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Desde os anos 1980, o renomado e premiado arquiteto britânico sir David Chipperfield nos brinda com algumas das mais incríveis obras da construção contemporânea, deixando seu indefectível toque minimalista ao redor do mundo.
O Museo Jumex na cidade do México, as flagship stores da marca italiana Valentino em Nova York, Milão e Paris, o Anchorage Museum, no Alasca, e o premiadíssimo Pavilhão da America’s Cup de iatismo, no porto da cidade espanhola de Valencia, são alguns dos principais projetos assinados por Chipperfield. E para o futuro, vale destacar o novo prédio da Royal Academy of Arts em Londres, do qual é membro, e a sede permanente do Prêmio Nobel em Estocolmo.
Em Berlim, o trabalho de Chipperfield teve – e ainda tem – um papel importante para a renovação e reconstrução arquitetônica da cidade após a queda do Muro. A reconstrução do Neues Museum, em grande parte destruído durante a Segunda Guerra, e dedicado à arte da Pré-História e do Egito Antigo e a galeria Contemporary Fine Arts são duas de suas mais importantes intervenções na cidade. A renovação da Neue Nationalgalerie – museu voltado para a arte dos anos 1900, projetado pelo mestre da escola Bauhaus Mies van der Rohe nos anos 1960 – e da antiga cervejaria Bötzow, um complexo de 24.000 metros quadrados destinado a exposições, coworking, lojas e restaurantes são dois de seus atuais trabalhos em andamento.
E como reconversão é a palavra-chave na reconstrução de Berlim pós-queda do Muro, David Chipperfield escolheu uma antiga fábrica de pianos, parcialmente destruída pelos bombardeios na Segunda Guerra, para ser o endereço de seu escritório na cidade. Localizado no bairro de Mitte, que ficava na antiga Berlim Oriental, o complexo de prédios projetados pelo arquiteto é anexo à antiga fábrica, que hoje abriga a maior parte dos ateliês e está situada ao lado de vários prédios de concreto pré-fabricado – os chamados Plattenbau. De custo reduzido e muito utilizados como solução rápida para a questão da moradia no pós-guerra, esses prédios são vistos hoje como enclaves resistentes à gentrificação, pois o baixo pé-direito e a reputação de #uglygermanarchitecture não atraem o interesse do mercado imobiliário berlinense.
Quatro novos cubos de concreto foram construídos no entorno da antiga fábrica e o que dá para a rua foi o escolhido por Chipperfield para ser seu apartamento triplex quando não está em Londres, onde mantém um outro escritório.
No pátio interno do complexo – sem qualquer indicação ou placa, mantendo o espírito minimalista tão caro ao arquiteto – um prédio de dois andares foi construído e nele instalado o refeitório dos empregados, resgatando a atmosfera da antiga fábrica de pianos. E para nosso deleite, o refeitório é aberto ao público.
Fiel à estética de Chipperfield, o cinza impera não só do lado de fora: as paredes são de concreto aparente e o piso, de cimento queimado. A pouca cor do lugar é garantida pelas cortinas de veludo azul turquesa desbotado, que cobrem as imensas janelas, e pela madeira das mesas e bancos.
A cozinha do restaurante (para o público) e refeitório (para seus empregados) é pilotada pela equipe que deu origem ao Das Lokal, que, como o próprio nome adianta, busca criar pratos e quitutes feitos com ingredientes coletados ao redor de Berlim. Laticínios, carnes e hortifrutis utilizados na preparação da comida são produzidos em Bradenburgo, um dos 16 estados da Alemanha e onde se situa a capital federal.
Mas, na realidade, as únicas semelhanças com uma cantina de fábrica são os avisos colocados nas mesas coletivas pedindo para que os comensais retornem os pratos e copos ao balcão e os pães – deliciosos, diga-se de passagem – e água da torneira servidos à vontade.
A atenção ao detalhe é imprescindível. Os pratos e talheres são da marca italiana Alessi e fazem parte das coleções Tonale e Santiago, obviamente desenhados pelo arquiteto, mas o guardanapo é de papel, só para manter um pouco o clima de refeição rápida de cantina.
Num almoço de quarta-feira, o restaurante estava lotado e o cardápio do dia incluía como entrada uma sopa de marmelo (em plena estação por aqui) e lentilhas coral e uma salada com queijo feta, pepino, maçã e pistache, e como pratos principais, bacalhau com purê de batata doce, sanduíche aberto de presunto com molho de manga e Lammhackbraten, especialidade da culinária alemã e que se parece com um bolo de carne à brasileira. A sobremesa do dia era um New York cheesecake.
Infelizmente, como nem tudo é perfeito (nem mesmo em meio a tanto minimalismo), o serviço no balcão de pedidos foi ruim e grosseiro, fazendo nos lembrar de trabalhadores revoltados com os baixos salários pagos em algum refeitório estatal da antiga Berlim Oriental…
Serviço:
Kantine
Joachimstrasse 11
10119 Berlin Mitte
Horário de abertura:
Segunda a sexta-feira das 8:30 às 19:00 (almoço das 12:00 às 15:00)
Foto de destaque: 360b / Shutterstock.com
No seu aniversário de sete anos, ganhou um globo terrestre e pouco depois já sabia (quase) de cor o nome das capitais dos países do mundo. Ainda não conheceu a Ásia e a Oceania, mas mudou há cinco anos para Paris e mora há dois em Berlim. É péssimo em senso de orientação. Sempre acaba se perdendo nas ruas transversais e achando aquele café ou loja que você vai ver indicado na edição de um guia de viagem só no ano seguinte.
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A refeição custou cerca de 15 euros com a sobremesa :)
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.