Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Nos últimos 10 anos, parece que virou um rito de passagem obrigatório você largar tudo para se jogar em uma viagem de volta ao mundo. Mas nem todo mundo tem o tempo disponível, e pior, a grana para simplesmente parar de trabalhar e ficar meses ou anos passeando. E é aí que começaram a pipocar guias e posts e textos vendendo o sonho da volta ao mundo gastando muito pouco, ou até sem ter um tostão furado no bolso. Bom, vou ter que cortar teu barato: não é para todo mundo, mesmo!
A geração wanderlust cresce a cada dia, mas ela está virando um verdadeiro problema, principalmente nos países mais desenvolvidos. Uma leva de viajantes europeus infestou os países mais baratos do sudeste asiático, atraídos pelos preços baixos, pela segurança atrelada à população de maioria budista e pela hospitalidade oriental. Só que muitos acharam que seria fácil simplesmente chegar lá e achar um jeito de viver sem ter reservas financeiras, mas acabaram se juntando ao movimento dos beg-packers, os mendigos viajantes. A palavra beg-packer é uma contração de backpacker (mochileiro) com beg (mendigar).
Fotos desse tipo de turista começaram a aparecer em 2016 nas redes sociais de países como Vietnã, Camboja, Hong Kong, Tailândia e Malásia. Muitos não só pedem dinheiro, mas também vendendo cartões postais feitos com as fotos de suas próprias viagens e tocando instrumentos musicais. Os beg-packers despertaram a ira de locais – e acabaram nas manchetes dos jornais de todo o mundo recentemente – depois que Maisarah Abu Samah, de Cingapura, postou uma foto de dois turistas pedindo dinheiro no Twitter. ‘Primeiro de tudo, não se vê muita gente vendendo artesanato ou tocando música nas ruas de Cingapura porque existe regras muito rígidas para exercer essas atividades aqui. E eu nunca vi pessoas brancas fazendo isso.’, disse ela. Inclusive, para ser um camelô ou um artista de rua lá, você precisa de um visto de trabalho.
Uma questão muito importante levantada é que esses turistas geralmente são vistos mendigando com câmeras fotográficas semi-profissionais, instrumentos musicais e amplificadores bem caros. Obviamente que se estivessem realmente passando necessidade, esses equipamentos poderiam ser trocados por passagens de volta para casa ou qualquer tipo de ajuda. A verdade é que esses viajantes não se envergonham de pedir dinheiro para financiar suas férias frívolas.
As críticas mais duras acusam os ocidentais de terem criado uma ‘fantasia oriental’, em que se acredita que tudo é permitido nesses países pelo simples fato de serem pobres. As pessoas que realmente precisam pedir dinheiro nas ruas o fazem para encarar a miséria, fome, doenças, e pela pura sobrevivência. Os beg-packers, além de tirarem as poucas doações que pessoas miseráveis poderiam aproveitar, ainda usam os recursos para custear escolhas pessoais consideradas puro luxo. Uma foto realmente bizarra em Bangkok mostra um turista com uma placa pedindo doações, enquanto carrega uma sacola de fast-food.
Os problemas com turistas no Sudeste Asiático são variados. Os ocidentais vêem a região como uma experiência exótica, e acham que por conta disso podem se comportar da forma que bem entendem, o que muitas vezes quer dizer burlar leis e desrespeitar a cultura local (já falamos do naked tourism).
A glamourização da pobreza sempre foi uma questão delicada em países que lutam contra a miséria. Em países como a Índia e a própria Tailândia, turistas pagam centavos para tirar fotos com pessoas necessitadas para encher seus Instagrams de emoticons de corações partidos, achando que estão ajudando, quando estão apenas perpetuando o problema. Mas se juntar à mendicância nesses países é um absurdo. Ainda mais em tempos de xenofobia aflorada, em que imigrantes são desprezados no mundo todo, e pessoas de países pobres precisam de processos cada vez mais burocráticos e caros para conseguir vistos, pensar que é normal chegar nesses países para pedir dinheiro é abusar de seus privilégios brancos.
A moda de buscar ‘contribuições’ para financiar viagens já chegou até às vaquinhas online. Sites como fundmytravel permitem que qualquer pessoa monte um crowdfunding para custear suas férias. Muita gente usa a ferramenta para causas justas (como trabalho voluntário em áreas necessitadas), tem muita gente que merece ter suas ‘experiências de vida’ são dignas das doações de estranhos. Esses caras, por exemplo, estão pedindo 2850 dólares para poder ‘se aventurar no Sudeste Asiático comendo insetos, pulando de encostas, e fazendo trekking na floresta’. Até agora eles conseguiram $20.
*Foto do destaque: metro.co.uk
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.