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A onda do turismo pelado

Quem escreveu

Renato Salles

Data

02 de March, 2015

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Vira e mexe alguém faz algo maluco e um bando de gente sem noção repete o feito, a coisa explode, e vira moda. Entre plankings e desafios da canela, hoje em dia jericos estão se espalhando como brasa na palha. Mas algumas dessas modas vão além de tiração de sarro, e podem ter conseqüências pesadas para os agitadores.

Recentemente, foi descoberto nada menos que o quinto caso de turista tirando foto como veio ao mundo dentro do maior e mais sagrado conjunto de templos do Camboja, o Angkor. O último foi uma foto do fotógrafo alemão Simon Lohmeyer, em que aparece um casal nu usando máscaras de macaco. O título da foto é ‘Hakuna Matata’. Como ela foi encontrada no Facebook do artista, a princípio nada pode ser feito pelas autoridades cambojanas. Mas em outros dois casos, não foi bem assim. Duas irmãs americanas tiraram fotos fazendo a famosa ‘baleia branca’, e uma semana antes, três franceses foram pegos com a salsichas de fora no templo Banteay Kdei. Todos foram deportados e perderam o direito de visitar o país.

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A moda parece que começou com uma série de fotos de mulheres asiáticas com os seios à mostra nos templos, que acabaram viralizando. As imagens tem uma marca d’água escrito WANIMAL, a com isso se descobriu que os autores são chineses. Elas também foram o estopim para a onda de indignação da população e das autoridades cambojanas, que consideram a brincadeira uma grande ofensa contra a religião e os territórios sagrados. Para se ter uma idéia do quanto essa questão é importante, todos os templos budistas no Camboja, e em todo Sudeste Asiático, exigem que as pessoas de vistam de acordo com as regras, que banem joelhos e ombros à mostra. Em alguns lugares é possível até alugar calças e túnicas para entrar.

Angkor é a antiga capital do Reino Khmer, e as construções dos séculos IX ao XV representam o senso de virtude e moralidade da cultura do país. Mas esse não é o único Sítio de Patrimônio Mundial da Unesco a ter os supostos naturistas dando as caras, ou algo mais. No ano passado, o chamado ‘naked tourism’, ou o turismo pelado, ‘atacou’ algumas vezes em Machu Picchu, no Peru. Um australiano e um neo-zelandês foram filmados fugindo dos seguranças, e um israelense maluco fez todo um blog chamado My Naked Trip, com diversas fotos não só lá, mas em todo o mundo. E no ano passando ainda, uma onde de protestos contra os turistas bêbados e pelados surgiu em Barcelona, depois que 3 italianos fizeram uma pequena maratona por lojas e mercados da Barceloneta vestidos com a nova roupa do rei.

O naked tourism está tentando virar uma moda de verdade e já tem até comunidade. Os especialistas estão se debatendo para descobrir qual a melhor forma de acabar com ela: aumentar o policiamento dos monumentos, fazer mais campanhas de conscientização dos turistas a respeito das culturas locais, ou simplesmente ignorar o auê em torno dos casos para que eles simplesmente percam a graça? Mas numa coisa eles concordam: a nova modalidade nada mais é do que uma evolução do fenômeno do selfie, em que as pessoas querem provar para o mundo que elas estiveram aqui! Mas a mensagem agora parece ainda mais frívola: ‘estou aqui e sou livre’, mas confundindo liberdade com egoísmo e desrespeito.

Nota: A foto da capa é uma obra do artista Spencer Tunick, que fez essa imagem no Mar Morto, como uma forma de pedir votos para o ponto mais baixo do mundo entra as Novas 7 Maravilhas do Mundo.

Quem escreveu

Renato Salles

Data

02 de March, 2015

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Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.