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Cruce Andino: do Chile à Argentina pelos lagos da Patagônia

Quem escreveu

Renato Salles

Data

28 de October, 2015

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São só 300km que separam a pequena e charmosa cidade de Puerto Varas, no Chile, da famosa Bariloche, na Argentina. O trajeto, relativamente comum, pode ser feito em 5 horas (e por menos de US$30) em um ônibus pela estrada. Mas esse mesmo trajeto pode ser feito em mais de 12 horas em um passeio que pode custar até 10 vezes mais caro. Por que alguém em sã consciência optaria pelo segundo? Sem dúvida nenhuma, a resposta é a paisagem, que vale cada centavo e cada minuto investido.

A travessia entre essas duas cidades passa por uma trilha exclusiva por onde, até 400 anos atrás, os índios Huilliches passavam uma importante rota comercial, e que depois foi adotada pelos jesuítas para fundar as missões na região. E já que ela fica bem no meio da região dos lagos, nada mais natural do que fazer boa parte do percurso de barco. Sim, de barco cruzando montanhas com mais de mil metros de altitude. Mas não só isso. A viagem passa por 4 vulcões, 4 lagos de cores diferentes, 3 parques nacionais, florestas de altitude milenares, hotéis bucólicos e alguns dos cenários mais lindos que já vi. Esse é o Cruce Andino.

Um pé de cada lado
Um pé de cada lado

A Viagem

O Cruce pode ser feito nos dois sentidos – do Chile à Argentina, ou vice-versa. Nós tivemos a sorte de fazer a ida e a volta, já que na primeira a chuva castigou um pouco os ânimos. No nosso caso, fizemos as duas pernas direto, saindo pela manhã e chegando no começo da noite ao destino. Mas existem modalidades com pernoite bem no meio do caminho, em um lugar isolado de tirar o fôlego. Um dia eu volto para experimentar.

A saída de Puerto Varas, logo de manhãzinha, é de ônibus, circundando o enorme Lago Llanquihue, a nível do mar. Através do lago, já se pode ver dois enormes, e ativos, vulcões: Osorno e Calbuco, que entrou em erupção em abril. Impossível não se impressionar com o tamanho e o risco que eles representam. O trecho de 2 horas ainda tem uma parada no Parque Nacional Vicente Pérez Rosales, onde ficam os Saltos do Rio Petrohué. As cascatas cor de esmeralda ligam o Llanquihue ao nosso próximo passo, o Lago de Todos Los Santos, 300m para cima. O parque tem uma boa estrutura turística, com café, lojinha, e mais importante, trilhas e passarelas para ver as cachoeiras de todos os ângulos.

Saltos del Petrohué
Saltos del Petrohué

Na chegada a Petrohué, pegamos o primeiro barco, um catamarã confortável, com bar e tudo. São agora 1h40 relaxando com um bom chocolate quente e admirando a água cintilante. Aqui é possível ver os dois vulcões por outro ângulo, e mais afastado um terceiro, o Puntiagudo. O barco ainda faz uma parada estratégica em frente a uma cascata que cai lá do alto da montanha trazendo a neve derretida. Se você ficar esperto, ainda vai ver como os locais saltam da sua ‘carona’ para seus próprios barcos no meio do caminho, sem sequer parar a embarcação. Como o Cruce é a única empresa que faz esse roteiro, eles dão todo o suporte que podem para as pessoas que vivem nos vilarejos ao redor dos lagos.

Chegamos então a Peulla, uma vila ecológica minúscula, e o primeiro ponto em que dá para ver aquele cenário idílico, grandioso e solitário que se tem da Patagônia. E é tudo aquilo que se imagina e mais. Um rio bem calmo perambula pelo vale de montanhas altíssimas e vegetação fechada, e aquela sensação bem cliché de como somos pequenos perto da natureza bate com força. Ali ficam dois hotéis lado a lado. O Hotel Peulla era uma antiga hospedaria para os tropeiros que foi reformado para receber turistas do mundo inteiro, e hoje abre só na alta temporada. Exatamente ao lado fica o Hotel Natura, inaugurado em 2006, e que abre o ano todo. Parece uma cabana de madeira, só que gigante e moderna. Dá vontade de largar tudo e ficar por uma semana sem pensar na vida. A vista dos quartos é indescritível. É aqui que almoçamos na travessia de volta (Argentina – Chile). E é aqui que as pessoas pernoitam na travessia de dois dias (sortudas!).

Vista do Hotel Natura
Vista do Hotel Natura

O tempo urge e logo estamos mais uma vez em um ônibus, mas dessa vez um 4×4. O trecho a seguir dura mais 2h, mas é cheio de atrações. Primeiro porque subimos até os mil metros de altitude. Segundo porque fazemos algumas parads. Na primeira fazemos um pit stop na alfâdega chilena para sair oficialmente do país. Na segunda, temos um mirantes espetacular do Vulcão Tronador, o mais alto da região com quase 3.5mil m de altura. E a última, indispensável, é bem na divisa dos países, onde todo mundo tira a foto básica com um pé de cada lado. Para quem nunca viu neve, aqui pode ser o lugar de sorte. Isso tudo permeando a floresta de altitude, com espécies endêmicas altíssimas e protegidas pelo Parque Nacional.

Na chegada a Puerto Frías, já na Argentina, é hora de mais uma alfândega. A cabana da polícia está totalmente isolada do mundo e se debruça sobre o Lago Frías, com suas águas de cor de jade surpreendente. A cor da água tem esse tom por receber sedimentos de matéria vulcânica direto do Tronador. A sensação de estar longe de tudo é reconfortante. Hora de pegar mais um barco, menor, para atravessar o pequeno lago em apenas 15 minutos. A visão da mata com seus tons vermelhos e dourados sobre a água verde é espetacular e não dá vontade de sentar nenhum minuto. Pena que passa rapidinho.

Patagônia na veia
Patagônia na veia

Logo chegamos a Puerto Alegre, onde temos uma parada para comer em um hotel ainda por abrir e logo pegamos mais um ônibus para andar só 10 minutos até Puerto Blest. Aqui, finalmente, pegamos um grande barco que nos leva até as proximidades de Bariloche pelo Lago Nahuel Huapi, que banha a cidade. A paisagem incrível de montanhas nevadas, aqui, ganha companheiros. Gaivotas espertas acompanham a embarcação à espera de turistas que oferecem biscoitos comprados lá mesmo. Você levanta o braço e elas vem buscar direto na tua mão a comida. Aos poucos voltamos a civilização, e já no Puerto Pañuelo já dá para ver o clima de montanha da cidade. Acabamos a viagem a 700m de altitude.

Puerto Varas

Escultura à beira do Lago Llanquihue em Puerto Varas
Escultura à beira do Lago Llanquihue em Puerto Varas

Quem fizer o Cruce Andino inevitavelmente vai começar ou acabar a viagem em Puerto Varas. Essa pequena cidade, conhecida como ‘La Ciudad de las Rosas’, tem influência germânica pode ser vista por todos os lados, na arquitetura, nos costumes e na gastronomia. Mesmo sendo pequena e calma, o que não falta é o que fazer, por isso acho que pelo menos dois dias inteiros por lá são essenciais.

Além dos pontos turísticos e das vistas incríveis, a cidade ainda oferece estrutura para quem curte pescaria, escalada, mountain bike, esqui, golfe, esportes aquáticos, passeios a cavalo e muito mais. Isso sem contar com os arredores, como a vizinha Frutillar. A cidade é tão encantadora e tem tanta coisa bacana por lá que depois eu faço um post completo só sobre ela, prometo.

Bariloche

Pela minha cara dá para ver que o dia não era dos melhores em Bariloche.
Pela minha cara dá para ver que o dia não era dos melhores em Bariloche.

Confesso, sempre tive um pouco de preconceito com Bariloche. Só de pensar nesse nome, o que me vinha à cabeça é um monte de excursões barulhentas bagunçando a estação de esqui e se empanturrando de chocolate. E para variar quebrei a cara, porque Bariloche é muito diferente do que imaginei. Primeiro que a estação de esqui fica relativamente longe da cidade, que tem muita vida própria e fica ao largo do Lago Nahuel Huapi, não na montanha.  Segundo que a cidade é lindíssima, cheia de restaurantes, bares, boates, lojas e tudo mais que você quiser para passar a temporada. E por último, por causa da estrutura de turismo voltado para a natureza que é de primeira qualidade.

Tivemos um único dia lá, o que foi uma pena mas também uma sorte, pois me abriu os olhos para esse destino menosprezado que com certeza voltarei. Uma coisa que curti muito e que nunca esperei é a existência de um número considerável de cervejarias artesanais locais que renderam uma noite bem divertida. Depois conto mais também.

Para fazer o Cruce Andino

O Vulcão Tronador ao fundo
O Vulcão Tronador ao fundo

É difícil traduzir em palavras a experiência de atravessar paisagens tão diferentes e tão espetaculares em tão pouco tempo. Tentei fazer o melhor aqui, mas acho que ninguém pode explicar melhor do que as fotos. Até fiz um álbum com as melhores aqui.

Quem se animar em fazer a travessia tem ainda mais uma notícia boa. Para fazer a travessia é muito fácil e não precisa de grandes programações. Dá para fechar direto com a empresa até um dia antes (sujeito a disponibilidade, claro), e eles fazem a viagem todos os dias do ano, com excessão de 25 de dezembro e 1 de janeiro. No resto do ano, o preço varia de acordo com a temporada, e os preços vão de US$200 a US$300.

Tudo bem, dá para fazer isso por trintão no ônibus, bem mais rápido. Mas duvido que você vá se encantar tanto na estrada, sentadinho olhando pela janela.

 

* A viagem foi feita a convite da B4T e do Cruce Andino, e teve apoio da Sky Airline, da AssistCard e dos hotéis Cabañas del Lago, Edelweiss, Patagónico e Torremayor.

No destaque, o Vulcão Osorno visto do Lago de Todos los Santos.

Quem escreveu

Renato Salles

Data

28 de October, 2015

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Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.