Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Berlim sempre surpreende quando o assunto é música. Para mim, que ando mergulhada no universo da música experimental, viver na capital alemã tem sido puro deleite sonoro.
Recentemente descobri o MONOM, um espaço dedicado à performance experimental com um soundsystem 4D. Estava bem curiosa para entender exatamente o que isso significa, mas tive que segurar a ansiedade pois os eventos abertos acontecem apenas uma vez por mês. O MONOM funciona desde 2017 num galpão industrial dos anos 1950 dentro do complexo da casa de shows Funkhaus, que fica no meio do nada. Então é necessária uma boa dose de motivação para ir até lá.
Finalmente chegou o aguardado dia. Eram duas opções de ingressos: a primeira para ver as performances diurnas que aconteciam seguidamente a cada hora a partir das 14h. A segunda seria passar a noite com direito a colchão, travesseiro, cobertor e café da manhã. Um evento non-stop com duração de 16 horas emendando um no outro. Decidi pela primeira opção mas, no fim das contas, descobri que as experiências nesse dia seriam a mesma pra todo mundo. Independente do horário que você chegasse, você seguia para uma sala completamente escura, onde a pouquíssima luz vinha de dois aquecedores monstruosos que ocupam o teto e da luz baixa que sai da cabine do DJ/produtor. A apresentação da madrugada foi o sleep concert “Somnium”, do produtor de música eletrônica experimental e ambient Robert Rich, que deve ter sido lindíssimo.
Antes, porém, passei no bar no primeiro andar, peguei uma taça de vinho e desci acreditando que passaria as próximas horas batendo papo e dançando com uma amiga que foi comigo. Nada disso aconteceu.
Adentramos a escuridão tentando nos acostumar com ela. Não tinha ninguém em pé além do DJ. A música era o único som presente além de alguns estalos irritantes que o aquecedor soltava eventualmente. O público fica espalhado em colchões simetricamente espalhados pelo espaço. Praticamente todos eles estavam ocupados.
Conseguimos dois colchões separados. Ou seja, a minha experiência seria sozinha mesmo, assim como estava sendo para a maior parte do público presente. Tentei achar um jeito confortável de ficar, pois me dei conta do equívoco que foi entrar com a taça de vinho na sala, então não rolou deitar. Demorei um tempo para me desligar. Algumas pessoas insistentemente rolavam a tela de seus celulares, outras pareciam dormir profundamente e algumas provavelmente estavam se debatendo com seus demônios pessoais ou entregues aos devaneios mais diversos.
O teto e paredes são ocupados por 48 caixas de som omnidirecionais, o que quer dizer que o som é propagado em todas as direções. Debaixo da grade, que faz as vezes de chão, 9 caixas sub (grave) repousam poderosamente. O som que sai das 57 caixas de todos os lados envolve o público completamente. Ele está em todos os lugares e direções. A música está no ar, impossibilitando saber exatamente de onde ela vem. É o famoso “som espacial” instalado da maneira mais sofisticada possível.
A dupla ET.NO.HOME & Cynthia estava finalizando a apresentação para dar lugar ao Ross Alexander, que fez um live cheio de sons da natureza. O som dele me trouxe uma paz e uma felicidade absurdas, a ponto de eu dar uma cochilada. Já eram 19h e o espaço foi lotando. As pessoas que chegavam sentavam nos corredores entre os colchões, o que não era muito confortável.
Depois de 2 horas eu decidi sair. Minha amiga já tinha vazado, pois a experiência a fez acessar lugares em sua mente no qual ela não estava disposta a encarar. Eu ando muito interessada por terapias de som e ali eu pude sentir de um jeito bem diferente o poder que o som tem em nosso corpo e mente. Foi uma loucura!
O MONOM tem à frente o coletivo 4DSOUND system, que explora o som espacial como meio. Eles colaboram com mais de 100 artistas que, durante os últimos anos, têm pesquisado, experimentado e criado performances onde o seu instrumento é o som espacial.
Além da música, o MONOM tem também apresentações com instalações e projeções, onde o espaço ganha mais cara de “pista”, o que não foi o caso do dia em que fui. Além disso, o projeto tem abrigado também programação do CTM Festival, que acontece sempre no fim de janeiro em Berlim.
Caso você tenha planos de passar por Berlim, não deixe de conferir a agenda deles. A próxima edição vai ser dia 19 de março com o Max Cooper, um dos meus produtores favoritos atualmente.
*Foto destaque: MONOM por Becca Crawford
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
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Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.