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O que você precisa saber antes de ir para Bali

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

24 de January, 2017

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Comecei a pesquisar sobre Bali logo que cogitei passar dez dias por lá. Porém, as pesquisas me levaram à uma constatação: o lugar não é mais o paraíso que um dia foi. A dúvida veio junto com a descoberta: ir ou não ir para lá? Entre desistências e desânimos, acabei decidindo ver com meus próprios olhos o que Bali é afinal.

Templo em Ubud, Bali
Templo em Ubud, Bali. Foto: Lalai Persson

Uma das coisas impressionantes (para o mal) na ilha é a questão do lixo. Não há como passar incólume pelo assunto. Como disse uma amiga antes de eu ir para lá, “em Bali nós vemos o que estamos fazendo com nosso planeta”. O paraíso imaginado acaba não sendo o esperado na Ilha dos Deuses. As praias, ao invés de se revelarem magníficas, escancaram montanhas de lixo espalhadas por suas areias. Ainda assim, não desista, pois há muito além disso para ver.

Ondas cheias de lixo em Bali. Foto: Zak Noyle
Ondas cheias de lixo em Bali. Foto: Zak Noyle

Quando lemos o que o turismo pode fazer de mal a um lugar, nós não imaginamos que esse lugar possa ser Bali, mas é. Neste caso não é apenas o turismo predatório que tem causado malefícios, mas também a relação com o lixo do povo local. O problema não está apenas nesta parte da Indonésia, mas em todo o país, que tem criado políticas de incentivo para educar a população sobre o tema, como ceder crédito e atendimento médico em troca de lixo.

Surfando em Bali. Foto: Nicolas Risch
Surfando em Bali. Foto: Nicolas Risch

O turismo em Bali começou com o surf no início dos anos 1970, quando o fotógrafo australiano Alby Falzon compartilhou a descoberta das ondas de Uluwatu no filme Morning of the Earth. Desde então, o destino entrou na lista dos mais desejados entre viajantes atrás das ondas perfeitas. Em 2012, Kelly Slater lançou uma campanha leiloando sua prancha de surf para ajudar a Role Foundation, que luta para minimizar o problema. Só o sul da ilha produz 240 toneladas de lixo por dia.

Ruas de Ubud, Bali. Foto: Clayton Scott
Ruas de Ubud, Bali. Foto: Clayton Scott

Já nos anos 1990, Ubud, cidade no meio das montanhas, transformou-se na meca para artistas no sudeste asiático, com muitos ateliês sendo abertos na região. A cidade acabou se tornando o centro da cultura e arte em Bali. Dez anos depois veio o sucesso do filme Comer, Rezar e Amar, com a Julia Roberts no papel principal, colocando Ubud na rota turística de massa. Claro que esse aumento no turismo trouxe coisas boas ao lugar, mas também trouxe a parte ruim, como surgimento de vários resorts onde antes se estendiam belíssimos arrozais.

Apresentação de dança balinesa. Foto: Stefan Magdalinski
Apresentação de dança balinesa. Foto: Stefan Magdalinski

A cultura balinesa é muito rica, mas com o turismo é difícil identificar o que é verdadeiro do que é feito para turista ver. Por isso Bali é o lugar que requer uma boa pesquisa antes de ir.

Religião

Procissão balinesa. Foto: jaywei80
Procissão balinesa. Foto: jaywei80

A população da Indonésia é 88% muçulmana, mas Bali é predominantemente hinduísta e a religião é levada à sério por lá. Nada de circular dentro de templos, mesmo que sejam apenas ruínas, de forma inadequada. Ombros e pernas sempre cobertas. A cultura é riquíssima com suas danças, religiosidade e oferendas diárias, que enfeitam as entrada de estabelecimentos comerciais e casas. Elas estão em todos os lugares. São as Canang Saris, oferendas feitas em cestinhas de folha de palmeira preenchidas com alimentos como arroz, banana, flores, incenso e uma moeda.

Curiosidade

Bali. Foto: Lalai Persson
Bali. Foto: Lalai Persson

O sistema de nome dos balineses é algo bem curioso. Na ilha, os bebês ganham seu primeiro nome de acordo com a ordem de nascimento: o primogênito, sendo menino ou menina, pode se chamar Wayan, Putu ou Gede; o segundo filho, Kadek ou Made; o terceiro, Nyoman ou Komang; já o quarto tem apenas uma opção, Ketut. Se vier um quinto, retorna a sequência inicial.

E há uma coisa muito especial em Bali: o povo é um dos mais simpáticos que eu já conheci. Tem uma delicadeza no ar balinês que é encantadora e é impossível não se render a isso.

A moeda

Rúpia, o dinheiro da Indonésia. Foto: Lalai Persson
Rúpia, o dinheiro da Indonésia. Foto: Lalai Persson

A moeda é a rúpia, que tem valor baixíssimo: 10.000 IDR (Rúpia da Indonésia) = R$ 2,50. A primeira dica é: tenha dinheiro vivo, pois muitos lugares não aceitam cartão de crédito, inclusive passeios com guias, motoristas para viagens mais longas e muitos restaurantes.

Caso chegue no aeroporto sem dinheiro local, faça um saque inicial por lá mesmo. Cuidado com caixas eletrônicos, pois clonagem de cartão é algo comum.

A chegada

Aeroporto em Denpasar, em Bali.
Aeroporto em Denpasar, em Bali. Foto: Kojach

A chegada pelo aeroporto de Denpasar, o principal da ilha, pode ser caótica. Muitos voos, muitos motoristas e shuttles esperando os viajantes, fila gigante para a imigração, onde você não sabe se o cara que te atendeu está recebendo você bem ou se está tirando sarro da sua cara.

A primeira dica é: tente agendar um motorista previamente para buscar você no aeroporto. Bali é o tipo de lugar em que negociações com taxistas podem ser extenuante. Contactei um motorista que me indicaram, que me cobrou 350.000 rúpias para me levar do aeroporto à Ubud, meu primeiro destino na ilha, numa viagem de 1h30.

Ainda no aeroporto, recomendo comprar chip para o celular, num quiosque logo na saída do desembarque, pois fora de lá será mais difícil conseguir um. Custa cerca de 400.000 rúpias.

Andando para lá e para cá

Dirigindo moto em Bali
A nossa motoca em Bali (a Van na foto). Foto: Lalai Persson

Um outro problema enfrentado em Bali é o trânsito, provavelmente um dos piores do planeta. Por isso, o mais fácil é transitar em cima de duas rodas. Por lá, o transporte oficial é a motocicleta. Eu, que não nasci exatamente para este veículo, acabei refém de Uber e mototáxi. O trânsito é um caos e completamente parado a qualquer hora do dia. Percorrer 30km pode levar duas horas de carro.

Alugar uma scooter com capacetes (exija sempre) custa menos de US$ 10 a diária e pode ser feito com a ajuda do hotel onde ficar hospedado.

A corrupção também se faz presente. Por mais que acreditamos ser experts para driblar o assunto, somos bem primários. Por isso, nunca ande sem capacete e prepare-se para ser extorquido por policiais que poderão pará-lo a qualquer momento para ganhar alguns trocados. Eles vão achar problemas que não existem com a moto ou com a documentação. O detalhe é que os locais não usam capacete, carregam a família inteira e até o cachorro numa simples scooter e não sofrem tal assédio como os turistas.

Quando ir

Vulcão Mt. Batur, Ubud, Bali
Pegamos dias bem nublados em Bali, pois fomos na época das monções. Foto: Lalai Persson

Eu visitei Bali em dezembro, que é ainda baixa temporada e época das monções. Com um pouco de sorte, eu acabei não pegando muita chuva, mas é um período arriscado para visitá-la. As vantagens são os preços de hotéis que ficam realmente baixos. A baixa temporada é de 9 de janeiro a 30 de julho e 16 de setembro a 20 de dezembro.

A alta temporada é em julho, a primeira quinzena de setembro, além do Ano Novo Chinês e Páscoa. É ainda mais difícil transitar de carro pela ilha e os preços das acomodações sobem bastante. Mas o pico mesmo é agosto, e de 20 de dezembro a 9 de janeiro, pois muita gente segue para passar a virada do ano por lá. Agosto tem, porém, uma das melhores temperaturas do ano, enquanto dezembro é quente e umidade é elevada. Qualquer negociação é complexa nesta época do ano.

Onde ficar

Ubud

Puri Saraswati, o palácio da água, em Ubud. Foto: Lalai Persson
Puri Saraswati, o palácio da água, em Ubud. Foto: Lalai Persson

Esse foi meu primeiro dilema quando soube que as praias já não eram tão limpas. Fui na época de monções, que sempre piora a situação do lixo. Ao invés de me mandar para o litoral como era meu plano inicial, optei por começar por Ubud, paraíso dos iogues, da alimentação vegana e vegetariana e dos hippies. Mas não é só isso, o lugar é realmente mágico.

Comida crua no The Alchemy, Ubud.
Abusando da comida crua no The Alchemy, Ubud. Foto: Lalai Persson

É uma cidade pequena com parte da população formada por expatriados, algo possível de entender o porquê depois de passar alguns dias na região. É um dos lugares mais baratos em que estive, a cidade onde melhor comi na vida e, finalmente, relaxei.

Fazendo compras no Ubud Market.
Vanessa fazendo compras no Ubud Market. Foto: Lalai Persson

Não tem praia, mas tem vulcões, arrozais, floresta de macacos, templos e mais templos. Afinal Bali é sobre templos, que se espalham ao longo de suas ruas e também em lugares ermos. Muitos dos templos hoje estão em residências particulares, restaurantes, hotéis, spas.

Alila Ubud Hotel, Bali
Alila Ubud Hotel, um dos hotéis mais chiques de Ubud.

A rede hoteleira é extensa, com grandes resorts, que oferecem ótimos cafés da manhã à la carte, spas e, muitas vezes, vistas para os belos campos de arroz. Os preços são super convidativos. É possível ficar em hotéis cinco estrelas por R$600 a noite. Mas nem precisa tanto, pois há hotéis dignos das cinco estrelas por R$150 a noite. Cuidado na hora de escolher, pois há muitos hotéis que não ficam na área central ou nos arredores dela. Todos oferecem shuttle para o centro quando não ficam nele, mas aí fica-se preso a horários, especialmente à noite.

Frutas, frutas, frutas Bali
Não faltam frutas saborosas em Bali. Foto: Lalai Persson
Almoço típico balinês
Almoço típico balinês servido na folha de bananeira pós passeio com a Sepeda Bali. Foto: Lalai Persson

Ubud vale muito a visita. É o tipo de lugar que a gente só entende quando conhece. Bons restaurantes não faltam e passeios também não. A minha melhor descoberta foi o Sepeda Bali, uma pequena empresa de ciclismo comandada pelo simpático Wayan, que fala um bom inglês, tem uma cultura e conhecimento local muito rico, e proporciona passeios muito únicos, seja de mountain bike ou com caminhadas. Os passeios começam no início da manhã e duram até o meio da tarde, com visitas a lugares menos óbvios e conhecidos. O almoço é feito na casa dos pais dele, o que torna o passeio ainda mais especial. Isso além de visitas à plantações de café e paradas para comer frutas locais fresquinhas. Valeu cada centavinho dos R$ 150 pagos, que incluíram alimentação, transfer do hotel e os passeios, além do ótimo papo e do bom-humor do Wayan.

Tegallang Rice Terrace, Ubud, Bali. Foto: Lalai Persson
Tegallang Rice Terrace, Ubud, Bali.
Cachoeira Tukad Cepung
Cachoeira Tukad Cepung, Bangli, Bali. Foto: balidirections.com

Lugares imperdíveis na região são o Tegallang Rice Terrace; a cachoeira Air Terjun Tukad Cepung, uma das mais lindas que já visitei; o vulcão Mt. Batur, onde dizem que o pôr-do-sol é de chorar de tão lindo; a Ada Garuda Gallery para conhecer as esculturas monumentais de madeira feitas pelo artista Made Ada e, quem sabe, comprar suas lindas máscaras de madeira; o complexo de templos Pura Besakih, um dos mais imponentes da região; o templo da água sagrada Tirta Empul, construído no ano 960, considerado patrimônio da humanidade pela UNESCO, onde é possível fazer um ritual de purificação em suas águas sagradas; o palácio da água Puri Saraswati, um templo belíssimo no meio da cidade.

Seeds of Life, Raw Food, Ubud, Bali
Salada maravilhosa do Seeds of Life. Foto: Lalai Persson

Come-se muito bem em Ubud, mas não fique nas principais avenidas, onde ficam os restaurantes mais turísticos e caros. A cidade é ótima para um detox alimentar à base de comida crua, a raw food, feita de forma bem criativa. Os restaurantes Alchemy e The Seeds of Life são ótimas opções e pode surpreender até os que não dão a mínima para o veganismo. Quem quiser uma comida típica balinesa, o Warung Biah Biah é bem central, e tem pratos e sucos deliciosos, além de preços arrasadores.

Green School, Ubud, Bali
Green School, Ubud, Bali. Foto: Lalai Persson

Quem curte yoga, o The Yoga Barn é parada obrigatória. Iogues do mundo inteiro visitam a escola. Para quem se interessa ao tema Educação, a Green School é impressionante tanto pela sua arquitetura feita toda de bambu com salas de aulas abertas, quanto (principalmente) pelo conceito educacional aplicado.

Considerada a escola mais verde do mundo, a Green School fica no meio da floresta, onde busca integrar disciplinas tradicionais às aulas sobre meio-ambiente com aprendizagem ambiental e experiencial, baseadas em sustentabilidade e foco no aprendizado personalizado. A escola chama a atenção com sua estrutura toda feita à base de bambu. É possível visitá-la através de inscrição e até mesmo se hospedar na Green Village.

Praias

Potato Head Beach Club, Seminyak, Bali
Potato Head Beach Club, Seminyak, Bali. Foto: Lalai Persson

Como falei no início, as praias mais populares ao sul da ilha estão cheias de lixo e são mal cuidadas. Já as cidades são charmosas, cheias também de terraços de arroz, jardins e, claro, o povo sorridente. Canggu, Seminyak e Uluwatu são as mais procuradas. Eu escolhi a primeira para ficar. A minha primeira surpresa foi assistir ao pôr-do-sol com o mar cheio de surfistas. É uma imagem inesquecível.

Arrozal em Canggu, Bali
Campo de arroz no meio de Canggu, Bali. Foto: Lalai Persson
Canggu, Bali
Canggu é cheia de lojas charmosas espalhadas por suas pequenas ruas. Foto: Lalai Persson

Mas pegar praia por ali mesmo não rola, a não ser que sua onda seja surfar. A boa pedida é escolher um beach club para chamar de seu e passar o dia tomando bons drinks e comendo à beira de piscinas de fundo infinito. Quem procura por festas e mais festas, o destino é Kuta, também um dos lugares favoritos para quem está aprendendo a surfar. Mas não é exatamente o lugar mais bonito de Bali.

Nusa Penida, Indonésia
Nusa Penida, Indonésia. Foto: gcnmrk5ii

Claro que há praias ainda de cair o queixo nos arredores de Bali, mas elas são mais distantes. Quem gosta de mergulhar e procura por um pequeno paraíso, como Nusa Penida e seu cenário paradisíaco, ficará feliz com o que vai ver. O jeito mais fácil para chegar lá é pegar um barco na praia Sanur, em Denpassar.

Gili Meno, Indonesia
Gili Meno, Indonesia. Foto: Smulan77

As ilhas Gili, ao norte, também possuem praias paradisíacas onde, mergulhando com snorkel, você poderá nadar com tartarugas marinhas. Gili é formada por três pequenas ilhas: Gili Trawangan, Gili Meno e Gili Air. Elas ficam no mar entre Bali e Lombok e oferecem hospedagens para todos os bolsos, vida noturna e, claro, praias lindas de tirar o fôlego.

A conclusão é que, mesmo com todos os problemas enfrentados por Bali, a viagem é especial. É longe e cansativo chegar lá, mas todo esforço é válido. Bali conquista os nossos corações sem a gente perceber, deixando todos que vão para lá, cheio de saudades e querendo voltar.

*Foto capa: Bali por Aristocrat Hat

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

24 de January, 2017

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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