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Pertinho de Lisboa, a uma hora e meia de trem, ônibus ou carro, fica a encantadora Évora, capital não-oficial do Alentejo e porta de entrada pra um Portugal mais antigo e rural.
O perfeitamente preservado centro histórico de Évora, delimitado pelas muralhas, mereceu o título de Patrimônio Mundial da UNESCO. A maioria dos pontos de interesse ficam ali, bem próximos uns dos outros e facilmente percorridos a pé (diferentemente de Lisboa e Porto, a cidade é quase plana, com apenas um leve aclive no seu centro). Mas parte da graça é se perder em suas ruelas de paralelepípedos e curtir os detalhes da arquitetura local, com suas casas caiadas de branco com detalhes amarelos.
No centro de tudo fica a pitoresca Praça do Giraldo, que tem esse nome em homenagem a um Geraldo histórico, que recuperou a cidade dos mouros para a coroa portuguesa. A praça é ladeada pela Igreja de Santo Antão e pela agência local do Banco de Portugal no canto oposto, e em seu centro fica um belo chafariz. Nos dias de verão, a praça fica cheia de pessoas praticando aquele passatempo preferido dos europeus: ver a vida passar enquanto se toma um cafezinho. Também são costumeiras as apresentações culturais na praça, especialmente nos meses mais quentes.
A principal atração histórica de Évora é sem dúvida o imponente Templo Romano, que se ergue sem muita pretensão em meio a um largo. Também conhecido como Templo de Diana, a construção é rodeada pela Sé de Évora, pela Biblioteca Municipal e pelo Museu de Évora que, ainda que não imperdível, vale uma visita se você estiver com um pouquinho mais de tempo. Infelizmente, no momento, o templo está fechado pra reparos, e não há previsão pra sua reabertura ao público.
A outra grande atração do centro histórico é a Capela de Ossos, que fica dentro da Igreja de São Francisco. Como o nome indica, a capela tem as paredes forradas de crânios e outras partes de esqueletos humanos, querendo significar a transitoriedade da vida humana. Na entrada, os visitantes são recebidos com macabra saudação: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”.
A Universidade de Évora é a segunda mais antiga de Portugal, tendo sido fundada em 1559, apenas 22 anos depois da de Coimbra. Ainda que a cidade de Évora não gire em torno da vida universitária como Coimbra, a presença dos estudantes garante uma vitalidade que as vezes faz falta a outras localidades portuguesas. O Colégio do Espírito Santo, sede original da Universidade, pode ser visitado para se apreciar os lindos murais de azulejos que adornam as salas de aula.
Évora pode ser resolvida com um bate-volta a partir de Lisboa, mas a melhor maneira de aproveitar a cidade é reservando pela menos uma noite pra passar por lá. Primeiro porque assim se pode curtir o centro histórico a noite, quando fica ainda mais charmoso. Além disso, dessa maneira se pode aproveitar algumas das atrações que ficam ao redor da cidade. Para tanto o melhor é estar de posse de um veículo próprio. Mas caso prefira não dirigir, transporte pode ser arranjado no Posto de Turismo municipal, que fica na Praça do Giraldo. O posto também pode dar maiores informações sobre vinícolas e outras atrações.
Aliás, provando o porquê de Évora ser o único município português a fazer parte da Rede de Cidades Européias mais antigas, com uma ocupação humana da área que remete à Pré-História, um passeio possível pelos arredores é uma visita ao Cromeleque dos Almendres, uma coleção de menires (obeliscos de pedra) chamado com algum exagero pelos locais de “Stonehenge português”, embora seja efetivamente mais antigo que o sítio britânico: estima-se que o Cromeleque tenha sido construído há 7 milênios, enquanto Stonehenge a “apenas” 5. O problema é chegar até lá: boa parte das pedras está em terreno privado, de difícil acesso. Se informe no Posto de Turismo sobre como proceder.
Das vinícolas da área, a maior e mais visitada é a Cartuxa. As visitas incluem provas de vinho e azeite, e ocorrem o ano inteiro, todos os dias da semana, mas sempre reserve antes pra não se decepcionar (essa regra vale pra todas as vinícolas de Portugal). A Cartuxa também mantém um restaurante no centro de Évora que é bem recomendado.
Existem outras vinícolas menores ao redor da cidade que só valem a pena visitar se você tiver mais tempo e não for visitar outros pontos do Alentejo. Uma parada que vale a pena antes de programar sua enoviagem é o Vinhos do Alentejo, uma espécie de centro de enoturismo dentro de Évora. Lá você pode receber mais informações sobre as vinícolas da região e eles sempre tem uma seleção de vinhos alentejanos para prova. Melhor ainda, é tudo grátis.
A região tem ainda várias herdades (fazendas) que produzem azeite. No centro de Évora, bem próximo à Praça do Giraldo, fica a loja especializada Tou c’os Azeites, que oferece diariamente algumas variedades do óleo pra prova e onde você pode se informar caso deseje visitar algum cultivar de oliveiras – além, é claro, de garantir algumas garrafas de azeite especiais pra trazer pra casa.
Como saco vazio não pára em pé, antes de sair caçando vinhos por aí é bom forrar o estômago. O centro histórico tem uma boa seleção de restaurantes pequenos e baratos, ainda que a maioria não seja exatamente memorável. A gastronomia típica alentejana é rústica e baseada em carne suína e pão. O porco a alentejana é uma fantástica mistura de suíno com amêijoas, os pequenes e deliciosos moluscos portugueses. Açorda é uma espécie de sopa engrossada com pão, servida normalmente com bacalhau ou peixe fresco, e migas também tem como base pedaços de pão amanhecido, que são fritos até ficarem bem dourados e servidos com carne de porco.
Outros pratos típicos incluem sopa de cação e de tomates (batatas cozidas num caldo ralo de tomate, servidas com choriço fatiado e ovo escalfado) e ensopado de borrego (carneiro), servido com pão e batatas. Entradas podem incluir pés ou orelhas de porco a coentrada, ou seja, com um molho a base de coentros. Aliás, pra quem é #teamcoentro, os alentejanos, como os portugueses em geral, adoram a erva e a usam sem nenhuma parcimônia.
Se quiser simplesmente tomar uma taça e petiscar algo, a Rua Alcárcova de Cima, juntinho da Praça do Giraldo, tem uma série de barzinhos simpáticos com mesas na rua pra ver a vida passar. Ali perto também fica a Fábrica de Pastéis – e o pastel de feijão com amêndoas é de deixar qualquer pastel de Belém morrendo de inveja.
Na hora que a fome bater mesmo, temos duas recomendações. Se quiser um lugar na melhor tradição bom-e-barato (ainda que não muito bonito) se encaminhe pro Porta A’Aviz, que fica a uns 15 minutos da Praça do Giraldo. Você vai saber que está chegando quando o aroma de carne na brasa tomar o ambiente. Não tenha dúvidas e peça o franguinho grelhado com fritas, dos melhores que já comi, ainda mais acompanhado do molho de pimenta (piri-piri) da casa e de uma bela taça de vinho branco. Uma refeição aqui, com uma entradinha, prato principal e bebida, dificilmente vai sair por mais de 7€, e você ainda pode apreciar o movimento dos locais, especialmente em dias de jogo de futebol.
Agora, se estiver a fim de gastar um pouco mais (mas mesmo assim muito menos do que gastaria num restaurante similar no Brasil) então não tenha dúvidas e siga pro Fialho . Um clássico alentejano que está na mesma família há três gerações, já foi chamado de o melhor restaurante de Portugal, e inclui entre seus fãs o ex-presidente Fernando Henrique Cardosos e diversos outros notáveis. Não deixe de experimentar as sobremesas!
*Foto destaque: Catedral Sé, Évora por Ivo Anastácio.
Paraense radicado em Lisboa. Engenheiro, cozinheiro e cervejeiro, sem ordem específica de preferência. Viajante de vocação.
Ver todos os postsRecomendo o Botequim da Mouraria, em Évora. Fica meio escondido na Rua da Mouraria e abriga pouquíssimos clientes, só no balcão, mas foi a melhor refeição e o melhor atendimento que tive em Portugal.
Boa Rodrigo, vou procurar o botequim na próxima visita.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.