Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Eu trabalhei uns bons anos no escritório de uma empresa aérea e foi muito bom, viajei bastante, fiz amizades para a vida (delas saíram os meus padrinhos de casamento) e foi uma época incrível. Mas, como todo carnaval tem seu fim, no começo de 2012 resolvi me demitir. Quando o diretor dos recursos humanos, alguém com quem eu me relacionava bem e falava abertamente sobre várias coisas, me perguntou o que me motivava a deixar a empresa, a minha resposta foi: primeiro, a necessidade de “voar outras rotas” e segundo, a falta de lazer no prédio onde a empresa era localizada, inclusive um bom sistema de ar condicionados e a falta de ar e luz natural dentro das instalações.
Um outro motivo (na ocasião eu não lhe disse) que também me levou a desacreditar que eu faria “carreira” naquela ou em qualquer outra empresa com o mesmo modelo de escritórios, foi o tanto que eu tinha de conviver e interagir com pessoas que tinham pouco (ou nada) em comum comigo. Pessoas desmotivadas, que não gostavam/acreditavam no produto e que acabavam por serem invejosas pelo fato de não conseguirem atingir objetivos (aqueles que com sorte conseguiam estabelecer algum). Essa pessoas se tornam âncoras para os que gostam do que fazem. Veja bem, dentro de uma empresa com mais de 1.000 funcionários, você não escolhe com quem vai trabalhar. E isso não é problema deles – segundo eles.
Dois anos antes de me demitir, eu encarava uma jornada de trabalho complexa: três dias por semana na fîrma e os outro quatro(!) dias investia nos meus projetos e trabalhava remotamente de cafés, restaurantes e até do cabeleireiro e foi nessa época – meados de 2010 – que fui apresentada ao conceito de co-working. Esse formato de escritório flexível é ideal para freelancers ou start ups pois acaba reunindo profissionais com o mesmo tipo de motivação e interesses. Os co-working spaces vem conquistando a Europa: só no ano de 2013, foram oficializados 2,500 espaços para escritório flexível.
Foi uma experiência e tanto frequentar alguns escritórios flexíveis em Amsterdã e mesmo depois de ter mudado para um apartamento maior onde pude montar um escritório, sempre que dá corro para um dos meus “oásis” preferidos. Vou por vários motivos: fugir do isolamento, trabalhar melhor (foco), ter acesso a cafeterias maravilhosas e almoços comunais, conhecer pessoas novas, mudar de ambiente e cenário nas pausas (que eu tiro quando preciso). Além disso, alguns desses co-working spaces também promovem eventos e isso é ótimo para construir um network, colaborar em outros projetos e conseguir colaboradores. Os espaços que selecionei a seguir são a prova de que existe sim amor na segunda-feira e em diversas partes do mundo. Eles farão você esquecer tudo o que aprendeu sobre “a fîrma“ e até considerar tirar um sabático diferente…
Digamos que você tirou um sabático, só que… Para trabalhar! E o melhor, não foi surpresa para ninguém na família: você sempre foi a(o) diferente mesmo… :) Entrou num voo saindo não sei de onde, fez conexão nos EUA e desceu onde?… Honolulu (He he, além de “diferente”, a família agora acha que você também é masoquista). E lá está o The Box Jelly, cheio de amor pra dar! O primeiro co-working space do Havaí começou como um pop-up dentro de uma loja de design. Hoje esse galpão com mais 500m² tem cafeteria, sala de reuniões, mini auditório, quintal com mesa comunal e praia bem pertinho. Virou hub e lá eles também organizam um monte de eventos legais para promover parcerias e formatos colaborativos.
De lá, a próxima parada é o Panamá! Problema: como descrever em palavras o Coco Vivo? “Uau” seria o termo ideal? Não sei se poderia chamar esse de um co-working space, apesar dele ser vendido também com essa finalidade, pois estamos falando do seguinte: uma casa duplex com aproximadamente 200m², seis camas, duas áreas de trabalho, duas salas, redes por todo lado, banheiro e cozinha para acomodar até doze pessoas, na beira de uma ilha encostada à uma selva virgem na Isla Cristóbal no Panamá. Junto à casa está um pier com ducha, banheiro ecológico, construído em cima de corais (vivos), onde podem ser acomodadas quatro pessoas (dois casais). O que diferencia esse lugar de qualquer outro “paraíso perdido” é a conexão Wi-Fi. Ter internet rápida transforma o que seria apenas ter férias em um lugar incrível na possibilidade de continuar pagado as contas. A casa (ultra eco e sustentável) é abastecida por água da chuva e energia solar. Um casal de moradores está disponível 24/7 na propriedade para ajudar com a recepção, orientação e acomodação dos hóspedes.
Se você é brasileiro e nunca ouviu falar em um paraíso no Nordeste brasileiro, chamado Jericoacoara, te convido a sair um pouco do universo paralelo e não só conhecer Jeri, como ficar uma temporada por lá. É daqueles lugares que valem todas as penas: uma vila cercada por dunas, onde as ruas são de areia, praia mansa e montanha-deserto-praia no mesmo quilômetro. As estrelas durante a noite são tantas que você tem vontade que o dia nunca chegue, mas basta lembrar do sol que acabou de assistir (de cima da duna) se por no mar, que já não quer que anoiteça. É muito dura a vida lá. A vila toda, apesar de não ter bancos nem caixas automáticos, tem internet super rápida, o que torna possível trabalhar remoto de lá. A pousada Baobá, oferece pacotes para quem quer ficar por mais de um mês na baixa temporada, com internet super rápida e duas suítes já equipadas para esse tipo de hóspede. As donas (quatro irmãs) trabalham em turnos e estão sempre disponíveis para ajudar no que for necessário, inclusive transfers, refeições, informações, etc. Jeri é perfeita para trabalhar remoto e aprender (ou praticar) kite e windsurf. Dica: a vila é cheia de pros e super atletas, pedindo com carinho eles dão aulas particulares. Já imaginou? Chega lá geek e volta campeã(o) mundial de wind!? :)
Seguindo o Sol: próxima parada Las Palmas! A La Fabrica 555 é um espaço composto por um grupo de amigos que decidiu compartilhar um ambiente de trabalho. Resultado: acabaram expandindo para o formato de co-working e por apenas 10 Euros por dia é possível fazer uso de uma mesa comunal, wi-fi e telefone. Ou por 95 Euros por mês, ter uma mesa própria, wi-fi, telefone, mesa de reuniões e armário. Oferecem cafeteria, lounge, jogos, sala de reuniões, acesso 24 horas, projetor, televisão e seja para qual for o tipo de inscrição: a praia no final do dia está incluída no preço!
Pertinho de Las Palmas está Lisboa (2 horas de voo), e dispensando qualquer tipo de apresentação, Lisboa além de ser um lugar ótimo para morar, é ótimo para trabalhar. Existem inúmeros co-working spaces, a praia fica logo ali, a comida é maravilhosa e os preços são ótimos em comparação com outras capitais européias. Dentre os espaços que visitei em Lisboa, o que mais me conquistou foi o Village Underground: é um lugar que foi concebido com bastante amor e sente-se isso no ar. O “village” como é conhecido também serve como plataforma para eventos, existe um estúdio de gravação em um dos conteiners, um ônibus suspenso que serve de cafeteria e oferece almoço, sobremesas e café com qualidade, e um grande senso de comunidade. Por 150 Euros mensais dá pra dividir um conteiner com mais quatro pessoas, que normalmente são acomodadas por afinidade profissional. É um lugar único e magnético. Assim como Lisboa.
Ok, chega de férias. Digo… de sol. Hora de mudar um pouco de cenário: tchau calor, suor, surf, maresia, hang loose… Também existe amor no frio! Ao norte do planeta está Reykjavík (Islândia) que além de nos ter presenteado com a Björk, também tem as termas mais incríveis do norte da Europa; a cidade se posiciona entre as cidades pais limpas, verdes e seguras do mundo. Decidiu pousar lá por um tempo? Então considere o Coworking Unit, um lugar “simples” e confortável, com mesas grandes, cafeteria, wi-fi, cozinha completa e amor (sim você se apaixona logo por todo mundo). É perfeito para quem precisa de um lugar para trabalhar temporariamente ou não. O espaço é um antigo loft industrial parcialmente remodelado, super bem localizado (Grandi) no centro antigo de Reykjavík, perto de bares, restaurantes, etc. Todo mundo é bem vindo e os profissionais que predominam no local são web designers e gráficos, developers, escritores, fotógrafos e ilustradores.
Ainda no loop nórdico, outra cidade maravilhosa para trabalhar e com uma qualidade de vida excepcional é Estocolmo. Sim, é caro mesmo. Sim, você vai pecar (pecar = gastar todo o seu salário em uma semana). Mas existe a opção tentar “entrar no céu a força“… A Kyrkan, é uma igreja transformada em escritórios flexíveis para quem quiser aderir de maneira permanente ou temporária uma jornada de trabalho na cidade. E para os que nasceram livres da culpa, o mesmo grupo que administra a Kyrkan oferece a possibilidade de ser logo rei ou rainha e trabalhar de um castelo. The Castle é versão “maluquinha” da Kyrkan, um espaço mais experimental e alternativo que ainda não virou mainstream dentre os co-working spaces. Para conseguir um lugar no castelo é preciso conhecer alguém ou tentar ser aceito através de um pedido por email.
Next? Para condimentar um pouco a rota: Oriente Médio, claro! No Oasis 500, não só é possível ter acesso a um co-working space, como a possibilidade de sair de lá um verdadeiro empresário. Eles oferecem treinamento para criativos com pouca ou nenhuma experiência em como concretizar suas idéias, além de assessoria completa desde mentores, investidores e analistas que podem ensinar e ajudar a transformar sonhos em produtos. O espaço é bastante internacional e fica localizado dentro de um polo tecnológico na região de Mena em Amã (Jordânia). Nesse caso, trabalhar de bikini não seria bem uma opção. ;)
Continuando na trilha dos polos tecnológicos a próxima parada é o Hubud, na ilha de Bali (Indonésia), onde pertinho de Denpasar está esse espaço incrível com 400 m². Também é um hub que conta com uma comunidade já bem consolidada e serve como plataforma para eventos, formações e reúne Doers do mundo inteiro em um dos destinos mais populares do arquipélago transcontinental. Não gostando de Bali, existem outras 18.306 ilhas como opção, afinal, trabalhar em Bali não deve ser fácil! Ê-ê.
Last but not least, vem a mais especial de todas as ilhas (na minha humilde opinião). Trabalhar no Japão, especialmente em Tóquio, é simplesmente o sonho – ou o pesadelo – de qualquer ocidental que queira mergulhar no novo, no diferente e no surpreendente. No 5º andar do edifício Musashi no Shinjuku (bem pertinho da estação de metrô) está o Co Ba, um hub mega curtido, que às quartas e sábados oferece walk in deals: por ¥2,00 ao dia você pode aparecer lá e fazer uso do espaço. O arrebatamento que a cultura japonesa causa nos estrangeiros que moram ou trabalham na cidade é muito intenso e não existe um meio termo: quem não ama Tóquio, não entendeu Tóquio… E por isso, termina aqui a viagem.
A Priscilla escolheu como mantra a frase de Amyr Klink: "Pior que não terminar uma viagem é nunca partir". Adora mapas e detesta malas. Não perde uma promoção ou um código de desconto e coleciona cartões de fidelidade. Nas horas vagas é diretora de arte, produtora de festas, dj e coletora de lixo nas ruas de Amsterdã. Escreve aqui e no www.almostlocals.com
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Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.