Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Um final de setembro quente de rachar em Lisboa, a cidade literalmente lotada de europeus (mas também muitos brasileiros) clima e local ideais para um encontro internacional de nômades digitais, o DNX Festival 2018. O evento durou um final de semana, dividido em palestras motivacionais, que rolaram no sábado, nos altos do Mercado da Ribeira, e workshops temáticos, no domingo, no Hotel Florida, área mais residencial da cidade.
O público de cerca de 400 pessoas foi inferior aos quase mil participantes de 2017. Muitos são nômades há alguns anos e já se encontraram em outros eventos pela Europa, ou até mesmo no Brasil, onde o casal criador do movimento, os alemães Marcos Meurer e Felicia Hargarten, recentemente comprou um terreno na praia de Itarema (CE). Também recentemente, Marcus e Feli casaram, num cenário bem adequado aos nômades, embora um pouco surreal, Las Vegas. O anúncio foi feito na abertura do encontro e levou o público à loucura.
Difícil encontrar entre os presentes quem não tenha experiência internacional. São, na maioria, jovens com menos de 30 anos, pais binacionais, e todos falam inglês, o idioma oficial do festival. Nenhum aparato de tradução simultânea foi disponibilizado. O movimento DNX, entretanto, tem uma academia na Alemanha, tudo está online, mas somente em alemão. Feli explica que a equipe DNX é muito pequena e ainda não houve condições de verter o material para outros idiomas. Os jovens que trabalham no evento foram todos voluntários, não houve luxos ou brindes, a não ser uma mochila de tecido estampada “I Choose Freedom”, junto com o logotipo, o oito deitado, símbolo do infinito.
O apresentador e anfitrião do encontro foi o israelense Nadav Wilf, que também palestrou sobre a experiência de ganhar e perder dinheiro, muito dinheiro, e do que aprendeu no caminho. Nadav criou e/ou participa de quatro empresas baseadas em tecnologia, e sua mensagem foi clara: não se limite, acredite que é possível, seja a sua melhor versão e ajude os outros a alcançarem cada um a sua melhor versão, usando a tecnologia. E sim, faça isso com um pé na realidade… Não foi à toa o título que ele escolheu pra sua fala: I Fucking Love Money.
O sentido de missão foi bastante valorizado nas palestras, mesmo aquelas sobre áreas mais técnicas, como a do colombiano Juan Felipe Rincón, executivo da Google que trabalha em segurança de redes; ou da britânica Hannah Dixon, sobre como criar um negócio de sucesso sendo um prestador de serviços online. As oficinas do segundo dia, no entanto, foram todas focadas em ensinar estratégias de ação online, como melhor usar a tecnologia, os recursos gratuitos ou de baixo custo, para melhorar sua comunicação, seu marketing, vendas, relacionamento. Os nômades, afinal, sabem que é preciso pagar a próxima viagem, a próxima estadia, ter algum dinheiro guardado pra garantir o possivelmente incerto dia de amanhã.
Marcus e Feli, agora oficialmente casados e proprietários de terra, são nômades há seis anos, e não sabem por quanto tempo continuarão sendo. Feli diz apenas que há muitas viagens planejadas para este ano, e que saem de Lisboa direto pro Nordeste brasileiro, onde ficam até dezembro. Eles são uma força inspiradora, e sabem que podem influenciar muitas pessoas, tarefa na qual se concentram desde o início desta década, através de eventos, cruzeiros entre Europa e Brasil, acampamentos, criação de espaços de coworking. Eles também são alegres, gentis, exalam uma beleza simples e saudável, acreditam em viver com propósito e espalhar a ideia de que a vida profissional não precisa ser cinza, burocrática ou sem sentido.
O estilo de vida nômade pode não ser para todos, ou mesmo ser um caminho temporário, mas não se pode negar a potência da mensagem de liberdade, o imã agregador das centenas de pessoas que seguem a equipe DNX em eventos pelo mundo afora. Além de aplacar a solidão desse estilo de vida independente e online, os encontros são alimentos pra alma de um grupo de profissionais qualificados que cresce de forma silenciosa e não mensurada, mas que pode representar uma virada irreversível no mundo do trabalho.
Texto de Suzana Guimarães, jornalista, nômade desde os primórdios – morou cinco anos em NY, em oito endereços diferentes. Além de escrevinhar, é agente de palestrantes internacionais. Pauta atual: a revolução do trabalho remoto.
*Fotos: Aluisio Pinheiro/Lisboa
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