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O meu SXSW 2023: Luciana Guilliod

Quem escreveu

Luciana Guilliod

Data

11 de April, 2023

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Malas desfeitas, corpo descansado, fígado recuperado. Mas a mente segue fervilhando. Voltamos do SXSW 2023, mas o SXSW não saiu de nós: os encontros e conexões que o evento gera seguem acontecendo presencial ou virtualmente no Brasil e não são raras as situações em que o que vivemos em Austin nos dá mais estofo pra refletir.

Antes do evento, compartilhamos com nossas apostas para a programação. E como acontece em todo SXSW, conseguimos fazer parte do que planejamos e também nos deixamos levar pela serendipidade dos dias. E tá na hora de compartilhar o que fizemos das duas maneiras.

Sempre me perguntam o que de mais legal eu vi por lá. Mas acho que o SXSW não é sobre um conteúdo que te marcou, mas sim sobre o que acontece quando você volta para casa e junta os pontos que unem as palestras e as conversas. Quando você se dá conta dos temas que mais se repetiram, dos que mais repercutiram nas redes e nas comunidades, gera insights que tem para o trabalho e os que acabam influenciando o comportamento na vida cotidiana.

Minhas áreas de interesse – no trabalho e na vida – são mídia, publicidade, marcas, redes sociais, storytelling, futuro do trabalho e engajamento civil e minha programação foi montada com esse viés.

Para um evento que discute assuntos tão inovadores, o formato da conferência do SXSW é bastante careta: são mesas redondas e palestras no centro de convenções e em hotéis que poderiam estar em qualquer convenção de, sei lá, contabilidade. E por isso a palestra sobre a arte e a ciência nos parques da Disney se destacou.

O chefe do departamento de parques, experiências e produtos da Disney Josh D’Amaro, começou sua apresentação com o power point padrão. Mas logo nos fez viver, no centro de convenções de Austin, o encantamento e a experiência que sua fala abordava: sorteou vários protótipos de um sabre de luz, exibiu um holograma da fada Sininho, expôs um Incrível Hulk de quatro metros de altura e, por fim, apresentou um robô que responde às emoções da plateia (que estava ansiosa, portanto a cambalhota de patins dada foi meio desajeitada). Pontos extras por trazer ao palco a equipe que desenvolveu cada artefato, para falar sobre os processos criativo e produtivo. A Disney não só falou, ela fez. E provou o porquê de brasileiros invadirem os parques diariamente.

SXSW
SXSW 2023: A apresentação da Disney encantou a todos (foto: divulgação)

A vida tem dessas coisas: a palestra que eu mais queria assistir foi também a única a qual não consegui entrar no salão principal e a assisti em um telão: o CEO da Patagonia Ryan Gellert, entrevistado por ninguém menos que a jornalista Katie Couric. “Nós criamos uma ameaça existencial climática e vamos precisar de todos os meios para resolvê-la. As empresas não podem mais se esconder dizendo que os efeitos de seus negócios são ‘externalidades’, afirmou ele, um dos keynotes do evento. “Devemos nos perguntar o que podemos fazer como cidadãos e como profissionais. Em toda crise humana, empresas têm um papel preponderante. Os problemas humanos não serão resolvidos se as empresas não fizerem a sua parte”. Um tapa na cara de quem, como eu, trabalha numa empresa grande e vez por outra esquece que sociedade civil, empresas e planeta somos um só.

E foi isso que ficou desse SXSW para mim. A crença nessa unidade já existia, eu só não a praticava a cada momento. Inclusão, conexão, empatia, diversidade e a prática real desses valores não só pra “pegar bem”, mas pra gerar lucro. Não são as pessoas com deficiência que tem que se adaptar ao mundo. O mundo é que tem que ser inclusivo e abarcar as diferenças. Na palestra sobre representação de pessoas portadoras de deficiência, uma participante da plateia fez uma pergunta que ainda ressoa em mim: qual a diferença entre normalização e empoderamento? O que nós queremos?

Mas nem só de palestras vive o homem – e o homem que passou dos 40 dançou horrores no show do New Order, do The Zombies – e deixo a curadoria musical a cargo da Lalai. Estamos falando só da conferência. Mas há também festival de música, cinema, feira de realidade virtual, de produtos da indústria criativa, de comida, ativações de marca, happy hours, encontros de networking e uma infinidade de eventos que deixariam o mais iluminado dos monges budistas tenso.

SXSW
A cidade é diversa. Até um certo ponto (foto: divulgação)

Certas disparidades gritam: mesmo num evento que se propõe a celebrar criatividade, inovação e futuro, no palco e na plateia, a maioria ainda é de homens, hetero, cis e brancos. Assim como seria numa convenção de contabilidade. E a pressa, o FOMO, o consumo intenso de bens e informações destoa da reflexão e da sustentabilidade pregados em teoria.

Dizem que este SXSW bateu o recorde de brasileiros – os números variam de 2 a 4 mil. Muitas pessoas e níveis hierárquicos superiores da minha empresa estavam lá, maravilhados, a maioria pela primeira vez. “Vamos compartilhar o que vimos aqui com todo mundo”, repetiam. Acho ótimo, esse é o primeiro passo. Mas o que vamos implementar na rotina das corporações, que é o que de fato impacta a sociedade? A pergunta ainda está sendo discutida.

Quem escreveu

Luciana Guilliod

Data

11 de April, 2023

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Luciana Guilliod

Carioca da Zona Norte, hoje mora na Zona Sul. Já foi da noite, da balada e da vida urbana. Hoje é do dia, da tranquilidade e da natureza. Prefere o slow travel, andar a pé, mala de mão e aluguel de apartamento. Se a comida do destino for boa, já vale a passagem.

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