Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Trabalhando e viajando ao mesmo tempo.
O Renan Quevedo, idealizador do Novos Para Nós, rodou o Brasil de carro em busca de artistas populares. Acabou encontrando lugares de tirar o fôlego nesses mais de 27 mil quilômetros que viajou. Talvez você já tenha ouvido falar de alguns deles, mas não por esses ângulos. Quer ver só? Dá uma olhada no que ele disse sobre esses 13 lugares que você deveria visitar nos próximos anos.
Renan já está de volta depois de seis meses de viagem. Ele é pesquisador de arte popular brasileira, já falou na “The School of Life” sobre “Virtudes do Brasil”, e será um dos palestrantes do TEDx João Pessoa, que acontece no próximo dia 18 de agosto.
Ele compartilhou com a gente essa lista incrível com 13 lugares encantadores, curiosos e surpreendentes no Brasil. Leia, guarde e, principalmente, use. Por aqui, vários desses lugares já entraram na nossa lista de “lugares para conhecer o mais urgente possível”:
Na mochila, coloque água, comidas leves, protetor e muita disposição pra ter um dia maravilhoso. Te explico! De Ibicoara até a Fumacinha são 23 quilômetros de estrada de terra que o guia (indispensável) te ensinará o caminho. Da fazenda base até a cachoeira, você irá gastar aproximadamente 4 horas para completar a caminhada – sobe, desce, pula pedra, escala, quase escorrega e por aí vai. Depois, mais 4 horas pra voltar. Se quiser, é possível acampar. Vale a pena? Muito! A cena final é essa, se liga:
Tá aí um lugar pra se aprender e muito fazendo turismo social! A região é conhecida pelas várias estradas que se perdem por entre as montanhas do norte de Minas Gerais. A renda de muitas famílias de lá vem da fabricação de bonecas e utilitários de barro. Turmalina é um dos principais polos da cerâmica e é possível acompanhar de perto o trabalho das mulheres que se dedicam às esculturas. Na maioria das vezes, é a mulher que, inclusive, é o carro-chefe da casa.
Roteiro sugerido: Diamantina, Turmalina, Minas Novas, Berilo, Araçuaí e Santana do Araçuaí. No Jequitinhonha, a vida tem outro ritmo e outros propósitos. São 454 quilômetros de Diamantina até Santana do Araçuaí.
Mesmo se você não for uma pessoa religiosa, a visita é interessantíssima. Imagine-se no sertão baiano, entrando em uma igreja localizada dentro de uma gruta com diversos salões, antiga morada de onças, muitas estalactites e uma vibe aventureira? Pois é, parece cenário de filme, mas existe e é aqui no Brasil.
Segundo a história, Francisco de Mendonça, artista plástico português, tinha sido contratado para pintar o Palácio da Aclamação, em Salvador. Em vez de receber pelo serviço, foi jogado na prisão. Quando solto, carregou consigo duas imagens sacras do lugar e andou por meses e meses até chegar no morro de Bom Jesus da Lapa (796km de distância da capital), antiga morada de onças. No período dos garimpos de ouro em Minas Gerais, os trabalhadores passavam perto da gruta e viam as luzes das velas que Francisco acendia, formando, assim, as romarias. Hoje, trezentos anos depois, o santuário atrai religiosos que vêm rezar e pagar promessas. A divisão interna conta com nove grutas que abrigam dois salões e pequenas outras salas onde são depositados os ex-votos (objetos que representam graças alcançadas), todos decorados naturalmente pelas estalactites e estalagmites.
Esse é um lugar dos sonhos, veja só: uma comunidade de 400 habitantes às margens do Rio São Francisco, na divisa de Alagoas e Sergipe, onde os moradores se dedicam às artes populares, bordado e pesca. Dormir na Ilha do Ferro é praticamente um ritual: ouve-se o sapo coaxar, o movimento das cadeiras de balanço, o voo dos insetos e até os peixes saltarem no rio. Isso sem falar no charme que são as casinhas de lá, olha só:
Aposto que você nunca tinha ouvido falar da Pedra Furada de Pernambuco! É novidade pra mim também. A formação fica em Venturosa (PE) e se destaca pela fenda em formato de arco – coisa linda – com uma passagem de mais de 100 metros (uma estimativa pois não encontrei o número oficial). Para quem quiser se aventurar, a subida é de nível fácil e conta com 360 degraus. Como as temperaturas do local são elevadas, não esqueça de levar água. Lá de cima é possível ter uma vista de toda a região, vegetação, animais, plantações, além de outras formações rochosas. Próximo dali foram encontrados um cemitério de índios pré-históricos e paredões com pinturas rupestres. Essa sensação de que não conhecemos o nosso país só me dá vontade de cada vez mais me aventurar. Temos muito Brasil pra desbravar!
Eu não imaginava que existia um lugar desses no mundo. As fotos não farão jus à experiência. O Lajedo do Pai Mateus, na Paraíba, conta com aproximadamente 100 imensos blocos de pedras que abrigam inscrições rupestres e vestígios arqueológicos milenares. Um cenário realmente deslumbrante. No mundo, existem apenas três outras regiões com características geológicas semelhantes (Austrália, Namíbia e Argélia), sendo a brasileira a mais intocada. Reza a lenda que um curandeiro chamado Mateus viveu no meio das pedras em meados do século 18, que também serviram de abrigo para indígenas pré-históricos por pelo menos 10 mil anos. O local ainda é considerado desconhecido pela maioria de nós e, de acordo com o meu guia, pelo governo também – prevalece o descaso. Por mais que esteja localizado dentro de uma propriedade particular, os cuidados que são tomados para a preservação das características originais são mínimos e as pinturas rupestres, por exemplo, estão desaparecendo num ritmo muito acelerado.
Dona Maria Amparo Santos é a única habitante da chamada “Vila Fantasma” ao sul de Serro (MG). São aproximadamente 350 casas em cima de um morro que ficam abandonadas o ano todo e só recebem seus moradores durante o Jubileu de Nossa Senhora das Dores. A vila foi construída porque os trabalhadores da região subiam a montanha para rezar e se cansavam. Quando chega a época de voltar, as pessoas pagam promessa, em procissão, como forma de agradecimento pelas graças alcançadas. Olhando para o horizonte, Dona Maria diz que não liga muito para a solidão que enfrenta o ano todo, mas quando as pessoas chegam, quer que elas continuem aqui – um sofrimento que parece não ter fim, assim como a simbologia atribuída à Nossa Senhora das Dores, padroeira da Vila e de quem a moradora é devota.
Já pensou estar rodeado de animais do cerrado brasileiro em uma espécie de safari? Então dê um pulo na Serra da Canastra e se surpreenda. E não é só pela fauna que a região é visitada. Além dos deliciosos queijos produzidos por lá, a natureza dá um espetáculo à parte com formações naturais. Essa é a Cachoeira Casca d’Anta, primeira (e maior!) do Rio São Francisco. A queda pode ser vista tanto pela estrada de cima ou por baixo, ambas com acesso relativamente fácil. O nome vem da árvore Casca d’Anta, que, por sua vez, tem propriedades medicinais: a anta esfrega seu corpo nos troncos para curar ferimentos superficiais. O cenário do poço da cachoeira é lindo e a sensação de estar cara a cara com o nascimento do Velho Chico é indescritível.
Já ouvir falar em Ibitipoca? É um parque estadual no Sudeste de Minas Gerais próximo a Lima Duarte. Por enquanto ainda não caiu nas (des)graças da gourmetização, então é possível se hospedar e se alimentar por um preço bem convidativo, além do pouco movimento de turistas. O parque possui uma trilha circular e é possível conhecer tudo em um final de semana. Decidi chegar cedo e ver tudo num único dia, sendo alertado logo de cara sobre os 18km de descidas íngremes e subidas piores ainda. Em diversas partes do caminho é possível fazer um lanche dentro das grutas e cavernas que o parque abriga. A foto foi tirada na sua principal atração – a janela do céu (logo atrás de mim há uma queda d’água para as montanhas ao fundo). A cor da água quando bate o sol é exatamente essa. Cansa. Cansa muito mais do que eu estava imaginando e todo momento é gratificante.
Na beira da estrada pela Serra do Espinhaço, um aviso: Sítio Arqueológico Pedra Pintada. Reconhecida pela UNESCO em 2005, o recinto na zona rural de Barão de Cocais (MG) abriga 122 pinturas rupestres de pigmentos minerais em vermelho, amarelo, ocre, negro, branco e alaranjado. Segundo especialistas, os desenhos datam de 7 mil anos atrás e representam rituais mágicos relacionados à natureza e à caça: macacos, veados, peixes, aves, aracnídeos, armas com lanças e pontas de flechas. Sabe-se também que as inscrições pertencem a diversos povos de épocas e tradições culturais distintas, sobrepondo-as umas às outras. Confesso que já vi muita pintura rupestre pelo Brasil, mas nessa quantidade e tamanho, nunca!
Serra da Capivara: na minha opinião, um dos lugares mais bonitos do Brasil. E, além de bonito, interessantíssimo. Eu sempre fui fascinado por achados arqueológicos, megafauna e mistérios ainda não revelados dos nossos antepassados: o Parque Nacional tem todos esses! Alguns números pra vocês entenderem a grandiosidade desse lugar: com aproximadamente 1.200 sítios arqueológicos catalogados (sendo 172 abertos à visitação), é considerado o maior museu aberto do mundo, ganhou por diversas vezes o parque com melhor infraestrutura das Américas, possui 130 mil hectares distribuídos em 4 cidades e abriga o paredão com maior número de pinturas rupestres do mundo (1.151, pra ser exato). Aqui foram encontrados indícios que contestam as teorias de como o homem teria chegado às Américas – uma fogueira de 56 mil anos! Falar sobre nossas riquezas também é valorizar o Brasil. É levantar a bandeira do patriotismo, mesmo em épocas sombrias. Aqui estão alguns dos cenários que mais me impressionaram até o momento e, nos próximos dias, contarei mais sobre as pesquisas no local, pinturas rupestres, achados arqueológicos e, é claro, falaremos sobre a cerâmica produzida aqui na região. Coloquem já na lista dos lugares para visitar em um futuro (bem!) próximo ;)
A Chapada das Mesas, no Maranhão, um lugar que poucas pessoas ouviram falar e que faz um contraposto aos Lençóis Maranhenses. A base para os passeios é a pequena Carolina, a 800 quilômetros da capital São Luís. As contas somam quase 90 cachoeiras e mais de 400 nascentes, dando o nome de Paraíso das Águas para a região. Com pouco tempo para o turismo, afinal de contas este não é o objetivo principal do Novos Para Nós, consegui conhecer algumas atrações que certamente me farão voltar no futuro. Na foto o Encanto Azul. É o Maranhão surpreendendo a cada curva!
Olha só esse achado: quem aqui sabia da existência de um castelo islâmico medieval em pleno sertão do Rio Grande do Norte? Essa construção aqui em Sítio Novo (RN), além de peculiar por si só, também tem uma história bem curiosa: Zé dos Montes, o idealizador do projeto, teve uma visão de Nossa Senhora na qual recebia um pedido para construir 13 castelos. Dos 13, só deu conta de fazer um e ele ainda está inacabado acumulando dívidas. A edificação é um verdadeiro labirinto contando com uma nave de entrada e corredores intermináveis. Os vizinhos dizem que lá mora o Conde Drácula. Não há nenhuma simetria nos cômodos, estilos ou materiais. Também não há mobília, energia elétrica, água encanada e tudo é muito simples. Achei uma simbologia muito atual: erguer castelos que não se pode morar, quase inúteis. Dá só uma olhada nas imagens que fiz com o drone!
*Todas as fotos e dicas do post são de autoria de Renan Quevedo. A foto de capa é a Pedra do Capacete, no Lajedo de Pai Mateus, por Ruy Carvalho (wikimedia)
Esse post foi publicado inicialmente em 10 de agosto de 2018 e reeditado em 27 de dezembro de 2018
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.