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Depois de 3 semanas em Playa Gigante, fui conhecer finalmente Ometepe, uma ilha de hippie doidão em forma de infinito que fica bem no meio do Lago Cocibolca, o grande lago no centro da Nicarágua. A ilha possui 276 km quadrados de extensão e dois vulcões, um de cada lado da ilha. Pra chegar lá, tem ferry que sai do Porto de San Jorge, a 10 minutos e 20 córdobas de táxi da cidade de Rivas.
É possível escalar os dois vulcões, o Concepción (maior e ativo), e o Maderas (menor e já inativo). O Concepción é mais difícil e ideal para profissionais. O Maderas é mais fácil e mais rápido. Não fui em nenhum, óbvio, porque sou daquelas pessoas do chill out e não vim aqui pra passar perrengue de 8 horas embaixo do sol equatorial.
Ometepe, que significa “duas montanhas” em náhuatl, foi declarada reserva da biosfera pela UNESCO em 2010, e é a maior ilha vulcânica do mundo situada em um lago. Em formato de oito, a ilha guarda alguma semelhança com o Tahiti: ambas são de origem vulcânica, mesma forma e povoadas no norte e sul. Mas o Tahiti é o dobro do tamanho de Ometepe. Tahiti eu nunca pisei, mas Ometepe é vida orgânica, paz e sossego total.
Ao pé do maior vulcão está a maior cidade da ilha, Altagracia, mas o melhor lugar pra ficar é entre Santo Domingo e Balgüe. Ônibus na ilha tem, mas demora muito, então o lance é alugar bike, scooter ou moto. Ou cavalo. Ou pegar carona, porque tem bastante turista. Passei 4 dias na ilha e, como estava com uma amiga, alugamos uma scooter por 20 dólares das 11h às 17h pra tentar circundar o Maderas na encosta do lago. Só que alguns quilômetros depois de Balgüe, o asfalto acaba e a estrada fica bem ruim para duas bundas numa scooter. Muitas ladeiras com pedras e lama onde acabamos empacando e, quando achamos que íamos cair, o cagaço ganhou e voltamos para o asfalto. Acho que de bike teria sido melhor. Um argentino que conhecemos no ônibus circundou o Maderas de bike em 3 horas e meia com 5 dólares a diária da bike.
Das atrações turísticas, além de escalar os vulcões, tem também o Ojo de Água, um parque tipo clube com uma grande piscina natural com águas minerais que dizem ser boa para a pele. Fomos lá para nadar um pouco, mas vazamos logo porque não pode fumar em lugar nenhum, mesmo sendo um lugar a céu aberto. Custa 5 dólares por pessoa a entrada e pode ficar o dia todo. Tem também um trampolim, cipó pra se pendurar estilo Tarzan e slackline, tudo caindo direto na água refrescante. Vale a pena se tiver sol e você estiver a fim de passar um tempo nadando.
Na saída, nossa scooter deu uma pane elétrica e não pegou. Tentamos ligar para o cara mas não tínhamos o telefone e voltamos de carona. Primeiro com uma van com uma família costarriquenha – engraçadíssima por sinal – que nos deixou num hotel na praia em Santo Domingo, e depois de andar um pouco, com dois canadenses em duas motos, que estavam tentando sacar dinheiro nos 3 ATMs da ilha sem sucesso, e nos deixaram na frente do Zopilote. Fica a dica: traga dinheiro vivo pois a chance dos caixas estarem fora de serviço é grande. No dia seguinte, o cara da scooter falou que era só um cabo que havia se soltado com a trepidação. E sim, faz sentido porque passamos por uns lugares bem ruins.
Outra coisa pra fazer em Ometepe – e em qualquer lugar do mundo – é ficar de bobeira na beira do lago tomando uma cerveja. Em Santo Domingo, e de Santa Cruz a Balgüe, tem uns bares e você fica assistindo o pessoal do kitesurf, já que venta bastante no lago. Mais parece com o mar, tem onda pra burro e tubarão de água doce!
Um “must do” na ilha é também conhecer o El Zopilote e sua fazenda orgânica, tomar um chá/café/cerveja no restaurante deles e ver a vista do mirante. Mesmo quem não está hospedado lá pode colar pra conhecer. O lugar é uma montanha de uns italianos, todos os vegetais são cultivados lá, os banheiros são de compostagem e a comuna italiana funciona lá há mais de 15 anos.
Tem também a Bona Fide, outra fazenda de permacultura que oferece uns cursos de formação de 2 semanas. Meu amigo peruano foi lá fazer, termina essa semana. O valor é 750 dólares com tudo incluído e hospedagem na própria fazenda.
Há ainda a cachoeira que fica em San Ramón, vila ao sul da ilha. Você desce do ônibus em uma encruzilhada, anda uns 40 minutos e chega lá. Arco íris, cachoeira, dois vulcões num lago enorme. Para comer, logo na frente do Zopilote do outro lado da estrada tem uma pizzaria italiana muito boa (C$ 150 a pizza Margherita e C$ 180 a de funghi com mussarela) e o Comedor Mi Casa, da Cristina e sua família, com excelente comida “nica” e bem barato. Outro lugar famoso é o Café Campestre (bom pro café da manhã e vende mel, café e sementes), e o restaurante local Comedor Isabel, em Balgüe vale a visita. Comemos mais de uma vez no Tamarindo, que fica no começo da subida pro Zopilote, e é de um espanhol com muito boa comida a preço justo. E o molho de curry da salada é bom pacas. Ah! E de vez em quando ele tem tiramisu de café. Hmmm. E outro lugar bacana também em Balgüe é o Café de los Artistas, do Jenny, um italiano que já morou em toda a Centro América e diz que Ometepe é o melhor que há. Ele é casado com uma “nica”, e eles vendem artesanato e pinturas locais e servem um excelente café italiano (mocha), além de uns petiscos apetitosos. Vale a visita pra bater um papo com ele.
Falando em comida, o El Pital, um hostel com yoga que fica poucos metros à frente do Zopilote do outro lado da estrada, é também uma fábrica de chocolate vegano. Fomos lá pra comer a tal da Magic Ball (C$ 240), que é uma espécie de “sorvete” de plátano com cacau e chocolate, granola e cobertura quente de chocolate servido com uns tecos de banana e abacaxi. O “sorvete” é um sucesso e todo mundo comenta, mas sinceramente… não é chocolate, não tem sabor de chocolate e não proporciona a felicidade do chocolate. Talvez deve até proporcionar, já que a teobromina está no cacau e não no açúcar…. mas não rolou pra mim. Ah! Se você parou de fumar e vai pra Ometepe, pode ser uma boa se hospedar no El Pital, porque é um lugar livre de tabaco. E também tem aula de yoga todo dia. Da estrada você desce a ladeira e está na beira do lago.
Falando em hospedagem, El Zopilote é uma boa opção e a mais conhecida dos turistas, com mais de 70 camas. Mas enche o saco ficar subindo e descendo a trilha o tempo todo. O melhor quarto de Ometepe deve ser o que ficamos, com uma cama de casal boa, sem janela, só com uma cortina e mosquiteiro, e a vista pro vulcão Concepción. Fica no Elsewhere Land, dentro da mesma comuna italiana, no topo da montanha do Zopilote. Dá pra usar toda a estrutura do Zopilote (restaurante e wi-fi, o poço, as redes), tem um chuveiro e banheiro orgânicos coletivos lá fora só pra quem está lá em cima, e é uma casa pequena com 2 redes na varanda, 4 camas no dormitório e 2 outros quartos embaixo, além do quarto incrível em que ficamos. Pouca gente. Não só nessa montanha dos italianos, mas também na maioria dos lugares em Ometepe, os banheiros são de compostagem e eles pedem pra usar só para cagar. Xixi deve ser feito no mato. Sem papel. Tipo integração com a natureza. No primeiro dia fiquei meio incomodada com isso, mas depois mijar no mato pareceu a coisa mais normal do mundo. Sempre que der descarga, lembre-se que seu xixi é nitrogênio e alimento pro reino vegetal.
Tem também o hostel Lazy Crab que visitei e achei bem legal, a vinte passos do lago, com vista, bar e mesa de sinuca, decoração de maconheiro e sem ladeira pra subir e descer toda hora. E várias outras pousadas, hotéis e até camping na beira do lago. A balada rola toda noite no Little Morgan, hostel com bar e uns bangalôs (se você deseja dormir à noite, esta não é a melhor opção), onde a galera ganha shots grátis e dança em cima das mesas madrugada adentro; e como opção, às terças e sábados o Zopilote promove a Pizza Night, com boas pizzas e apresentação de pirofagia até umas 23h. Vale a pena conferir. Muita gente que mora na ilha vai.
Por fim, fica a dica do barco: o maior ferry é o El Rey del Cocibolca (C$ 50), balança pouco e sai do porto San Jose del Sur em Ometepe às 7h30 da manhã e às 15h rumo a San Jorge, no continente; e às 9h30 e 17h do porto San Jorge para Ometepe. Se você passa mal em barcos como eu, evite pegar a lancha Mozorola (C$ 35), que é um barco pequeno e balança pacas. Os demais são também pequenos, apesar de irem de 4 a 8 carros dentro. Vá de El Rey del Cocibolca. A única opção viável.
Ometepe é a terra do Peter Pan. A ilha tem uma energia feminina curativa. Eu e minha amiga tivemos nossos ciclos menstruais alterados e perguntei para outras mulheres que acabaram relataram o mesmo, menstruações atrasadas ou adiantadas.
Ometepe é um must do na Nicarágua. Totalmente imperdível e, se tiver com tempo, vale a pena ficar bem mais que 4 dias por lá!
*Foto do destaque: Flickr – Jean-Marie Prival
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