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As cervejarias de Bariloche

Quem escreveu

Renato Salles

Data

11 de November, 2015

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Os anos 1990 foram um pouco cruéis com alguns destinos. Com a estabilização da economia brasileira, o emparelhamento do Real com o Dólar e a possibilidade de parcelar pacotes de viagem, hordas de brasileiros saíram para desbravar o mundo, ou ao menos alguns lugares, que acabaram saturados. É o caso da Flórida, nos Estados Unidos, e Buenos Aires e Bariloche na Argentina. Eu digo cruel porque esses lugares pegaram uma má fama de destino de excursões barulhentas, já que é difícil de ver o que elas têm de (muito) bom.

Essa introdução nada mais é do que minha assinatura de confissão. Sempre tive preconceito contra Bariloche, que julgava como a ‘Porto Seguro da neve’. Mas finalmente estive lá ao fazer o Cruce Andino, saindo do Chile, e a cusparada para cima caiu em cheio na minha testa. Bariloche não é absolutamente nada do que pensei. É uma cidade linda e muito simpática, com natureza exuberante e muita coisa a oferecer além do esqui.

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Explico-me: existe uma montanha bem grande, com muita neve, e farta infra-estrutura para quem quer esquiar – o Cerro Catedral. Mas ela fica fora da cidade e, se quiser visitá-la, você tem que alugar um carro, pegar um táxi, ou usar duas linhas de ônibus (50 e 51) que saem do centro a cada meia hora. A viagem pode demorar de 20 minutos a quase uma hora, dependendo do movimento. Em compensação, quem fica na cidade tem muitas outras atividades que não envolvem neve. Desde passeios de barco pelo Lago Nahuel Huapi, trilhas e trekking pelo Circuito Chico dentro do Parque Nacional, até curtir as vistas incríveis dos Cerros Otto e Campanario, alcançados por um teleférico, e que foi eleito um dos 17 mirantes mais bacanas pela National Geographic.

Fora isso, a cidade ainda oferece boa gastronomia, muita balada (apesar de muitas ficarem cheias de grupos de formandos argentinos) e muito bons drinks. Chegando lá, eu já esperava uma farta seleção de vinhos, mas o que me surpreendeu foi mesmo a quantidade de cervejarias artesanais locais. O melhor de tudo é que a maior parte delas fica muito próxima uma das outras, no centro. Na minha curtíssima estadia, aproveitei uma noite chuvosa para investir em um animado bar-hopping para conseguir experimentar o máximo possível. Na mesma noite, foram quatro, espalhadas por três quarteirões e cada uma com características – e cervejas – diferentes. E todas valem uma visita. Salud!

Cerveceria Bachman

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A primeira cervejaria foi na verdade a última que visitamos, já na prorrogação da boemia, então a percepção e o paladar já não estavam grandes coisas. A Bachman começou em 2005, e dois anos depois, se instalou na esquina que está hoje (em um dia quente, que infelizmente não era o caso, deve ser uma das mais gostosas, por ter mesas de madeira do lado de fora). Mas isso não quer dizer que a cerveja não seja levada a sério. O dono, Andrés Llanes, diz a sua receita para uma bebida redondinha: água, cevada maltada, lúpulo e levedura, sem filtrar e sem pasteurizar. Das torneiras saem quatro tipos: lager clara, lager escura, ambar ale e uma ale frutada com framboesa.

Antares Cerveceria

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Ali perto fica a Antares, que apesar de ser considerada local, é originária de Mar del Plata. O povo de Bariloche, pelo visto, curte bastante, já que no dia que visitamos estava lotada de locais. Isso até fez o atendimento ser meio atrapalhado, mas a cerveja compensou. No meio do salão, dá para ver os 7 toneis gigantes com os tipos que eles servem sempre: kölsch, scotch, porter, honey beer, cream stout, barley wine e imperial stout. Fora isso, ainda tem sempre uma variedade sazonal, com misturas bem interessantes, e ainda algumas opções em garrafa.

Manush Cerveceria & Gastropub

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A Manush foi a grande decepção da minha corrida de bares porque era justamente o dia do aniversário da cervejaria e a cada pint pedido, você levava outro de graça! Dá para imaginar que tinha gente saindo pelo ladrão e por isso não rolou ficar lá. Mas um dia eu volto para experimentar uma gelada naquela casinha de esquina com clima mais intimista, de pub irlandês. São sete tipos de cerveja que saem dos barris – lá não tem garrafa – stout, kölsch, pale ale, crem ale, honey beer, milk stout e brown porter. E ainda a comida dizem que é de primeira, já que os chefs são um casal que trabalhou em vários hotéis 5 estrelas da Europa. Entre muitas tapas e pratos bem servidos, o mais comentado vem na sobremesa. O Birramisù é um tiramisù feito com café, mascarpone e cerveja stout da casa.

Berlina Patagonia Brewery

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A Berlina abriu em 2005 a maior cervejaria da Patagônia nos arredores de Bariloche, na Colônia Suíça. Se estiver no pique, dá para ir de carro até lá, mas se estiver com preguiça, eles tem a Berlina Pueblo, que fica ali pertinho das outras três. O clima de estábulo da decoração vai bem com o rock clássico no som e com a comida ‘de boteco’ de vários países – fish’n’chips, embutidos com chucrute, wok de frango e vegetais e pizzas bem saborosas. A Berlina vende suas cervejas em garrafa no país todo, mas ali você vai poder tomar os 6 sabores de barril (golden ale, pumpkin ale, pilsner, belgian wit, india pale ale e stout), além da cidra de maçã.

 

Essas foram as que eu consegui visitar num tempo curtíssimo. Existem outras tantas, é claro, todas muito bem cotadas, como a Blest, La Pinta, Yeska, e Konna.

Quem escreveu

Renato Salles

Data

11 de November, 2015

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Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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Comentários

  • Só tô lendo esse post agora e colocando um pouco mais de molho na discussão (ou de chimichurri na parrilla), Bariloche foi minha primeira viagem internacional, nos anos 90. Eu era a brasileira que vai de calça jeans pra neve, faz esquibunda, tira foto com São Bernardo e, na época, fazer isso já expandiu meus horizontes de uma maneira que daria inveja à Marco Polo. Estou muito curiosa pra voltar 25 anos depois. A gente repete o destino, mas nem nós, nem os destinos, somos os mesmos.

    - Luciana Guilliod
  • Olá Fabio! Na introdução, eu cito que esses destinos começaram a ser mal vistos exatamente por atraírem muita gente, o que faz com que fique tudo lotado, os serviços fiquem muito direcionados, e a experiência de conhecê-los não seja muito original e agradável. Em momento algum fiz alguma restrição tipo de gente que frequenta esse tipo de viagem ou (e principalmente) à classe social delas. Sou 100% à favor que mais e mais pessoas tenham a oportunidade de conhecer o mundo, pois acho que essa é a melhor forma de enxergar nossos problemas e tentar resolvê-los. Mas nesse processo, alguns destinos acabam mais visados, e por isso mesmo, mas saturados.
    Além disso, no segundo parágrafo eu faço a mea culpa. Eu tenho, sim, preconceito, e tenho certeza que todos nós temos um ou outro. O bom de perceber e assumir isso é que temos a oportunidade de confrontar nossos julgamentos e aprender novos caminhos para pensar. Foi o que aconteceu comigo em Bariloche, e por isso o texto começa assim.
    Fico feliz que tenha gostado! :-)

    - Renato Salles
  • Desculpe, mas achei bem preconceituoso o início do post. Que bom que, nos anos 90, muitos brasileiros tiveram a oportunidade de pegar o avião e descobrir o mundo, prazer esse reservado apenas para uma casta pequena de brasileiros. Mesmo sendo CVC. E os destinos adoraram esse novo mercado consumidor. A Flórida esta quase pagando a passagem para os brasileiros voltarem a consumir por lá. Em tempo: gostei bastante da matéria.

    - Fabio Affonso

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