar em Gigante). É aqui que estou vivendo há mais de dois meses e pra onde pretendo me mudar em breve. A ideia original era viajar e conhecer todos os lugares da Nicarágua, mas essa praia se transformou num lugar tão confortável e agradável que acabei nunca mais tirando minha mochila daqui.
Gigante está a 30 km de Rivas, a capital do estado e onde a gente vai comprar comida no Palí (a rede de supermercados), usar correio, fazer burocracia. Pegando a estrada que sai de Rivas e passa por Tola (município a que pertence Gigante), há uma entrada à esquerda com placas indicando o resort Guacalito, o Aqua Wellness Resort e a Playa Gigante. Desta entrada, segue por mais 5 km estamos no mar. O “centro” de Gigante conta com 4 restaurantes cujos donos “nicas” estão aqui há 20, 30 anos. A luz elétrica chegou na vila há 15 anos e o asfalto há exatamente um ano, e agora está mais fácil de acessar a praia. Viva o progresso e o desenvolvimento que o turismo traz, mas todo mundo espera que os próximos 5 ou 10 anos não transformem Gigante em uma San Juan del Sur, que passou de uma vila tranquila para uma mini cidade superlotada e turisticamente cansativa.
Por enquanto, os ares de Cumuruxatiba permanecem por aqui. Pescadores voltam em seus barcos todo dia de manhã com cerca de 200 quilos de peixe cada. E vendem pra empresa que distribui pelo país e para outros países, e pra quem colar no barco na hora certa. A praia nunca é lotada, nem aos domingos quando brotam muitos carros e ônibus. É sempre sussa. Exceto em três datas: Natal, 1o de janeiro e Semana Santa (que vem aí!). Aí lota legal. Gigante conta com alguns restaurantes, dois muito bons (Buena Vista e Café Cicada), além de um hotel, o Macheles, com banho quente, piscina, boa comida e diárias de 90 US$. Pra quem quer gastar menos, tem duas pulperías (mercadinhos para comprar itens básicos), meia dúzia de hostels com camas por 10, 12 dólares (US$) e quartos por 20, 25 e 30 US$, e a vila é considerada um lugar caro pra média de preços na Nicarágua.
Chama-se Gigante porque a montanha do lado sul, divisa com a praia La Redonda, quando vista do alto parece com o pé de um gigante. E dizem que em outubro, nesta mesma ponta sul, forma-se uma onda perfeita, um tubo inacreditável que é a alegria dos surfistas. Nem consigo imaginar, porque Gigante é uma baía onde as crianças nadam sossegadas, onde eu bóio tranquilamente, sem onda. Mas na temporada de surf – de maio a outubro – o mar é outro. Falando nisso, ficar hospedado em Gigante pra surfar é estratégico porque se pode ir caminhando a duas das melhores praias, Amarillo e Colorado, 15 e 40 minutos respectivamente. É no final de Colorado que fica a Panga Drops, um point com ondas difíceis e divertidas.
E a vila é animadíssima mesmo tendo apenas 3 bares. Na ponta sul, o bar do hostel Camino del Gigante, do americano John que está aqui há mais de 10 anos, é o mais antigo e já foi o lugar mais badalado da praia. Com uma grande área de frente pro mar, slackline, redes na areia e fogueira à noite algumas vezes na semana, sempre tem gente porque tem voluntários do mundo todo trabalhando em troca de hospedagem e prato de comida. Oferecem também yoga grátis todo dia às 7h, Booze Cruize (o rolê de barco regado a vodca no fim da tarde), passeios de cavalo, rolê de barco pra surfar em outras praias e massagem. Pôr-do-sol aqui é garantia de sucesso. E rum com piña custa só 80 córdobas (8 reais). Eles promoveram a festa de ano novo com Dj e espuma (Fon Party, a moda na Nica) e veio gente de tudo que é praia e resort em volta. Festão!
Mais recentemente, há 4 anos, abriu o Juntos Beach Bar, no meio da praia. Os donos, Yvens e Leslie, que fugiram da frio de -30ºC que faz em Ottawa, Canadá, agitam as noites gigantenhas promovendo a pizza night toda sexta-feira e trazendo DJs, bandas e músicos pra tocar aos sábados. Tudo de graça. E desde o começo do ano está rolando também o Cascadas, no canto norte de Gigante, dos sócios William, Aníbal e Hérnan, dois nicas e um argentino boludo, e também trazem djs e bandas aos finais de semana. Dá pra curtir uma cerveja e uma pistinha de dança regularmente por aqui. Nada parecido com grandes festas urbanas, mas garante a diversão.
Gigante talvez tenha o melhor clima de toda a Nicarágua. Brisa do mar constante e refrescante. Faz calor o ano todo (não vi mais de 30 graus ainda na praia, só em Manágua), em dezembro e janeiro o mar estava quente por aqui, desde fevereiro tá gelado, rolaram uns ventos fortes em fevereiro, mas agora em março tudo secou e o vento está ficando escasso. Dizem que em abril e maio rola o pior calor dos infernos, mas logo em seguida começa a temporada de chuvas, e as esperadas olas. E muitos surfistas. Tem bastante gringo morando na região e muitos deles fugindo do inverno e vivendo em Gigante 6 meses por ano. Os custos nicas permitem essa rota. A Nicarágua agora é a terra das oportunidades. A costa do Pacífico está em pleno progresso, está tudo à venda e a estrada costeira do Pacífico já está em construção. Em breve será possível ir da Costa Rica a El Salvador beirando o mar. E com pouca grana é possível começar um negócio aqui.
Só caí na doce Playa Gigante graças ao festival de música que rola na Croácia, o Goulash Disko (festival de cumbia e balcan music), onde conheci a Jasi, uma alemã de raízes paquistanesas que está morando aqui com o dono do Camino (mas tem a casa dela em outra praia). E só fui no Goulash Disko porque fiquei na casa do Yves pelo Couchsurfing, um belga que mora em Zagreb e organiza esse festival. Então, se foi sorte ou destino não sei, mas caí no lugar certo, na hora certa, exatamente depois de ser demitida de um emprego de merda ao qual já estava acomodada e durante a pior crise econômica no Brasil nos últimos 20 anos.
E Gigante e as pessoas que eu conheci aqui estão me ajudando a mudar de perspectiva e me fortalecendo para mudar realmente a minha vida. Então, prefiro acreditar que é destino.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.