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Visitar a Ilha do Marajó é em contato com o Brasil profundo, com o estilo de vida ribeirinho, com nossa ancestralidade indígena e com búfalos, muitos búfalos! Veja aqui como é viajar para a Ilha do Marajó.
Se é lugar de fala que se chama, do Pará eu tenho muito. Minha família é paraense e se somarmos todos os meses que passei percorrendo Belém e arredores, lá se vão alguns anos. Perdi as contas de quantas vezes fui à Ilha do Marajó – mas posso dizer que é um lugar que pouco muda e talvez esse seja seu maior charme. Entrar em contato com o Brasil profundo, com o estilo de vida ribeirinho, com nossa ancestralidade indígena e com búfalos que andam soltos nas ruas e são a maior estrela do lugar.
A Ilha do Marajó alcançou uma certa fama fora do estado do Pará, mas não me atrevo a chamá-la de turística. As coisas por lá são rústicas, simples e a maioria dos visitantes não veio de longe. É o lugar para visitar se você acha que Caraíva gourmetizou.
Deixe-me ser clara: a Ilha do Marajó não tem restaurantes que valorizam a apresentação do prato ou hotéis com serviço de piscina. Vá se quiser uma imersão no Brasil, não escapar dele.
As duas maiores vilas da Ilha, que é gigantesca, são Soure e Salvaterra. Os transportes públicos de Belém chegam na primeira; a “capital” do Marajó é a segunda. Estão conectadas por um longo caminho por terra, uma balsa ou um popopó (canoa motorizada que ganhou esse nome graças ao ruído que o motor faz) de três reais e três minutos. É bem fácil ir de uma à outra por barco.
Para chegar à Ilha, é necessário vir de Belém. Lanchas e barcos saem do Terminal Hidroviário das Docas – Luiz Rebelo Neto. É toda uma função: não respondem telefone ou Whatsapp, só é possível comprar passagens online e a venda é liberada apenas na semana na viagem. Você terá que ir presencialmente ao terminal na véspera, como faziam os antigos fenícios.
A opção recomendada é a lancha direta Expresso Golfinho, que faz a viagem em pouco mais de duas horas (a depender da vontade dos rios e baías amazônicos) na santa paz do ar condicionado.
Belém / Soure : Seg/ter/qui/sex, às 08:15 |quarta e sábado, às 08:40 (não opera aos domingos)
Soure / Belém: Segunda a sábado, às 05:30 da manhã (guichê Soure – 08h a 12h / 16h às 18h)
Aos domingos a saída é às 8h de Belém e 15h de Soure.
É possível ir de carro. A logística é mais complicada para chegar e sair da ilha, mas vale a pena porque o Marajó é grande. É necessário pegar a balsa para veículos que sai do Terminal Hidroviário em Icoaraci, a 20km do centro de Belém. A viagem de balsa dura cerca de 2h30 e te deixará em Camará, a 38km de Salvaterra.
Se não estiver de carro no Marajó, se locomova de bicicleta, mototáxis ou taxis. Prefira o último, porque os mototáxis não fornecem capacete ao carona.
E nunca faça um bate e volta a partir de Belém. As distâncias amazônicas são enormes e os horários, incertos e sujeitos às vontades da mãe natureza. Fique ao menos duas noites, mas sugiro três.
Salvaterra, Soure e Joanes são as principais vilas, com mais infraestrutura – que, lembre-se, ainda assim é muito básica. Fun fact: Soure é uma cidade planejada, em a 3ª avenida cruza a rua 2. Porém não há energia menos novaiorquina que a da Ilha do Marajó.
Em Soure, me hospedei recentemente no Canto do Francês, que fica um pouco mais afastada do centro, tem atendimento simpático e café da manhã delicioso. O restaurante é aberto à não hospedes e recomendo demais o filé marajoara – um aperitivo com carne e queijo de búfala. Uma opção mais central em Soure é a Casarão Amazônia, que também conta com um elogiado restaurante.
Salvaterra tem uma orla recém urbanizada, perfeita para aquela caminhada com um sorvete no fim de tarde. Por ali, a opção certa é a Pousada dos Guarás, provavelmente o melhor hotel da Ilha.
Joanes é bem pequena e a melhor coisa são suas hospedagens beira-rio, não tão fáceis de achar nos lugares anteriores. O melhor a se fazer em Joanes e se hospedar na Casa da Beira e trocar ideia com o proprietário. Outra opção de hospedagem é a Vila Joanes.
A Ilha do Marajó é aquele lugar onde o tempo passa de outra forma. Não há muito mais o que fazer além de curtir praia, mergulhar no Igarapé, comer peixe fresco, sentar na pracinha para observar o movimento, colocar a leitura em dia na rede, observar os búfalos pastando.
Não perca a apresentação do Tambores do Pacoval se estiver num sábado à noite na ilha. Carimbó – um instrumento musical que virou sinônimo do ritmo – é a trilha sonora do Pará e os ensaios da banda nas dependências da associação de moradores são puro suco (ou açaí) marajoara. Chegue cedo para ver os vizinhos se organizando para vender comidas, as senhoras da comunidade sendo recebidas com deferência, as mesas de aniversário sendo montadas. Aos turistas é pedida uma contribuição de R$ 20,00. Além do carimbó – chapéus com fita e saias rodadas, houve ainda uma apresentação de boi bumbá. Programaço.
Há, claro, muita praia e igarapé para tomar banho. A principal praia de Soure é a do Pesqueiro, de fato uma das mais bonitas, com 4 km de extensão – ou seja, do tamanho de Leme e Copacabana juntas. A praia de Barra Velha é mais intimista. Almoce no Pai d’Égua e tire um cochilo na rede à sombra das árvores. Ambas as praias são tranquilas durante a semana, mas movimentadas no fim de semana e se o brega não estiver tocando na caixa de som da barraca, pode deixar que os demais frequentadores da praia se responsabilizarão pela trilha sonora. Ou você abraça a proposta – onde mais você ouviria System of a Down versão pisadinha? – ou vá às praias do Céu ou Caju Una, localizadas em comunidades pesqueiras, para ter mais tranquilidade.
O passeio símbolo do Marajó é a fazenda São Jerônimo – eles entregam todo o pacote marajoara – praia, igarapé, búfalo, mangue – mas demasiadamente empacotado para o meu gosto. Com quatro dias na ilha, contratei um mototáxi e fui degustando o Marajó aos poucos – uma parada na fazenda Mironga, de produção de laticínios de búfala uma hora, um passeio para admirar a fauna e flora da fazenda Bom Jesus no entardecer, uma visita ao ateliê de arte em cerâmica após o almoço.
Outros rolés típicos do Marajó são: praias de água doce e salobra, avistar guarás nos igarapés, policiais fazendo a ronda montado em búfalos, uma foto nas ruínas jesuítas em Joanes. E uma dica: entre na água arrastando os pés na areia – a presença de arraias é bem comum.
Você provavelmente vai almoçar na praia, tomando uma Cerpinha com os pés dentro d’água, em restaurantes indistintos. As cabanas ficam uma ao lado da outra: a ideia é passá-las em revista e escolher a que mais apetecer.
Na vila, o lugar mais recomendado pelos locais é o Solar do Bola: os preços são amigos, o cardápio é simples e variado (pizzas, sanduíches e refeições com vários tipos de proteína animal) e as porções generosas. O Patú- Anú, no centro, tem a mesma pegada. O restaurante do Solar Amazônia é mais refinado (para os padrões locais). Mas o lugar com a culinária mais criativa e a melhor vibe, é, sem dúvida, o Tucupi Hostel.
Um programinha campeão é tomar café da manhã nos mercados municipais das diferentes vilas do Marajó, com cadeiras e mesinhas de plástico que se espalham pelos gramados vicinais e famílias se deliciando com tapioquinhas frescas e cafezinho passado.
Uma das especialidades do Marajó é o turu, um molusco, que parece uma minhoca gigante e vive dentro das raízes aéreas podres dos manguezais. Eu sei, essa descrição não é muito atraente. Mas se você toma caldo de lambreta e de sururu, também vai curtir o turu.
Se você está lendo com atenção, já percebeu que o búfalo é a estrela do lugar. O animal também é usado para a produção de variados laticínios. É provável que sua pousada ofereça iogurte, doce de leite, queijo, manteiga e requeijão de búfala no café da manhã. Se não for vegano, experimente e aproveite para comprar direto nos fornecedores.
No Marajó você também pode provar iguarias paraenses como os incríveis peixes de rio amazônicos como filhote de tambaqui, pratos típicos como maniçoba e arroz paraense (com camarão e jambu) e doces feitos com cupuaçu – a primeira pessoa a identificar que essa fruta similar ao cacau e de sabor levemente ácido servia para fazer doces, essa pessoa merece um lugar no céu (onde certamente tem open bar de cupuaçu).
Num estado com sorveterias premiadas, é no Marajó que você encontrará a mais inusitada delas: Ice Buffalo (você já deve imaginar que tipo de leite serve como base) e opções como castanha com doce de cupuaçu e leite de búfala com doce de leite e queijo do marajó). O sorvete é tão gostoso como a vibe do ambiente: se refrescar do calor úmido amazônico, em frente ao rio, olhando o búfalo albino que é mascote do lugar pastar no gramado. Sim, um búfalo albino! Se você não acredita em mim, confira o instagram do Alemão .
Um mascote de sorveteria que é um búfalo albino com perfil no instagram? Há coisas que você só encontra na Ilha do Marajó.
Carioca da Zona Norte, hoje mora na Zona Sul. Já foi da noite, da balada e da vida urbana. Hoje é do dia, da tranquilidade e da natureza. Prefere o slow travel, andar a pé, mala de mão e aluguel de apartamento. Se a comida do destino for boa, já vale a passagem.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.