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Nos labirintos de Héraklion, capital da ilha de Creta

Quem escreveu

Kamille Viola

Data

29 de May, 2017

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Urbanizada, Héraklion (ou Iráclio) é a quinta maior cidade da Grécia e a maior e mais populosa da ilha de Creta — no último censo, em 2011, eram mais de 170 mil habitantes. Está longe do que imaginamos quando ouvimos falar em Ilhas Gregas, com suas águas azuis límpidas e casario branquinho (culpa da popularidade das Ilhas Cíclades, grupo do qual fazem parte as famosíssimas Santorini e Míconos). Mas não deixa de ser concorrida: ali, guardam-se alguns dos principais tesouros arqueológicos da Grécia. O mais famoso deles é o Palácio de Knossos, que fica próximo à capital de Creta.

Na maior das cerca de 3 mil ilhas gregas (menos de 250 são habitadas) e a que fica mais distante do continente, há vestígios de que Creta tenha sido ocupada desde 6000 AC, período Neolítico. As primeiras peças de cerâmica surgiram por volta de 5700 A.C. De 3000 A.C. a 1100 A.C., a região abrigou a civilização minoica — o nome deriva do rei Minos, que não se sabe se era um título de uma dinastia ou o nome de um regente —, considerada uma das mais desenvolvidas do mundo antigo. Segundo a mitologia grega (nascida justamente dos minoicos), ali viveu Zeus, o Rei do Olimpo.

Heraklion foi fundada em 824 DC por árabes muçulmanos (então chamados sarracenos, termo hoje considerado pejorativo) que dominaram parte da Europa, que construíram um enorme fosso ao redor da cidade. Nessa época, era chamada Khandaq, que signifca justamente “fosso” em árabe. Em 961, foi atacada pelo Império Bizantino, que ficou no controle do lugar até vendê-lo para os venezianos, em 1204, como parte de um acordo político. Eles aumentaram o fosso e construíram uma enorme muralha em torno da cidade, do qual boa parte ainda está de pé, e um forte no porto — chamado então de Rocca al Mare e hoje conhecida como Fortaleza de Koules. O nome da cidade se tornou Candia, em italiano.

Em seguida, foi a vez do Império Otomano, que sitiou a cidade por 22 anos em uma guerra em que morreram 30 mil venezianos e 120 turcos. Os venezianos acabaram entregando-a em 1669. Durante a ocupação, foi chamada de Megalo Kastro, que significa “grande castelo”. Com a retirada dos turcos, em 1898, os gregos resolveram batizá-la com um nome típico de sua cultura, escolhendo Héraklion, que significa “cidade de Héracles”. Em 1913, como toda a ilha, foi incorporada ao então reino da Grécia.

Durante a Segunda Guerra Mundial, foi mais uma vez ocupada, dessa vez pelos alemães. Durante a Batalha de Creta, Héraklion foi bombardeada pelas tropas nazistas, o que fez com que parte dos edifícios históricos da cidade fosse destruída.

O porto de Héraklion é uma das entradas da cidade. Foto: Ania Mendrek

Informações gerais

Chega-se à cidade de barco ou avião. Creta possui três aeroportos: o de Héraklion, o de Rethymo e o de Chania, que fica a oeste da ilha (são quase três horas de ônibus de Héraklion até lá e quase duas de carro). Há voos diários de Atenas e outras cidades grandes a Héraklion.

Muita gente aluga carro ou moto para circular pela ilha. Mas se você não dirige (como eu), a cidade é bem servida de ônibus no verão (como acontece em boa parte das ilhas gregas, fora da alta temporada há menos horários). São duas rodoviárias: a estação A, próxima ao porto, é de onde saem as linhas para outras cidades (Chania, Rethymo e Lasithi) e para a parte leste de Héraklion. A estação B, no portão de Chania (Chaniaporta), reúne as linhas para o sul da cidade. Você pode conferir as principais rotas aqui. Os ônibus azuis operam dentro da cidade e até Knossos, e os verdes são intermunicipais.

O que fazer

O Palácio de Knossos é o principal ponto turístico da ilha, ou pelo menos o mais famoso. Segundo a lenda, ali ficava o labirinto do Minotauro da mitologia grega. De acordo com a história, o lugar foi projetado pelo arquiteto Dédalo (pai de Ícaro, aquele das asas de cera que derreteram com a proximidade do sol) a pedido do Rei Minos, para prender o Minotauro, um ser com corpo humano e cabeça de touro. Minos descumpriu uma promessa feita ao deus do mar, Poseidon, e a deusa Afrodite fez com que Pasífae, a mulher do rei, se apaixonasse perdidamente por um touro. Ela acabou dando à luz o Minotauro, uma criatura comumente retratada com cabeça de touro e corpo de homem, que, ao crescer, tornou-se ferroz, devorando seres humanos. Minos, após consultar o oráculo em Delfos, pediu a Dédalo que criasse um gigantesco labirinto para abrigar o ser. Acredita-se que a lenda tenha surgido a partir do próprio palácio, uma construção cheia de compartimentos.

Houve um primeiro palácio, construído em 2000 AC, que foi destruído por um terremoto entre 1700 e 1600. Outro edifício, ainda maior, cobrindo uma área de 20 mil metros quadrados, foi construído no local. Por volta de 400 A.C. o palácio foi novamente destruído, acredita-se que por um incêndio causado pela erupção do vulcão de Thera (hoje Santorini).

Apesar de sua inegável importância como sítio arqueológico, Knossos também é cercado de controvérsia. Suas ruínas foram reveladas pelo arqueólogo inglês Arthur Evans em 1900, que logo tratou de nomear a civilização que ali habitara de minoica. No entanto, ele reconstruiu diversas partes do que imaginava ser o palácio, e o resultado está longe de ser uma unanimidade entre os gregos.

O Palácio de Knossos, principal ponto turístico de Creta. Foto: MaxPixel

Menos intervenções sofreu o Palácio de Festos, que teria sido o segundo maior da ilha. Na mitologia, foi habitado por Radamanto, irmão de Minos. É atribuída a ele a organização do código de leis cretense, que serviu de modelo a várias cidades gregas. Foi expulso a ilha por seu irmão Minos, que tinha ciúme de sua popularidade. Ali, foi encontrado o Disco de Festo, um importante achado arqueológico, em 1908, pelo italiano Luigi Pernier. A relíquia, que traz inscrições até hoje não decifradas, está em exposição no Museu Arqueológico de Héraklion.

O Disco de Festo, achado arqueológico da ilha. Foto: C Messier

Por falar nele, o Museu Arqueológico de Heraklion fica no centro da cidade e é considerado um dos mais importantes do país. Ele abriga artefatos de diversas fases da pré-história cretense, um período de 5.500 anos. Grande parte dos objetos encontrados no Palácio de Knossos está ali. Também possui um café. Por coincidência, fomos no fim do semana do Dia da Comunidade Europeia: a entrada era grátis, então pudemos sair para almoçar ali perto e voltar para ver mais — ficamos um dia inteiro e não conseguimos terminar.

O centro da cidade é a Praça Eleftherias (da Liberdade), que fica bem próxima ao porto. Ali, há uma estátua do escritor cretense Nikos Kazantzakis e outra do líder grego Eleftherios Venizelos, primeiro-ministro que é considerado pelos cretenses o pai da Grécia moderna. Ali perto, está a Rua Dedalou, uma região movimentada onde há cafés, restaurantes e lojas. Nos arredores, também fica o Parque Georgiades, para quem quiser fugir um pouco da agitação da cidade.

O Portão de Agios Georgios (São Jorge) servia como passagem entre a cidade e o porto na época do domínio veneziano.  Depois de descer uma escada de pedra, chega-se a uma sala com uma abóboda, que frequentemente recebe exposições de arte.

A Fortaleza Veneziana de Koules, no antigo porto. Foto: Bernard Gagnon

A oeste, onde fica o antigo porto (que hoje só é utilizado por pequenas embarcações), está a Fortaleza de Koules, considerada por muitos o maior monumento de Héraklion. Construída no século 16, era chamada de Rocca al Mare (“pedra sobre o mar”) ou Castello al Mare pelos venezianos. O nome atual teria vindo, dizem, da expressão turca Su Kulesi, ou “torre de água”. Além das grandes dimensões do edifício, que tem 26 cômodos, chamam a atenção os relevos em mármore retratando o leão de São Marcos, símbolo de Veneza, em três de suas paredes. Já serviu como prisão para cretenses que se rebelaram contra as sucessivas ocupações e, por isso, tem fama de mal-assombrado. O local não abre às segundas-feiras. É grátis aos domingos entre novembro e março, e também no primeiro domingo de cada mês (exceto quando cai num feriado, aí é grátis no segundo domingo do mês), menos em julho, agosto e setembro. No verão, acontecem espetáculos por ali, então vale conferir a programação: dá para imaginar que beleza?

Bem perto do porto fica o Museu Histórico de Creta. Fundado em 1953, inicialmente ocupava um casarão neoclássico que pertenceu ao magnata Andreas Lysimachos Kalokerinos. Nos anos 70, ganhou uma nova ala, combinando arquitetura moderna e neoclássica. Conta a história de Creta desde os primeiros séculos após o nascimento de Cristo até o século 20, com objetos dos períodos Bizantino e Veneziano e da Segunda Guerra Mundial, com foco na Batalha de Creta, além de quadros do pintor El Greco e memorabília do escritor Nikos Kazantzakis, autor de ‘Zorba, o Grego’. Fecha aos domingos e feriados.

Não muito longe dali, na Praça Eleftheriou Venezilou, fica a Fonte Morosini (também conhecida como Liondaria, em grego, ou Fonte dos Leões), outro famoso ponto turístico local. O destaque são os quato leões que jorram água pela boca, datados do século 14. O monumento tem oito cisternas com cenas da mitologia grega em alto-relevo. Foi inaugurada pelo governador Francesco Morosini no período Veneziano e utilizava um sistema que trazia água do Monte Youchtas para a região central da cidade.

A Fonte Morozini ou Fonte dos Leões. Foto: Danbu14

A poucos minutos da fonte, fica a Rua Chandakos, exclusiva para pedestres e cheia de lojinhas e cafés.

Ali perto também está a Rua 25 Avgoustou (25 de Agosto) tem esse nome por causa de um massacre ocorrido nesse dia em 1898, em que muitos cretenses e ingleses foram mortos pelos turcos. Isso levou Grã-Bretanha, França e Rússia a reconhecerem a luta da ilha, e esses acontecimentos acabaram levando à declaração do Estado de Creta e, em 1913, à unificação com a Grécia.

Na mesma rua, está a catedral ortodoxa de Agios Titus (São Tito), discípulo de São Paulo que pregou em Creta durante o domínio romano, foi bispo da ilha e morreu na cidade de Gortina, onde há uma basílica do século 7 em sua memória. A igreja de Héraklion foi construída no segundo período bizantino e era a catedral da cidade. Foi seriamente atingida por um incêndio em 1544. Durante a ocupação otomana, virou uma mesquita. Atual estrutura é resultado de diversas obras depois que ele foi quase que inteiramente destruída por um terromoto em 1856. São Tito é o padroeiro de Creta e seu dia é comemorado em 25 de agosto.

Outro imponente edifício histórico é a Loggia Veneziana, que foi construída no século 16 e, na época, era um local de encontros sociais e políticos da alta classe cretense. Atualmente, funcionam ali a sede da Prefeitura, o Tribunal de Justiça, a Delegacia de Polícia e a Polícia de Turismo.

A Loggia Veneziana, construção do século 16. Foto: Constantinos Tziamalis

A antiga Basílica de Agios Markos (São Marcos), que hoje abriga a Galeria Municipal de Arte, é uma construção de 1239 e que chegou a ser a Catedral de Creta. A ideia é que o local hospede o acervo apenas temporariamente, enquanto o prédio definitivo não é construído.

Do outro lado, descendo a 25 Agvoustou, chega-se à Rua 1866 (o nome faz referência à insurgência dos cretenses contra a ocupação turca), que abriga o mercado central de Héraklion, no trecho entre a rua Meidani e a Praça Kornarou. Ali, estão à venda frutas, legumes e verduras, especiarias e ervas, queijo, carnes, frutos do mar, peixes, bebidas como o raki (destilado à base de bagaço de uva, como a grappa italiana) e os famosos azeite e mel de Creta, além de roupas, calçados e souvenires. Também há cafés e restaurantes.

O mercado central da cidade, com sua diversidade de produtos. Foto: Böhringer

Seguindo até a Praça Kornarou, mais um exemplar da arquitetura veneziana na cidade: a Fonte Bembo, até onde se sabe a mais antiga da cidade, construída em 1588 pelo arquiteto Zuanne Bembo. Durante muito tempo, acreditava-se que a estátua de um homem sem cabeça tinha poderes, e em maio eram organizados rituais em homenagem a ele. A praça tem este nome em homenagem a Vitsenzos Kornaros (1553-+ou-1614), autor do poema épico ‘Erotokritos’, considerado uma obra-prima do período renascentista cretense e orgulho local.

Ainda nas redondezas, na Praça Agia Ekaterini (Santa Catarina), está a Catedral de Agios Minas (São Minas), padroeiro de Héraklion, uma das maiores igrejas da Grécia, com capacidade para 8 mil pessoas. Começou a ser construída em 1862, mas as obras foram interrompidas pelas inúmeras batalhas que aconteceram na cidade. Em 1896, foi inaugurada.

A Catedral de Agios Minas, santo padroeiro da cidade de Héraklion. Foto: Bernard Gagnon

A praça tem ainda a Igreja de Agia Ekaterini, uma construção de 1555, que surgiu como Monastério. Em 1669, foi convertida na mesquita de Zulfikar Ali Pasha. Permaneceu assim até 1922, quando os últimos muçulmanos deixaram a cidade. A igreja abriga ícones bizantinos e objetos religiosos, como manuscritos, roupas e pinturas, abarcando seis séculos de história da Igreja Ortodoxa. Também estão ali seis trabalhos de Michael Damaskinos, um dos maiores expoentes da escola cretense de pintura.

A cidade antiga é cercada por uma muralha medieval com sete bastiões, construída para protegê-la dos inimigos. A fortificação conseguiu resistir ao cerco otomano por 21 anos até que, em 1669, um traidor revelou aos turcos as fragilidades dos muros. Passou por algumas reconstruções, devido às constantes invasões sofridas por Héraklion. Os mais animados andam por cima da muralha, para ter uma vista privilegiada da cidade.

Praias

Embora as praias mais bonitas de Creta estejam distantes, quem se hospeda em Héraklion também pode aproveitar as águas da ilha. Em pelo menos duas, Almyros e Amnissos, é possível chegar por ônibus de linhas locais. São praias organizadas, com restaurantes e serviço de aluguel de cadeira e guarda-sol, e de areia, como estamos acostumados no Brasil.

Não tivemos tempo de ir a Matala, mas nos foi fortemente recomenda pelos guias locais. A praia fica a 68 quilômetros de Héraklion e conta com uma bela formação rochosa, areia clara e fina e água azul-clara límpida. As grutas da praia são artificiais e foram criadas no período Neolítico. Mais tarde, foram usadas pelos romanos como tumbas. É organizada.

Foi um point hippie nos anos 60, quando não tinha praticamente estrutura nenhuma — esse amor foi imortalizado na música “Carey”, de Joni Mitchell, do disco ‘Blue’, de 1971: “The night is a starry dome/And they’re playin’ that scratchy rock and roll/Beneath the Matala moon“. Mitchell compôs a música para Cary Raditz, que ela conheceu na praia e que se tornou seu namorado. Viveram juntos em uma das cavernas que existem na rocha por alguns meses.

Matala foi frequentada pelos hippies nos anos 60 e é citada em canção de Joni Mitchell. Foto: Nikater

Aldeias

Para se sentir em uma ilha grega típica, no entanto, se você tiver tempo, vale a pena ir a alguma aldeia tradicional. Archanes fica a cerca de 14 quilômetros de Héraklion e a sete do Palácio de Knossos. Cercada por colinas com plantações de oliveiras e videiras, existem vestígios de que venha sendo continuamente habitada há 5 mil anos. A cooperativa agrícola local é uma das mais antigas da Grécia e até hoje é produz elogiados vinhos. Está dividida entre Kato Archanes e Epano Archanes, cidade baixa e cidade alta. Tem menos de 4 mil habitantes e passou por um premiado trabalho de recuperação. É possível ir de ônibus da estação A de Héraklion (saem diversos por dia).

Agios Nikolaos é maior, mas não chega a ser grande: são cerca de 26 mil habitantes. Sua bela geografia combina mar e montanha, com destaque para o Lago Voulisméni, no centro da cidade, e o Golfo de Mirabelo.  A cidadezinha ganhou projeção internacional em 1963, quando Walt Disney e a equipe do filme ‘O segredo das esmeraldas negras’, dirigido por James Neilson e uma produção da Disney, se hospedaram por lá. O diretor Jules Dassin também se hospedou no lugar, quando filmou em Kritsa (a 15 minutos de carro de lá) ‘He Who Must Die’, filme baseado no livro ‘Cristo recrucificado’, de Nikos Kazantzakis. É possível ir de ônibus a partir de Héraklion (estação C, próxima ao hospital) e agências oferecem passeios de um dia até lá.

O Lago Voulisméni, uma das principais atrações da cidadezinha de Agios Nikolaos. Foto: Martin Dürrschnabel

Comes e bebes

A comida cretense é uma das mais famosas da Grécia. A ilha, que é autossuficiente na produção de insumos, tem como um de seus carros-chefes o azeite de oliva, chamado de “ouro líquido”: são 60 oliveiras por habitante, dizem. Outro orgulho local é o mel de tomilho: as abelhas são criadas nos campos dessa erva, o que confere ao mel um sabor especialmente perfumado. Por sinal, os temperos dão um aroma único à ilha, que também tem plantações de orégano, sálvia, salsa, manjerição, feno-grego, dill e majerona, principalmente na primavera.

Os campos de tomilho são comuns na ilha e dão aroma perfumado ao ar. Foto: Lapplaender

Como não poderia deixar de ser, Creta tem seus próprios queijos: o graviera (amarelo; o nome é uma corruptela de gruyère, o famoso queijo francês), myzitra (macio e fresco, feito de ovelha — pode ser feito de cabra, aí se chama katsikithia — ou um mix de ambos) e a variação xinomyzithra (feito de soro com leite); anthotiros (“anthos” e “tiros” significam “flor” e “queijo”; é macio, feito na primavera, quando os pastos de ovelhas estão cheios de flores) e o pichtogalo chanion (fresco, macio e feito de leite de cabra ou ovelha, ou mix de ambos, com Denominação de Origem Controlada, ou seja, somente o produzido em Chania pode levar esse nome). Também em toda a parte da ilha está o iogurte, cremoso como em toda a Grécia.

Também por toda parte estão os paximadia (no singular, paximada), pães assados duas vezes, normalmente feitos de cevada ou farinha de grão de bico. Lembram torradas, mas sua massa é muito mais dura, tanto que são servidos mergulhados em azeite ou água para amaciar. Normalmente, vêm em saladas ou no dakos, espécies de bruschetta de paximada coberto por queijo branco e tomate (os de lá são especialmente saborosos).

Dakos, feito com paximada, o pão cretense de cevada coberto com tomate, rúcula e queijo. Foto: Damianos Chronakis

Também são comuns vegetais em conserva, como cebolas, alcachofras, e, é claro, azeitonas. A lathera é um preparo tipicamente grego que consiste em legumes feitos em alho ou cebola refogado no azeite com tomate e ervas. Como por exemplo fasolakia (vagem), ankinára (alcachofra) e Kolokýthi (abobrinha).

É claro que a ilha é rica em peixes. Mas, devido à grande exploração da pesca na região, eles costumam ser caros. Também comuns — e mais em conta — são as lulas, que são batidas contra pedras pra amaciá-las. Carne de coelho, cordeiro, porco e galinha também não muito comuns. Em geral, animais criados soltos e alimentados com produtos da ilha, o que os confere um sabor particular. Também é típico em Creta comer caracóis (dizem que são especialmente saborosos, por se alimentarem das ervas, mas não foi dessa vez que provamos). Um prato comum por lá é o gamopilafo, um arroz cremoso (como risoto) servido com carne cozida de cabrito. A hylopita, uma massa feita de semolina, é outra receita típica.

As frutas mais comuns em Creta são melancia, melão, figo e uvas — que em geral são servidas na sobremesa como cortesia, assim como uma dose de raki ou tsikoudia, destilado feito de bagaço de uva, ou rakomelo, que traz a bebida misturada com mel. Não ouse recusar, uma amiga avisou. As sobremesas são à base de mel.

A área externa do Loukoulos, um dos mais badalados da cidade. Foto: reprodução

As ruas Korai e Milatou têm muitos restaurantes bonitinhos. À noite, alguns ficam superconcorridos. O Loukoulos tem uma charmosa área externa arborizada, comida típica da ilha com toques criativos e (deliciosos) pães de fabricação própria feitos no forno à lenha. Muitos o consideram o melhor da cidade.

O Pagopoieion é um bar-restaurante que funciona numa antiga fábrica de gelo e é um dos points da noite de Héraklion. A arquitetura rústica do lugar contrasta com a ambientação moderna. Fica numa área concorrida da cidade. No verão, eles colocam mesas do lado de fora.

Ippokambos é um restaurante familiar sem frescura. A especialidade são os frutos do mar, preparados de forma simples e a preços razoáveis. Querido por locais e turistas, muitas vezes tem uma longa fila de espera. Das mesas do lado de fora, avista-se a Fortaleza de Koules.

Bastante frequentado pelos locais, o Parasties (que se chamava Parasies), próximo ao Museu Histórico, é famoso pelas carnes e legumes na brasa, além de uma boa seleção de vinhos locais.

Aberto mais recentemente, o Chickepea é um restaurante de uma cooperativa de agricultura colaborativa com comida orgânica e sasonal.

Onde ficar

Ficamos no Aquila Atlantis, um hotel moderno e confortável perto do porto. A escolha foi pela localização: não é especialmente charmoso, é “hotel com cara de hotel”, mas tem ótima estrutura, com um restaurante gostoso e bom custo benefício para almoço e jantar (em esquema de bufê e cobrados por fora). Quando reservamos, quase tudo na região já estava lotado, mas há opções mais em conta pela área. Mais antiquado, o Astoria fica em frente à praça (o ponto de ônibus que vai para Knossos fica na mesma calçada). Possui um café no térreo que é simples, mas gostoso, e com bons preços. Almoçamos por ali quando fomos ao Museu Antropológico, que é pertíssimo. A cidade também tem opções de hotéis-boutique, como o Lato (pertíssimo do porto), e o Olive Green, sustentável.

* Imagem do destaque: Arsenal Veneziano de Héraklion em foto de Wolfgang Moroder

Quem escreveu

Kamille Viola

Data

29 de May, 2017

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Kamille Viola

Kamille Viola é jornalista cultural, apaixonada por música, comida e viagens. Adora mostrar cantos menos conhecidos do Rio para quem vem de fora - e quem é da cidade também. É daquele tipo de gente para quem escrever não é uma escolha: é a única opção.

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Comentários

  • Excelente post, me ajudou muito a planejar minha visita a Creta, completo com muitas informações úteis, obrigada!

    - Cristina Bertoncini
    • Opa, que ótimo!!! Boa viagem pra você!

      - Lalai Persson
  • Muito bom

    - Wanilda borges
  • Excelente aula, dica e informação de cultura grega, mitologia e culinária. Parabéns!

    - Jorge Dos Santos

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