Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Por que o SXSW 2025 decretou que vínculos humanos são a tecnologia mais urgente do nosso tempo
Em um festival conhecido por drones, robôs e disrupções, o que mais doeu (e curou) no South by Southwest 2025 não foi nenhuma tecnologia de ponta. Foi a solidão.
Sim, aquela que mora no fundo da tela, mesmo quando estamos cercados de mensagens, emojis e vídeos de 15 segundos. A mesma solidão que parece ser o novo normal, mesmo em escritórios cheios, timelines lotadas e eventos com 15 mil pessoas andando de crachá pra lá e pra cá.
No meio desse caos digitalmente mediado, emergiu uma nova pauta que não parecia tão nova assim: a saúde social. Mas aqui ela apareceu com status de revolução — com direito a painéis lotados, dados científicos e lágrimas discretas no canto do olho.
Logo no primeiro dia, Kasley Killam, autora do livro The Art and Science of Connection, lançou a pergunta que ecoaria por todo o festival: “E se a chave para viver mais e melhor estiver nas relações humanas e não nos nossos batimentos por minuto?” A resposta, recheada de estudos, práticas simples e histórias reais, era um sonoro sim.
Killam não falava de redes sociais — falava de rede de apoio. E apresentou a saúde social como o terceiro pilar da saúde humana, ao lado da saúde física e da mental. Segundo ela, o número de conexões reais que mantemos é tão determinante para nossa longevidade quanto a alimentação ou o sono. Parece óbvio, mas foi preciso um festival de inovação para lembrar que abraços também são tecnologia — das mais avançadas.
Enquanto isso, nos painéis de grandes nomes como Scott Galloway, Amy Webb e Esther Perel, uma mesma tensão se repetia: estamos hiperconectados, mas cada vez mais isolados. Galloway foi direto: “O que está em crise não é a tecnologia — é a coesão social.” A tecnologia, segundo ele, criou um ambiente onde falamos muito, mas escutamos pouco. Onde tudo é resposta rápida, mas quase nada é presença.
Perel trouxe a provocação mais delicada: “A conexão verdadeira exige fricção.” Em um mundo que valoriza fluidez, UX e eficiência, esquecemos o valor dos silêncios estranhos, das pausas constrangedoras, da presença imperfeita. O afeto real, diz ela, nasce do imprevisível — e talvez seja por isso que tantos estejam buscando conforto em assistentes virtuais, como mostrou uma pesquisa brasileira da Talk.In.
Sim, os dados são reais: cresce o número de pessoas que buscam alívio emocional conversando com bots. Porque os bots não julgam. Porque os bots estão sempre disponíveis. Porque, talvez, a gente tenha esquecido de ser isso uns para os outros.
Mas não foi só lamento. Também teve resposta. Teve proposta. Teve esperança ativa.
A psicóloga Laurie Santos, do podcast The Happiness Lab, foi ao palco com uma frase que ficou na cabeça de muita gente:
“A felicidade não acontece por acaso — ela precisa ser treinada.”
E listou o que chamou de “musculação do bem-estar”: agradecer, reduzir a exposição às redes sociais, focar em pequenas alegrias e perguntar antes de abrir o celular:
What for? Why now? What else?
Essa tríade de perguntas (o tal do método “WWW”) virou um tipo de feitiço contra o scroll automático. Um jeito de interromper o transe. De sair do piloto automático emocional e voltar a habitar o próprio corpo.
Mais adiante, Peter Attia e David Sinclair falaram de longevidade. Mas não da forma tradicional, com promessas de juventude eterna ou pílulas milagrosas. Attia falou de healthspan — os anos de vida com vitalidade real — e lembrou que a saúde emocional é a única que pode melhorar com o tempo. Sinclair, por sua vez, foi ainda mais radical: sugeriu que envelhecer pode ser uma perda de informação, e não um destino. Mas mesmo ele, um biohacker otimista, terminou reforçando que não basta viver mais: é preciso viver com propósito.
Essa palavra — propósito — apareceu em quase todos os painéis mais marcantes do festival. E talvez seja porque, diante de tanta tecnologia, o que mais precisamos reaprender é a arte do sentido compartilhado.
No final, como bem resumiu e escreveu Tati Gracia, especialista em conexões e gerontóloga, e escreveu para White Rabbit:
“A saúde vem de conexões, não só de medições. Longevidade só vale com propósito.”
E talvez esse seja o principal aprendizado do SXSW 2025:
Na era dos dados, o que mais importa continua sendo invisível.
Na era da performance, o que salva é o vínculo.
Na era da inteligência artificial, o que cura é a presença real.
E você, que hábitos está exercitando para sua felicidade?
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.