Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Esqueça os games que você conhece e a TV, cada vez mais estamos utilizando ferramentas imersivas – tais como VR (realidade virtual), AR (realidade aumentada) e MR (realidade mista) – para entrar em universos originais, em desenhos, filmes e realidades distantes da nossa.
Há alguns dias, um dos principais palcos para esse tipo de narrativa, o SXSW, teve seu encerramento, e saí de lá empolgada com as inovações que renovam o ânimo em relação às tecnologias imersivas e suas aplicações. Quero contar tudo para você entender como os artistas, produtores e diretores estão explorando essa linguagem, que tem um enorme potencial para gerar emoções, bem como interatividade e infinitas possibilidades de gamificação.
Há décadas, ao longo de 10 dias do mês de março, o SXSW (South by Southwest) ocupa a cidade de Austin, no Texas, e faz dela a capital mundial da criatividade e da inovação. O festival atrai gente de todo o mundo, todos interessados em ficar a par de novidades que prometem ditar o futuro de pessoas e empresas das mais diversas indústrias.
Quando falamos em realidades estendidas (ou XR), nos referimos ao conjunto de tecnologias imersivas, que engloba realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e realidade mista (MR). É comum certa confusão entre cada uma delas, então, vamos esclarecer:
Para experimentar a VR, usamos um óculos específico a fim de visitar um ambiente virtual criado digitalmente em sua totalidade, onde ficamos 100% imersos. Já na AR, elementos virtuais são inseridos no mundo real (lembra do PokemonGo?), geralmente através de um dispositivo móvel. Na MR, os recursos de VR e AR se encontram. Para ter acesso a ela, usamos um óculos que permite a visualização do ambiente onde estamos, adicionando a ele elementos digitais que se sobrepõem à realidade.
As realidades estendidas marcam presença no SXSW há anos e já foram grandes estrelas na programação. Este ano, mais maduras, elas mostraram que sabem aliar consistência a inovações e apresentaram horizontes ampliados. Em síntese, a edição 2023 do SouthBy endossou as XR como uma linguagem que ainda tem muito potencial a ser explorado e, até, descoberto.
Para organizar toda a variedade de conteúdo que oferece, o SouthBy se organiza em subfestivais temáticos, como SXSW Conference, SXSW Film & Festival, SXSW Music Festival, Creative Industries Expo, SXSW Comedy Festival e por aí vai. Em 2023, as XR figuraram em meio às tecnologias com maior mobilidade entre eles, destacando-se com empresas na feira de negócios, palestras na conferência e na programação audiovisual.
Aliás, o SXSW Film & Festival teve uma subdivisão dedicada às realidades estendidas, a XR Experience Exhibition, onde os visitantes podiam fazer experiências imersivas que, em alguns casos, extrapolavam o conceito de XR. As 31 atrações estavam organizadas em dois grupos: a XR Experience Competition, com 14 títulos que concorreram a prêmios, e a XR Experience Spotlight, com outras 17 produções destacadas pela curadoria do SouthBy.
Na área do SXSW dedicada à exposição de soluções para os mais variados mercados, as realidades estendidas, como sempre, atraíram muita gente interessada em experimentar os novos equipamentos. Nesse quesito as notícias são ótimas! A ergonomia de headsets e demais acessórios melhora a olhos vistos. Em paralelo, a associação de XR com tecnologias hápticas mostrou-se muito promissora, com diversos estandes apresentando protótipos incríveis.
As tecnologias hápticas são capazes de simular a sensação tátil e de movimento. Elas estão no coração de dispositivos eletrônicos vestíveis (como smartwatches, por exemplo), compondo os mecanismos que permitem a monitorização e interação do usuário com o ambiente. Quando associadas às realidades estendidas, elas potencializam a imersão do usuário na experiência, podendo agregar sensações físicas, cheiros e, até, sabores à narrativa. Não é surpresa, portanto, que estejam entre os highlights do SXSW 2023.
Um dos destaques na Creative Industries Expo, o Hugtics reproduz a sensação de um abraço. Trata-se de uma espécie de colete com músculos artificiais embutidos, que se comunica com um manequim equipado com sensores de pressão. Quando a pessoa vestindo o colete abraça o manequim, os dados de movimentos são medidos e enviados de volta aos músculos artificiais, reproduzindo, assim, a sensação de receber um abraço.
Se os ares de ficção científica te surpreenderam, respire fundo que vou te contar do Phantom Snacks, uma tecnologia que te ajuda a fazer de conta que está comendo algo. Sem dúvida, algo que vai roubar a cena no mundo das dietas. Para usufruir desta maravilha, você se posiciona em frente a uma câmera, coloca fones de ouvidos especiais, escolhe um sabor e finge estar mastigando. A partir daí, a câmera capta e analisa até os mínimos movimentos de mastigação, em paralelo, pelos fones, você recebe vibrações e sons sincronizados no mesmo ritmo da movimentação de seus músculos faciais, enquanto um difusor de aromas perfuma o ar com o cheiro do lanche que você escolheu.
Os três dias da XR Experience Exhibition foram pouco para as 31 experiências em VR, AR e MR selecionadas pela curadoria do SXSW 2023. Mesmo assim, deixaram marcas no público, com uma atração mais impactante que a outra, especialmente quando vimos, ao vivo e à cores, as tecnologias hápticas inseridas nas narrativas em XR.
Nesse sentido, o exemplo mais rico foi Symbiosis. Talvez por isso tenha gerado tanta repercussão entre os participantes, com filas enormes e altas expectativas.
A história é bem bonita, se passa no futuro, daqui a 200 anos, quando, em função das transformações provocadas pelas mudanças climáticas, evoluímos da forma que conhecemos hoje para seres híbridos – humano-animal ou humano-máquina. Para a experiência, além dos headsets, vestimos trajes especiais e usamos alguns recursos robóticos. Tudo isso deveria ajudar na sensação de estar em outro corpo, mas a parte háptica ficou a desejar, na minha opinião. Além disso, outros elementos presentes na experiência, como vento e odores, podem ter atrapalhado. Os cheiros, por exemplo, eram muito fortes e senti enjoo.
Por outro lado, um dos momentos mais marcantes que vivi no SXSW 2023 foi a experiência Body of Mind.
A realidade virtual é conhecida como máquina de empatia por apresentar, profunda e genuinamente, um novo ponto de vista ao usuário. Body of Mine explora esta capacidade como poucas produções. A proposta é colocar o usuário num corpo de outro sexo, de modo que ele possa explorar a disforia de gênero e identidade trans. Assim, submetido a um corpo com o qual não se identifica, ele interage com uma ambientação ímpar e conteúdos em forma de depoimentos e histórias relacionadas aos desafios vividos por pessoas trans.
Quando fiz a experiência, a imersão foi completa desde o primeiro momento. Começou com o som de um coração batendo, e logo descobri que estava dentro de um útero. Para mim, que acabei de ter um bebê, a emoção foi indescritível. Por mais acostumada que esteja a experiências XR, Body of Mine me levou para um novo nível de imersão.
Se Body of Mind me marcou pela emoção, In Pursuit Of Repetitive Beats foi uma das produções em VR mais bem feitas que já vi na vida e também entrou na minha galeria de melhores momentos do SXSW 2023.
A experiência retrata a cena rave britânica no final dos anos de 1980, com seu colorido e animação. A trilha sonora é um elemento essencial tanto à narrativa como à imersão, que, por sua vez, ganha corpo com os filmes, depoimentos e cenas muito bonitas que se incorporam ao cenário virtual ao longo da narrativa. Em meio a tudo isso, o envolvimento sensorial foi extremo, e a imersão foi absoluta. Por mais que eu soubesse que estava no salão de um hotel às 3hs da tarde, senti e me diverti como se, realmente, estivesse numa balada às 3hs da manhã.
A parte mais interessante, foi entrar em um rádio analógico – lembra como mudávamos as estações? Pois é, a cada estação, as ondas do rádio eram visíveis e tomavam formas da música – provavelmente a experiência mais marcante que já fiz em XR.
Neste jogo em realidade mista, o ponto alto foi a diversão. Sem qualquer compromisso com a verossimilhança, Eggspace leva o usuário para um ambiente de desenho animado onde os mocinhos da história são ovos que lutam bravamente contra inimigos que tentam dizimá-los. É possível jogar sozinho ou com outras pessoas, com cada jogador controlando as ações de um ovo. A dinâmica é bem divertida, os ovinhos te surpreendem, chegando por onde você não espera.
Embora eu já tivesse experimentado headsets de realidade mista, foi a primeira vez que fiz uma experiência em MR com um óculos pro. Realmente, fiquei muito surpresa em ver o quão próxima da realidade uma experiência assim pode chegar. Novos ângulos se abriram para mim, e comecei a ver o potencial de possibilidades que podemos ter na reunião do real com o digital, especialmente no que tange à ocupação do espaço.
Eggscape, In Pursuit Of Repetitive Beats, Body of Mine e Symbiosis exploram os recursos de XR em histórias que seguem por caminhos paralelos e buscam tocar a audiência em diferentes pontos, da mesma forma que outras tantas experiência na XR Experience Exhibition. Observando cada uma delas, bem como as novidades das realidades estendidas e tecnologias que agregam valor às narrativas imersivas, é animador ver o quanto ainda pode ser explorado nas XR. Seja no audiovisual ou em outras indústrias, temos um amplo terreno para inovações à nossa frente.
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.