Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Quando topei embarcar nessa aventura chamada SIM – que é nada menos que a maior convenção de música da América Latina – não fazia ideia do que viria pela frente. Mesmo tendo estudado a programação e tendo uma noção do quão intenso e interessante o evento seria, nada se compara à experiência que foi essa imersão.
Não é preciso dizer que a noite de abertura do festival foi maravilhosa, tinha tanta gente que não dava para saber quem era quem, mas toda aquela pluralidade, já dava para um bom indício do que seria esta edição 2017 … Artistas, produtores, agitadores e gestores culturais, curiosos e amadores. A SIM reuniu todo o tipo de perfil, dos quatro cantos do Brasil e de vários países, todos em busca dessa corrida musical que aconteceu de 06 a 10 de dezembro, fazendo valer o ano.
Para o primeiro dia, com tanta coisa para fazer, optei por focar na programação diurna, em especial nos três dias de painéis, speed-meetings, meetups, coquetéis, pitches e todas as oportunidades nas quais esses contatos poderiam se desdobrar.
Era de se imaginar que os temas dos mais variados e mais relevantes relacionados à indústria da música seriam abordados, mas eu não tinha ideia da maratona que começava ali. O festival mapeou o Centro Cultural São Paulo de cima a baixo aproveitando cada sala, teatro e espaço para propagação e compartilhamento de conhecimento.
No primeiro dia, me joguei na programação: tive a oportunidade de participar de um meetup com programadores de eventos públicos e ouvi o apelo dos representantes do Carnaval de rua que trabalham empenhados na democratização da folia. Foi também discutida a importância de empreender e como funciona a autogestão na carreira artística – painel no qual Tiê confessou ter criado a personagem Telma Flores, que fazia seu atendimento até finalmente assinar com uma gravadora.
O #dia1 foi um verdadeiro bombardeio de insights! Foi o dia em que o Brasil inteiro foi representado na mesa de festivais independentes. Nela, foram discutidos números, empréstimos e patrocínios, os desafios em geral de realizar tais eventos. Na mesa estava um verdadeiro time de produtores, responsáveis por curadorias que levam milhares de pessoas a prestigiar novos e reconhecidos talentos pelas ruas e praias pelo Brasil, alavancando a cultura independente no país em um calendário diversificado. Participaram Ricardo Rodrigues (Festival Contato), Fabrício Nobre (Festival Bananada), Ana Garcia (Coquetel Molotov), Ana Morena (Festival do Sol), Fabiane Pereira (Faro MPB), Melina Hickson (Porto Musical) e muitos outros. Esta foi uma das mesas em que as mulheres mostraram a que vieram, deixando claro que nessa aba da cultura não há mais espaço ou tolerância para distinção de gênero.
A SIM contou também com um espaço dedicados à militância feminista, a Mostra SÊLA, que celebrou o protagonismo da mulher na música, levando nomes de peso ao palco: Letrux, Maria Gadú, Luiza Liam.
Para provar que a SIM não deixou passar nada, tivemos também o painel “Palcos da Amazônia”, que reuniu diversos representantes trazidos direto de Manaus, a capital do Amazonas – minha cidade!! – para debater temas como os desafios de conectar o norte com o resto do país em um intercâmbio cultural necessário e válido.
Esse foi o dia de falar sobre como o blockchain vai mudar nossas vidas com as transações ricas de informação, transparência e sem intermediários. Foi o dia em que tivemos o privilégio de ver mulheres lindas e cheias de força liderando festivais de norte a sul do país. Foi o tempo que tirei para explorar todo o espaço disponível e descobrimos que além das salas, encontros, conversas, tinha todo um mundo de negócios relevantes e até inovadores, por assim dizer, serviços como upload em lojas digitais e plataformas de streaming, gravação de Cds, assessoria artística e mais.
Ainda dentro do contexto da inovação, era possível encontrar equipamentos de alta tecnologia dispostos como num playground, assistir uma banda inteira ensaiando sem emitir um ruído, e percebi que há pessoas fazendo altos movimentos na mostra de realidade virtual!
Achou que os painéis acabaram? O #dia2 foi aquele em que aprendi a desmistificar um edital trocando muitas informações úteis com o time de curadores do Natura Musical 2017. Mas o ponto alto do dia foi experimentar o fantástico Aussie BBQ – típico churrasco australiano – oferecido pela comitiva do país no Jardim Suspenso CCSP, junto com a programação de Conferência e de Networking & Business, cheia de coquetéis e pocket shows de artistas do Brasil e dos países presentes no festival.
O Jardim também era o lugar para quem queria tomar uma cerveja gelada ou comer um hambúrguer vegano, um espaço descontraído sob uma grama verde. O lugar ideal para passar um tempo antes de voltar para casa ou seguir a programação noturna. Foi ali que a dupla francesa Acid Arab se apresentou num show aberto ao público em geral no fim da sexta-feira.
No terceiro dia de evento as velocidades foram reduzidas e já havia um sentimento de nostalgia no ar. Éramos todos zumbis, mas zumbis felizes, cheio de novas ideias e expectativas, cheios de novos ritmos e novos amigos.
Tudo acontecia, mas eram menos pessoas, ambientes mais tranquilos, só o que não diminuiu foi a troca de material… Produtores de todo o mundo com as mãos cheias de cds, discos e apresentações de bandas dos mais variados estilos.
E foi no exato #dia3 que aconteceu a primeira edição do Prêmio SIM, que teve início com o reconhecimento do trabalho de Pena Schmidt na Categoria Contribuição à Música. O projeto Tem Um Gato na Minha Vitrola, assinado pelo jornalista musical Pedro Antunes, foi premiado na categoria Inovação. Para a surpresa geral, na categoria Novo Talento houve empate e os contemplados foram os músicos baianos Giovani Cidreira e Larissa da Luz. O Projeto do Ano foi para Conexão Cultura DF, que incentiva e promove a interação do Distrito Federal com oportunidades e ações relevantes no âmbito da música no Brasil o no mundo.
E foi nesse terceiro de dia que escolhi abraçar a programação noturna na Casa do Mancha, onde aconteceria a Noite DoSol, uma noite dedicada a bandas de Natal, Rio Grande do Norte. Lá ouvimos Plutão Já Foi Planeta com toda sua musicalidade e estilo, DuSouto, Orquestra Greiosa e a originalidade de Luísa e os Alquimistas. Aliás, originalidade foi o que não faltou nessa noite! Honestamente, não dava para ter escolhido uma noite melhor para fechar o festival.
Foi na última noite que me ocorreu que não seria possível descrever essa convenção de música senão como uma experiência da qual toda e qualquer pessoa sai mais rica e mais preparada para o mercado da música. Não foram apenas as noites nas casas e espaços incríveis espalhados pela cidade, não foram os showcases, nem os coquetéis ou workshops. Foram as pessoas e, claro, a música mais uma vez servindo como veículo para unir toda uma classe em uma experiência transformadora de troca e crescimento.
Sim, sempre existem pontos a evoluir e a se aprimorar. Quem sabe mais tempo, quem sabe mais dias. Mas fazer parte desse evento valeu o ano e me trouxe uma playlist incrível, cheia de talentos e boas lembranças.
*Foto destaque: meetup Sim por Thais Bergamo
Jornalista por formação e Produtora Cultural por propósito. Direto da Amazônia, Ana viaja o Brasil trabalhando em shows, festivais e pesquisas. Focada em desbravar sons, costumes, sabores e experiências, é assim que ela pretende dar a volta ao mundo: aprendendo novas músicas e conhecendo novas culturas. Acredita que o sentido da vida é a troca. Pensadora profissional e escritora amadora, ela anda por aí capturando momentos únicos, revelando belezas essenciais e compartilhando tudo isso escrevendo aqui.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.