Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
A minha última visita a Miami foi uma imersão por um lado não muito famoso da cidade. Fui convidado pelo @VisiteMiami para conhecer o circuito de artes e cultura do destino tão conhecido dos brasileiros, mas geralmente associado a compras e praia. Entre tantas fantásticas surpresas, que eu conto em outro post, um lugar se destacou: o Superblue.
Simplificando, o Superblue é uma galeria de arte imersiva. Porém, essa é uma simplificação tosca e injusta. Hoje, o que se convencionou chamar de ‘arte imersiva’ acaba sendo muitas vezes apenas uma apropriação da arte de grandes artistas trabalhadas a partir de video mapping. Estão aí os Van Goghs e Monets e Da Vincis que não me deixam mentir. Nada contra, se for para aproximar as pessoas da arte. Mas o contato com a obra real nunca poderá ser substituído. Aqui o que acontece é outra coisa.
Instalação como meio na arte não é novidade, tem gente fazendo há pelo menos 6 décadas. Só que a tecnologia e, principalmente, as redes sociais acabaram dando um protagonismo para esse tipo de obra que hoje elas viraram os grandes chamarizes de museus e exposições, com filas às vezes imensas. O bom do Superblue é que aqui não tem espera nem muvuca para aproveitar nada disso. Todas as visitas são com horário programado e lotação no limite para deixar tudo agradável. São só 4 salas, mas pode reservar pelo menos uma hora para aproveitar tudo com calma que você vai querer. Isso porque lá estão algumas das instalações mais emocionantes que já presenciei, e os nomes dos artistas são dos grandes, que se você não conhece, está na hora de ir atrás.
Logo na entrada, um espaço imenso com assinatura do coletivo japonês teamLab, especializado em videoarte interativa. A obra tem um nome só mas são na verdade 3 espaços diferentes. Em Between Life and Non-Life, experimentamos um pouco do dom da criação, fazendo nascer e morrer girassóis gigantes, criando jardins em meio a imensas cachoeiras. Curiosamente é um lugar onde quanto mais gente, mais exuberante fica a obra. Mais vida tem ali.
No espaço seguinte entramos em uma zona de introspecção com a obra Pulse Topology, do mexicano Rafael Lozano-Hemmer. Um manto ondulado com mais de 3 mil lâmpadas iluminam parcamente o grande salão. Onde essa cobertura chega mais perto de nós, sensores captam a nossa pulsação para reverberá-la em forma de luz. E assim os corações de todos os visitantes vão sendo armazenados para formar uma orquestra iluminada.
A terceira e mais intrigante obra de todas é do mago das luzes James Turrell. O artista americano trabalha espaço e iluminação com intuito de nos fazer questionar a nossa existência e experimentar a imaterialidade, com obras que vão de uma pequena capela em Berlim a um pavilhão isolado no meio do deserto do Arizona. Aqui, em AKHU, ele nos submete ao Efeito Ganzfeld, um fenômeno de perda da percepção na exposição a meios uniformes e sem limites definidos. É muito mais louco do que soa. E aqui, claro, não é permitido filmar ou fotografar – até porque não tem praticamente nada para ver, só sentir.
E por último chegamos à obra da inglesa Es Devlin, Forest of Us. Para começar somos introduzidos ao projeto de reflorestamento que o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado criou em Minas Gerais (procure saber, vale a pena). A artista questiona como nossas vidas, nossas trajetórias e nossas escolhas são como árvores, que vão se bifurcando em milhares de possibilidades ao longo da nossa existência. E assim somos introduzidos a um labirinto de espelhos. Não do tipo em que nos perdemos e buscamos a saída. Do tipo que nos faz circular, circular e voltar ao mesmo lugar, para recomeçar a jornada buscando novos caminhos. Uma experiência linda e, essa sim, perfeita para o seu Instagram.
O Superblue foi inaugurado em 2021 em um grande galpão no distrito de Allapattah, área industrial que está se transformando na rasteira da gentrificação de Wynwood. Com as mudanças que Miami sofreu nos últimos anos, transformando a cidade em um polo cultural, os bairros estão crescendo numa velocidade absurda, e o Superblue pode acabar sendo um dos agentes transformadores desse bairro e dos novos limites da cidade.
Os ingressos devem ser comprados pelo site com antecedência, e custam 36 dólares para adultos, e 14 dólares para crianças até 12 anos.
*Imagem de destaque: Renato Salles
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.