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O primeiro livro da Agatha Christie que eu li na vida foi ‘O Caso dos Dez Negrinhos’, a mando da professora de português nos idos do ginásio na década de 90. O livro tinha um clima tão aterrorizante e misterioso, que passei noites vidrado em suas páginas (e tendo sonhos tensos quando conseguia dormir). Foi paixão à primeira lida. Passei a devorar os livros da escritora inglesa – foram mais de 20 – mas o mais marcante foi sem dúvida meu segundo: O Assassinato no Orient Express. Foi nele que fui apresentado ao fascinante personagem principal que povoou meu imaginário por anos, o detetive-herói Hercule Poirot. Diferente do onipresente Sherlock Holmes, Poirot tinha uma inteligência mais palpável. Era menos insolente e mais debochado, com humor típico inglês. E a viagem em que acontecia toda a trama de conluio e homicídio, ah…. aquela viagem povoou meus sonhos por anos.
Hoje rememoro aquelas minhas descobertas da pré-adolescência, porque finalmente está para estrear o remake do filme baseado no romance. O original, de 1974, tinha um elenco soberbo (Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, Jaqueline Bisset, Anthony Perkins e Vanessa Redgrave, para citar alguns!), mas na minha inocência deslumbrada daquela época, me pareceu pouco sinistro. Acho que a expectativa pós-livro era alta. A nova versão não está menos estelar, contando com Kenneth Branagh, Willem Dafoe, Johnny Depp, Judi Dench, Penelope Cruz e Michelle Pfeiffer. E talvez o distanciamento e as novas tecnologias consigam trazer toda aquela emoção que a nostalgia promete. Dá uma olhada no trailer:
O Orient Express era uma linha de trem comum criada em 1883 pela Compagnie Internationale des Wagons-Lits. O trajeto original saía de Paris até Istambul, que ainda se chamava Constantinopla. Essa viagem acabou com o tempo se tornando sinônimo de luxo e conforto. Não porque fosse realmente luxuosa, mas naquela época viajar era bem mais difícil e perigoso. O Orient Express oferecia amenidades que o fizeram entrar no imaginário popular como algo muito glamuroso. Christie só ajudou a deixá-lo famoso, mas segundo o Atlas Obscura, não só viajaram nele artistas e espiões, como lá também ocorreram assassinatos.
A linha original funcionou até o fim da década de 70. A partir disso, a rota foi sendo modificada sucessivamente, bem como seus carros, acabando com o encanto místico (até porque ela deixou de chegar realmente ao Oriente). Antes de Istambul, o trajeto foi cortado em Bucareste. Nos anos 90, em Budapeste. E já nos anos 2000, em Viena. A última viagem do trem verdadeiro, de número 469, foi em 12 de junho de 2007, na rota Paris-Viena, depois de 126 anos. A concorrência com os modernos trens de alta velocidade europeus foi desleal. Um carro até se manteve com o lendário nome, saindo de Estrasburgo até Viena, até 2009, mas a magia tinha se perdido. Esse site super especializado em viagens de trem tem todos os dados para quem tiver curiosidade.
Recentemente, a companhia de trens Belmond (já falamos deles aqui) recriou o clima do Orient Express em uma viagem quase cenográfica. Eles pegaram carros de trem da década de 20, em estilo art-deco, restauraram completamente, e os adaptaram para as ferrovias modernas. Esses carros, do tipo LX, são os mais espaçosos e luxuosos construídos para a Wagon-Lits, mas não eram exatamente os usados no OE original. Mesmo assim, hoje é possível viver alguns dias quase como um Poirot – esperamos que ninguém seja assassinado na tua viagem.
A viagem da Belmond, chamada Venice-Simplon Orient Express, tem vários roteiros, ligando as cidades de Veneza, Verona, Londres, Viena, Budapeste, e até as essenciais Paris e Istambul. Existem viagens de 1 a 5 dias a bordo, incluindo refeições completas e elaboradas, café-da-manhã na cabine, ar condicionado e outros mimos. Tem até mordomo exclusivo (como no Blue Train)! Claro que essa brincadeira não sai nada barato, e os preços por pessoa variam de 500 a mais de 2000 libras! E o pior é que muitas delas já estão lotadas.
Com certeza a viagem no Orient Express já não é o que foi na época de ouro, e por esse preço não parece ser a forma mais prática, rápida ou eficiente de se viajar. Mas ao olhar essas fotos das cabines, confesso que não consigo segurar alguns suspiros. Talvez não seja nessa vida que eu vá ter meus dias dentro de um romance da Agatha Christie. Me resta pelo menos esperar ansiosamente o lançamento do filme para reviver um pouco dos sonhos de infância.
*Foto do destaque: O Orient Express na fronteira entre Liechtenstein e a Suíça – foto: Murdockcrc/WikiCommons CC BY-SA 2.5
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsOlha, tem uma peça infantil super legal em cartaz sobre o assassinato no Orient Express em Sampa que vale à pena mencionar! Da cia a vapor, no melhor estilo clown!
https://www.facebook.com/cia.a.vapor/
Amei! Eu também era obcecada por Agatha Christie quando era criança <3
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.