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Open’er Festival: a lição polonesa para festivais

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

08 de July, 2016

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Apresentado por

Decidi ir ao Festival Opener, porque conhecer a Polônia estava nos meus planos. Eu já estava com as passagens nas mãos quando divulgaram o line-up final. Ele não me impressionou e tive dúvidas se realmente valeria a pena a viagem. A dúvida persistiu até eu atravessar o portão.

A chegada
A chegada

Chegar lá não é das tarefas mais fáceis. O festival acontece em um aeroporto militar desativado da Segunda Guerra Mundial, afastado da cidade de Gdynia, no litoral polonês. Passamos cerca de 3 horas em um trem lotado e desconfortável saindo de Varsóvia, descobrimos que nosso hotel era exatamente do lado oposto do festival e já no primeiro dia foi impossível pegar o shuttle para o festival no centro da cidade. Eram 17h e não dava para saber onde começava e/ou terminava a fila. Ônibus saiam um atrás do outro, eu entrei em desespero e decidimos encarar um táxi, afinal a Polônia é relativamente barata. Até então, parecia que o perrengue daria o tom. (Apenas no terceiro dia decidimos ir de shuttle e foi a melhor coisa que fizemos. Levamos exatamente 20 minutos entre pegar a fila e chegar.)

Largados num estacionamento a cerca de 2km até a entrada, já começamos a nos impressionar com a estrutura. Banheiros químicos são instalados em todos os lugares onde há grande movimentação de público: da estação de trem de onde saem os ônibus, passando por todo o percurso até a entrada. Veio aquele pensamento “poxa, porque ninguém nunca pensou nisso?”. Se tem algo que eu não tive nenhum problema durante os 3 dias de festival, foi com os banheiros.

A chuva é uma ameaça constante no festival, já que chove muito na Polônia
A chuva é uma ameaça constante no festival, já que chove muito na Polônia

O Open’er é um festival grande, mas menor que o nosso Lollapalooza em tamanho de público, por exemplo, com público de cerca de 85.000 pessoas. Ainda assim, a área de camping é gigantesca, pois é a opção mais prática de fato para não se cansar tanto com a maratona de 4 dias em que ele acontece. Na ligação do camping com o festival tem mercadinho, bares, lojas e até mesmo “bancos”, onde você já pode comprar crédito para gastar lá dentro. A vantagem? O crédito é válido para os três os dias e o atendimento é muito mais rápido com ele em mãos. Essa rua fica lotada de pessoas sentadas bebendo, comendo, fumando e jogando conversa fora. Há até pessoas que armam um pequeno palco e fazem shows improvisados para arrecadarem dinheiro para comprar ingresso. Criatividade não falta.

Ao lado do palco principal. Alguém explica?
Ao lado do palco principal. Alguém explica?

No primeiro dia rolou uma pequena confusão para trocar o ingresso pela pulseira, mas depois disso a entrada de todos é bem agilizada. Na lateral da entrada fica a área vip construída numa estrutura de madeira de 2 andares com paredes revestidas de CDs, que são iluminados à noite com luzes dando um efeito bem especial ao lugar. Por ali uma grande área de descanso com direito a redes, pufes gigantes espalhados pelo gramado, banheiro de verdade com água quente na torneira, uma área fechada com bares e um restaurante, enquanto o segundo andar é aberto com espreguiçadeiras direcionadas estrategicamente para o palco principal.

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Os preços são convidativos. Cerveja e cidra e custam 8 PLN (cerca de R$7), enquanto a taça de vinho custa 12 PLN (R$11). Os drinks você encontra apenas nos bares montados pelas marcas de bebidas, que são bem movimentados e tem um line-up próprio com djs tocando ao longo do dia. Um ponto negativo: bebida alcóolica só pode ser consumida dentro de áreas cercadas, mas os poloneses não são muito dados a regras, e logo o tráfico de copos plásticos pelas grades rolou sem pudores. Ou seja, tem gente bebendo em todos os lugares. Raramente se pega fila, que se concentram no fim dos shows.

Outra coisa que impressiona são as áreas de alimentação, que ocupam as duas gigantescas laterais do campo onde ficam os palcos. Tem comida para todos os gostos: italiano, japonês, chinês, polonês, vietnamita, hambúrgueres, lojas de suco, sorveterias e tudo o que você possa imaginar. O grande sucesso é um típico sanduíche polonês que vem aberto e tem 53cm de comprimento e custa 20 PLN (uns R$18).

Cada área tem longas ruas onde acontece de tudo um pouco: lojas, ativações diversas de marcas, incluindo uma pequena praia (fake), banheiros, cabeleireiro, manicure, barbeiro e até uma oficina para você criar sua própria coroa de flores para a cabeça.

Nestas áreas também existem alguns palcos como o da Red Bull, o Silent Disco (que fica dentro de um túnel), um museu da música e uma área fashion onde acontecem desfiles de moda de designers locais, que também vendem suas criações por lá (e tem muita coisa legal). O mais surpreendente era um cinema, super concorrido, com uma grande muito bacana de filmes e documentários. A estrutura é surreal e impecável.

O Silent Disco, que fica num túnel incrível
O Silent Disco, que fica num túnel incrível

O público é bem variado e de todas as idades, mas na média é bem jovem como a maioria de festivais de música. Ainda assim se vê muita família (e até bebês!) e casais mais idosos. Garotas eslavas com shorts custíssimos e coques do Mickey convivem harmoniosamente com neo-grunges, pseudo-góticos descolados em geral. O público é animadíssimo e fica evidente que as bandas gostam de tocar por lá. Quase não há gringos e ouvi português apenas uma vez.

Mas o festival ganhou meu coração com a qualidade do som, que é perfeita. O palco principal é aberto e fica logo na entrada. Nos fundos, depois das caixas de som, há um terceiro telão de onde é possível também assistir ao show de longe. O segundo maior é fechado, mas no gramado lateral tem um telão com caixas que também transmite o show. Ou seja, dependendo do que estiver rolando, vale mesmo é se jogar na grama, tomar sol e curtir o show do telão mesmo. Entre os dois há outros dois palcos fechados, um dedicado à música eletrônica, e outro mais eclético, passando do folk à música experimental.

O festival começa às 16h, mais tarde que os habituais, e termina por volta das 4h30, mas os bares ainda esticam um pouco mais. A saída foi sempre rápida e o retorno para a cidade foi tranquilo, com ônibus saindo um atrás do outro (esperamos 3 minutos).

O grande problema de um festival com grande estrutura é que você quer aproveitá-la o máximo que puder, o que resulta em ver menos shows. No caso do Opener, a angústia não foi tão grande, já que o espaço entre os shows é bem organizado, e até dos shows intercalados dava para ver um pouco de cada.

Assistir aos shows é uma maravilha, pois as estruturas permitem que você enxergue o palco de quase todos os lugares em que estiver no no entorno dele. Os mais animados conseguem facilmente se locomover para ficar mais próximo à grade. Eu consegui chegar nela no show do LCD e do Sigur Rós sem problemas.

LCD Soundsystem
LCD Soundsystem
Sigur Rós
Sigur Rós

O primeiro dia foi marcado por uma tempestade anunciada bem no fim do show do The Last Shadow Puppets, que abriu o show com o cover de Mark E Smith-penned, ‘Totally Wired’. O Alex Turner, com uma animação absurda, dançou, rebolou, engatinhou, andou entre a galera, sensualizou com o Miles Kane e ainda improvisou também uma canção sobre o Tame Impala quando o céu fechou completamente cantando “There’s a storm brewing… there’s a storm brewing in the form of Tame Impala,” por longos minutos e adicionando ainda “Kevin Parker controls the weather system around here.” Também fez cover do Bowie com “Moonage Daydream”. O público foi ao delírio e assim que a banda saiu do palco, o mundo desabou e foi a maior chuva que pegamos durante os três dias. Foi um deus nos acuda, mas que de brinde trouxe dois arcos-íris 180º, que foi a sensação do instagram do dia.

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Savages fez um show poderosíssimo e foi mais incrível ver a banda tocando num palco fechado. A Jenny Beth é hipnotizante, chique e tem uma presença de palco absurda. Você nem precisa gostar da banda para gostar do show. Eu saí hipnotizada. Na mesma noite ainda teve a Florence, emocionadíssima, cantando e chorando com uma bandeira gay na mão, PJ Harvey dramática e etérea, e Tame Impala fechando a noite com seu show psicodélico.

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M83

O segundo e terceiro dias foram bem mais cheios, e enfrentaram só curtos chuviscos que não espantaram ninguém. A quinta começou com o divertido e energético show do Foals. Em seguida, o grande headliner foi Red Hot Chilli Peppers, mas que teve a atenção dividida com o jogo de futebol entre Polônia e Portugal, disputando um lugar nas quartas de finais. O grande telão numa área longe dos palcos para mostrar o jogo ficou lotada. O momento foi único. Enquanto os palcos em volta tremiam, por ali as pessoas espremiam os lábios, roíam as unhas e olhavam fixamente para a tela, boa parte delas vestindo a camisa da seleção polonesa ou carregando uma bandeira do país. O jogo se arrastou para os pênaltis deixando os palcos mais tranquilos, mas foi triste quando a seleção perdeu seu lugar para Portugal, mas aí os poloneses trataram de curar a dor de cotovelo como fazem bem: bebendo. A noite fechou com um show bonito e bem executado do Beirut, uma festa colorida de neon 80’s do M83, e encerrou com o show sempre intenso do Caribou.

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A sexta estava com a agenda mais tranquila para nós, já que não tivemos quase que nos dividir entre os palcos. Chegamos cedo, para conferir alguma coisa de bandas locais, e curti o electropop da Rysy. Depois, enquanto Wiz Khalifa arrasava para os admiradores, fui ver a polidez do Kurt Vile em um palco menor.

Provavelmente o LCD Soundsystem foi um dos mais esperados. O show foi vibrante, James Murphy engatou os hits antigos, muitos deles, como Tribulations, desconhecidos do público em geral. Apesar de lotado, eu consegui chegar na grade depois de cair numa roda de pessoas se debatendo, que me empurraram estrategicamente para onde eu queria estar, nos pés da banda.

O show do Sigur Rós foi o meu segundo do ano, mas me surpreendeu mais do que o do Primavera, talvez por estar mais tranquilo e eu estar próxima ao palco. Ver o Jónsi tocando sua guitarra elétrica com um arco de violino e com a sua voz, que parece ecoar os sons emitidos pelas baleias, praticamente simulando um instrumento musical  é de deixar qualquer fã vidrado. As pessoas não falavam, não piscavam, não se mexiam. Foi lindo de morrer. Ainda assistimos ao set ultra dançante do Paul Kalkbrenner, que agitou o povo até alta madrugada, mas o festival já tinha acabado para mim.

O sábado ainda tinha show do Pharrell Williams, mas a minha cota estava preenchida. Por acaso, conseguimos uma carona pelo Blablacar, dentro do espaço de ativação da empresa no festival, e aproveitamos para fugir um dia antes e ir conhecer mais um pouco as cidades fantásticas da Polônia.

*O Open’er é um dos festivais escolhidos para projeto A Volta ao Mundo em Festivais de Música. Fomos com a KLM Brasil, que faz parte do SkyTeam, oferecendo voos para 1.052 destinos em 177 países. #fly2fest

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

08 de July, 2016

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Apresentado por

Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.