Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
No SXSW 2025, ficou claro: a IA já não é só ferramenta — é ecossistema, e nós ainda estamos aprendendo a ser seus criadores
No início, a gente inventou ferramentas. Agora, as ferramentas estão nos inventando de volta.
No SXSW 2025, o futuro da tecnologia não foi um salto — foi um espelho. Um espelho esquisito, pixelado, talvez quebrado, mas onde todo mundo se viu um pouco. E o reflexo nem sempre era humano.
Sob o tema provocativo “Deuses Aprendizes”, surgiu uma constatação desconfortável: não estamos mais só programando a tecnologia. Estamos criando entidades que aprendem sozinhas, decidem sozinhas, e em breve, talvez até sonhem sozinhas.
Amy Webb falou de sistemas multiagentes — conjuntos de IAs que tomam decisões de forma autônoma, se auto-organizam, negociam entre si. Sim, agentes que formam alianças, criam linguagens próprias (hello, DroidSpeak) e resolvem problemas sem nenhuma mão humana.
Essa nova geração de IA não quer só te sugerir um vídeo no YouTube. Ela quer operar cidades, decidir rotas de energia, avaliar sua saúde, escrever o próximo best-seller e, quem sabe, substituir seu gerente.
Pela primeira vez, ficou palpável que a IA não está mais “nos ajudando a pensar” — ela está pensando por conta própria. E entre uma palestra e outra, surgia a pergunta que ninguém queria fazer alto:
E se o futuro não for sobre humanos usando tecnologia, mas sobre humanos sendo tecnologia?
Mas nem só de decisão vive o novo Olimpo digital.
Nos painéis sobre UX (ou melhor, AX — Agent Experience), uma nova sensibilidade emergiu: a IA como matéria de design sensível. Não mais código duro, mas algo que responde ao contexto, interpreta emoção, molda-se ao toque e à intenção.
Rodrigo Linck, da White Rabbit, foi direto:
“A IA já não é só ferramenta. É matéria-prima criativa.”
No lugar de interfaces rígidas, surgem sistemas vivos, mutantes, que sentem. Chamam isso de Sentient Design — e soa meio sci-fi até que você entra numa ativação onde a IA responde ao seu estado emocional em tempo real.
Você não escolhe mais o botão. O botão te escolhe de volta.
Outro termo que grudou na cabeça foi “vibe coding” — designers que criam software sem código, apenas expressando intenções. Uma coreografia entre desejo humano e execução artificial.
Mas nada se comparou ao espanto com o DroidSpeak: uma linguagem entre modelos de linguagem gigantes (LLMs), criada para que eles conversem entre si de forma mais rápida, mais precisa… e menos humana.
A eficiência assombra: até 2,78 vezes mais rápido, sem perder precisão.
Mas a pergunta que fica:
Se as máquinas já não falam como a gente, será que ainda falam pra gente?
Num canto do festival, uma instalação-piloto de uma Psico-IA te convida a conversar com seu “eu do futuro”. Você responde perguntas, anda por corredores de ferro retorcido, e no final, recebe conselhos do seu próprio avatar de 2050.
Você sai de lá com um relatório emocional gerado por uma IA, com base em evidências científicas sobre felicidade. E se pergunta:
Será que foi um diagnóstico… ou um poema disfarçado?
Paula Rizzo, da White Rabbit, resume bem:
“Robôs já não habitam só fábricas. Eles cuidam de plantações, constroem cidades, assistem pacientes. E enquanto o Vale do Silício fala, a China faz.”
Charina Chou, do Google Quantum AI, mostrou que a computação quântica já é real — e que o Ocidente está correndo atrás da Ásia. Enquanto isso, no Brasil, startups como a QuaTi usam IA e dados quânticos pra prevenir desastres climáticos.
Os gregos antigos diziam que os deuses criaram os humanos à sua imagem e semelhança.
Hoje, talvez estejamos fazendo o mesmo com a IA.
Mas… qual imagem estamos projetando?
E mais importante: será que a gente sabe quem é o espelho, e quem é o reflexo?
O SXSW 2025 não trouxe respostas definitivas — mas acendeu uma certeza incômoda e fascinante:
A tecnologia já não espera por nós. Agora, somos nós que precisamos alcançá-la — com ética, imaginação e um pouco de humildade.
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.