Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Um casal de amigos se mudou para Paris. Ele tinha sido transferido a trabalho, e ela largou tudo para se mudar com ele, e buscar novos rumos para sua vida. Natural da pequena Cataguases, em Minas, ela estava habituada à vida pacata do interior, mesmo morando em São Paulo há muitos anos. Chegando na capital francesa, ele estava tentando se ajustar aos modos europeus, mais regrados e sisudos que os nossos. Ela, em compensação, continuava circulando com a displicência brasileira. E assim, sempre que ela atravessava a rua em qualquer lugar, sem se preocupar com a faixa de pedestre, eles gritavam: ‘Ê, beleza, tá achando que ainda tá em Cataguases?’ Com o tempo a piada evoluiu para um ‘Lá vai a Cataguases’, até chegar ao simples ‘Ê, Cataguases!’
Eu achei graça, e adotei o meme. Mesmo sendo um fiel adepto da malemolência brazuca que ignora as normas de segurança e segue a lei da geometria, segundo a qual a menor distância entre dois pontos é uma linha reta. Mesmo que essa linha cruze a rua na diagonal. Eu sei, estou completamente errado. A faixa de pedestre existe por um motivo bem sério, mas é difícil levá-la a sério no Brasil, onde os motoristas parece que se esforçam para ignorá-las. (Faço de novo a mea-culpa, e assumo que tenho que fazer um esforço brutal para lembrar de sempre dar preferência para os pedestres nas faixas).
Certo estava meu amigo, que entrava na onda da conduta francesa e não caía na tentação de Cataguases. Em alguns países, as leis de trânsito regulam também os transeuntes, e ai de quem as desafia. Minha mãe conta que lá nos idos dos anos 70, uma vez na Suíça, atravessou a rua de qualquer jeito, com a malemolência tupiniquim. Mas não contava com estar sendo assistida por um virtuoso policial que a abordou, mandou voltar para o outro lado, e cruzar novamente, mas dessa vez como manda a lei. Por pouco ela não leva uns pontos na carteira de andante.
É difícil entender a dificuldade do brasileiro em respeitar as faixas. Parece que as únicas que não passam desapercebidas são aquelas que contam com outros recursos de segurança, como sinais ou lombadas. Existem até estudos que indicam que a faixa de pedestre dá uma falsa sensação de segurança, e podem ser até mais perigosas por isso. Mas já pensou o que seria um cruzamento como o de Shibuya se não fosse por elas?
Sinceramente, acho que um dos fatores mais fortes para as coitadas as faixas serem ignoradas sumariamente é seu desenho zebrado tedioso. Acho que a criação de faixas com um design mais arrojado deixaria as pessoas mais alertas, e as cidades mais bonitas, não? O Guardian fez uma seleção de faixas super artísticas e coloridas ao redor do mundo. Me diz se você não ia fazer um esforço maior para passar por elas? É só ter cuidado para não tirar selfie no meio da rua.
De volta a Paris, anualmente cerca de 4500 pessoas andando se envolvem em acidentes de trânsito por pura negligência. Isso mesmo com as intensas políticas urbanas de valorização do pedestres. Uma campanha maravilhosa foi montada para aumentar a conscientização da segurança para quem está a pé.
O Virtual Crash Bilboard funciona assim: quando alguém cruza a rua pela faixa de pedestre com o sinal ainda vermelho, um anúncio de rua digital emite um som quase real de uma freada busca de carro. Como se houvesse um carro em alta velocidade avançando sobre as pessoas, elas congelam e sentem o bafo da morte de perto, mesmo que seja de mentirinha. O anúncio, nessa hora, tira uma foto da cara de pavor da pessoa, e a coloca em um aviso para sua vida poderia estar em risco. Forte, não?
PS: Pesquisando sobre esse assunto, descobri uma coisa bizarra. Em Nova York (e provavelmente em quase todo o mundo), naqueles sinais de pedestre em que você aperta um botão para avisar que quer atravessar para ele abrir logo, o botão não funciona! Sim, ele é só um placebo. Com a tecnologia de hoje, e os supostos sinais inteligentes, esses botões não tem nenhuma serventia. Mas trocar os postes por novos botão-less sai tão caro que as cidades preferem largar eles lá. Isso, sim, é uma pegadinha!
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.