Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
O controle sobre os dados e os algoritmos se torna o novo campo de disputa no debate sobre tecnologia e democracia.
No SXSW 2025, o debate sobre tecnologia ganhou contornos políticos. Em vez de celebrar apenas avanços técnicos, os painéis mais relevantes abordaram o que está em jogo: quem controla os sistemas, quem define os algoritmos e o que significa ter autonomia no ambiente digital.
A ideia de um novo tipo de feudalismo digital apareceu em diversas discussões. A metáfora propõe que, na era das plataformas, os dados substituíram a terra como recurso central — e poucos grupos concentram o controle sobre eles. O termo “código virou coroa” foi usado para descrever como o poder digital se consolidou nas mãos de quem escreve os sistemas que regem o comportamento online.
Meredith Whittaker, presidente da Signal, foi direta: “Privacidade não é um privilégio — é um direito inegociável.” Sua fala apontou para a crescente normalização da vigilância comercial, em que cada clique é registrado, analisado e explorado como produto. A lógica da monetização por rastreamento foi criticada como insustentável para qualquer sociedade que deseje manter valores democráticos.
Na direção oposta, Jay Graber, da Bluesky, defendeu uma proposta de internet descentralizada. A ideia é permitir que usuários escolham — ou programem — os algoritmos que querem utilizar. Para ela, essa autonomia permitiria o surgimento de comunidades soberanas, menos dependentes das regras impostas por plataformas globais. A proposta foi bem recebida, mas também gerou questionamentos: até que ponto o público está disposto a abandonar o conforto de sistemas prontos?
A plataforma TikTok foi tema de uma provocação inesperada. No painel The People’s Bid, participantes sugeriram que a rede social, apesar de suas críticas, pode funcionar como um canal de transição para novos modelos de internet mais abertos e acessíveis. A ideia gerou reações mistas, dividindo opiniões entre ceticismo e curiosidade.
O painel sobre Creator Economy trouxe um retrato mais direto dos efeitos desse modelo de internet. Douglas Rushkoff sintetizou a discussão: “Hoje, a cultura da internet é a cultura da influência. E influência virou sinônimo de escala.” O resultado, segundo os creators presentes, é um ambiente marcado por esgotamento, pressão por performance e ausência de autonomia.
A virada de chave, apontaram diversos participantes, está na mudança de foco: de alcance para controle. Ter um site próprio, uma newsletter independente ou uma comunidade direta passou a ser entendido como construção de patrimônio digital — em contraste com a dependência de métricas algorítmicas e redes voláteis.
Bia Granja, especialista em creator economy, destacou em seu relatório pela White Rabbit: “A Creator Economy está deixando de ser playground de visibilidade e virando um espaço de escolhas políticas.” Ela defende que os próximos movimentos estarão centrados na construção de narrativas consistentes, não necessariamente populares, e na valorização da profundidade em vez da viralidade.
A conclusão dos painéis foi pragmática. A tecnologia pode tanto fortalecer democracias quanto ampliar mecanismos de manipulação. Pode proteger dados ou transformá-los em produto de venda. O impacto final depende de quem escreve os códigos — e quem decide como eles serão usados.
A última pergunta, deixada em tom provocativo, sintetizou o espírito do festival:
“Você está governando o seu espaço digital — ou apenas obedecendo ao rei invisível?”
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.