Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
As obras do Instituto Inhotim não são para ser apreciadas, mas vividas. Ali, em cada galeria, você pode fazer sua própria performance e entrar em confluência com a arte.
Nota da autora: Importante dizer que não sou crítica de arte, então note que tudo escrito aqui são sobre sensações, emoções e amores.
Eu amo performances. Todas elas! Inhotim é o lugar perfeito para isso. Soltar a imaginação e deixar a arte percorrer o corpo, se tornando um instrumento dela é um exercício que o Inhotim proporciona apenas com sua existência.
O que vai conduzir esse relato é exatamente essa energia em que eu me permito mergulhar profundo no mundo do artista e daquela experiência que foi cuidadosamente pensada para que eu vivesse dias transformadores.
Mas antes, para quem chegou agora: conto dicas importantes do Inhotim aqui.
Quando estive em Inhotim no mês passado, na Galeria Fonte estava rolando uma performance potente e intrigante em que um homem carregava nos ombros fitas que saiam da galeria. Me confundia com a obra o tempo todo, quase que em um transe onde me via segurando todas aquelas fitas e todo aquele peso que aquele homem nu carregava. Ele se mexia e eu também. Ele se incomodou e estava cansado, e naquele exato momento eu também.
Uma intervenção da Laura Lima, chamada ‘Deslocamentos’, o que fez total sentido quando sai daquela loucura e me desloquei, seguindo os 4.000 metros de fitas pretas e vi um cenário lindo, com tudo exatamente no seu lugar, deixando aquela carga que ele carregava mais leve do que poderia.
Perspectiva né, amores!
Uma das perspectivas possíveis são as fitas vistas atrás dos famosos fuscas de Jarbas Lopes, em ‘Troca-Troca’. Pensei se esse nome era pelo fato dos fuscas poderem estar e já terem estado em diferentes pontos do parque. Mas não, tem a ver com frases coladas no para brisa dos carros que podem ser lidas de maneiras diferentes.
Essa obra também já fez sua performance antes de chegar no parque, em que o artista viajou do RJ para Curitiba com amigos nos três fusquinhas. Em 2007, uma nova viagem aconteceu. Dessa vez, de Belo Horizonte a Brumadinho. Como deve ser, arte na rua!
Inspirada como tava, fui à obra do Tunga. Sempre gostei dessa obra e a maneira como te convida a interagir com o vídeo como se fizesse parte dele. Mas dessa vez, cansada que estava de ter carregado o peso do mundo nas costas horas antes, achei por bem me despir e imitar a arte.
Recomeçar e resetar o drive com uma dose de coragem e de entrega. Não sou nudista, já que as pessoas entendem e me deram uns minutinhos.
Uma maneira menos óbvia que minha cabeça tem de dançar é se aquietar, ou pelo menos tentar. Até que eu consiga encontrar alguma paz, meus pensamentos buscam qualquer coisa que possa se prender. Dançando entre passos, conversas ou uma porta qualquer abrindo até que cada vez mais buscam coisas sutis, que fogem do controle até só respirar.
‘O Som da Terra’, de Doug Aitken, te leva a isso muito rápido, e isso pra mim é o mais impressionante. Eu respirava junto com a Terra, a ponto de eu ter achado que estava no magma, apesar dos sensores estarem a 202 metros de profundidade. Eu me sentia 10 vezes mais profunda dentro de mim mesma.
O ‘Beam Drop‘ de Chris Burden me pareceu como um instrumento gigante e não exitei ao entrar correndo e batendo nas estacas, como uma bateria que exigia muito de mim de uma forma divertida.
Na verdade, essa obra é incrível e foi feita em um ato performático de 12 horas ao ar livre no ponto mais alto do parque. 71 vigas de aço foram soltas em uma piscina de concreto fresco por um guindaste de 45 metros que era orientado pelo artista.
Já na video-instalação ‘I’m not me, my Horse is not mine’, do artista William Kentridge, eu me permiti dançar e interpretar junto com os telões e com a releitura da ópera ‘O Nariz’, que funciona simultaneamente com todos as 8 projeções e também com a minha cabeça.
Olha, dá para gastar um tempo!
Ler textos do artista, trechos da sua vida e poesias que pautaram às obras dá a sensação de estar lendo a alma do artista, logo a minha também. Uma vez que a gente projeta e reflete sobre as nossas vidas quando provocados pela arte.
Isso acontece de uma maneira absurda em ‘Xifópagas Capilares Entre Nós‘, uma narrativa de Tunga que originou uma performance na sua galeria. Impressionante. A galeria e a performance.
Gêmeas unidas pelos cabelos que andavam e performavam pela galeria. “Elas passaram os anos fingindo-se desapercebidas. As meninas, caladas, já haviam se decidido: jamais se separariam.”
Ter lido essa lenda antes de entrar para me amarrar nas tranças do Tunga foi forte.
O Junio é o melhor guia do Inhotim. Na ‘True Rouge’, também do Tunga, ouvi a história e a ligação que o artista tem com Inhotim, que teve a primeira galeria inaugurada no parque. Foi massa, para conhecer um pouco mais de Tunga que está por todo lado e tem uma presença importante na experiência.
A galeria tem esse nome pela inspiração da obra em um poema homônimo de um escritor inglês e ouvi-lo calmamente com Junio declamando cheio de paixão foi bonito de ver.
Foi na Panacea Phantastica, o famoso banco de plantas alucinógenas de Adriana Varejão que nossas vozes se encontram, minha e do guia Junio, de uma forma fácil e fluida, deixando clara a sintonia que tinha ali, dividindo o amor pela arte e a pela criação livre.
O texto lido em conjunto trata da relação entre os efeitos das plantas e a mudança na percepção, o que também acontece pela arte.
Essas obras me marcaram e elevaram a minha percepção e a minha consciência. Mais que obras, elas eram a minha própria performace. Que lugar importante é o Inhotim pro desenvolvimento sutil da alma.
Viajante por natureza, Patricia busca pequenas descobertas cotidianas. Acredita que o encanto das cidades mora no ritmo dos locais e pode passar horas em um café apenas observando a banda passar. Ex-dona de hostel e ex-mochileira com algumas recaídas, hoje prefere quartos com vista em nowhere. Amante das road trips e desenvolvedora de roteiros com a cara do viajante, cai na estrada para conhecer e desbravar esse mundão.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.