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Não sou a iogue mais devota do universo, mas o Yoga Barn estava no topo da lista de lugares a conhecer em Bali. Um estúdio de ioga internacionalmente famoso: como é Yoga Barn?
Dando namastê desde 2007, o espaço não é um “estúdio de ioga”. Na verdade, está mais pra shopping center do wellness ou parque temático do mindfulness. O Yoga Barn ocupa um quarteirão inteiro de Ubud, em meio a terraços de arroz e horta orgânica própria. O terreno é acidentado e as construções dispostas em vários níveis. Mapas estão disponíveis na entrada e a sinalização é farta, pois é fácil se perder por lá.
“Venha pela Yoga, fique pelo bem estar” poderia ser seu slogan. A prática é o que leva as pessoas ao Yoga Barn- e nisso, com 100 aulas de ioga e meditação por semana, o complexo não decepciona. Mas ioga, em Bali, tem a cada esquina. O que faz o Yoga Barn diferente é a completa imersão num lugar dedicado à cura, ao bem estar e ao autoconhecimento, mesmo no centro de Ubud.
O Yoga Barn tem seis estúdios, anfiteatro, loja, restaurante orgânico e vegetariano, café e pousada com dez quartos. Para corpo, mente e alma são oferecidos tratamentos variados, com cardápios detox, um “centro de cura holístico” com acupuntura, balanceamento de chakras e medicina chinesa; além de centro de tratamento ayurvédico com diversos tipos de massagem de origem védicas e tântricas.
As aulas também vão bem além de ioga: há dança, meditação, pranayama (respiração), retiros, curso de formação de professores, círculo de mulheres, exibição de filmes, palestras, encontros gratuitos com a comunidade e até capoeira. Ioga mesmo também tem, e de várias modalidades, mas boa parte das aulas são das conhecidas hatha, vinyasa e yin. Dá para ficar o dia inteiro pelo Yoga Barn e aposto que muita gente fique mesmo.
As aulas duram uma hora e meia e é possível comprá-las avulsas por IDR 130.000 (R$36). Há pacotes de três, cinco, dez, vinte dias ou passes ilimitados de um mês por IDR 2.600.00 (R$715,00).
O que nos leva à grande questão do Yoga Barn (e, ouso dizer, de Bali) – por uma mensalidade de 180 dólares, para quem é esse paraíso do wellness?
Cheguei no Yoga Barn no começo da tarde de uma terça-feira. A cada passo que dava na ruela de acesso, deixava para trás o zumbido das moinhos que são a trilha sonora da vida em Bali. As inscrições para as aulas só podem ser feitas com 30 minutos de antecedência (ou online) e resolvi esperar algumas horas até a prática que me interessava e dar um rolé pelo lugar.
Ao som do riacho que corre no terreno, não faltam lugares para relaxar no Yoga Barn. Nos bancos e cabanas espalhados pelo complexo, alunos meditavam – digo, olhavam o celular. Certo, exceção feita à moça que escrevia à mão num caderno. Metade dos homens passeava sem camisa, outra metade transitava descalça. No meio das montanhas da Indonésia, o idioma corrente era o inglês. Os balineses do Yoga Barn estavam uniformizados do outro lado do balcão.
Fiz a inscrição, apliquei um pouco do repelente de marca própria oferecido e, com 20 minutos de antecedência, entrei no estúdio. Pouco a pouco, os alunos – brancos, jovens, magros e vestindo Lululemon – foram lotando o lugar. Quem são, de que se alimentam e, principalmente, no que trabalham alunos que chegam com meia hora de antecedência numa aula de ioga às 15h30 de uma terça-feira?
O estúdio tinha grandes janelas com vista para a copa das árvores e nenhum ar condicionado. No começo da aula, éramos 34 pessoas a saudar namastê. Só cinco homens e apenas uma negra – a professora americana. É um lugar de encontro, não de atenção personalizada.
Não é necessário levar nada além do seu corpo e da sua garrafa de água, que é abastecida lá. Tapetes, blocos, straps, cobertores, máscara para olhos e todo tipo de acessório para a prática de ioga é oferecido nas salas. Os alunos são responsáveis por limpar os tapetes com gel após a aula.
Uma hora e meia rende uma bela prática. O desafio maior foi me manter presente por tanto tempo. As posturas não foram diferentes do que costumo fazer no Brasil e apenas uma foi novidade.
Corpo e espírito saíram satisfeitos e energizados, prontos para encarar o transito balinês. A mente, porém, estava incomodada. O Yoga Barn é um playground para o mindfulness ocidental, inacessível aos balineses. É saudável beber café orgânico num país que produz 130 toneladas de lixo por ano? É restauradora uma massagem ayurvédica aplicada por alguém que jamais poderia pagar por ela? The Yoga Barn é incrível, mas poderia ser incrível também para os balineses.
*Foto destaque: Jared Rice / Unsplash
Carioca da Zona Norte, hoje mora na Zona Sul. Já foi da noite, da balada e da vida urbana. Hoje é do dia, da tranquilidade e da natureza. Prefere o slow travel, andar a pé, mala de mão e aluguel de apartamento. Se a comida do destino for boa, já vale a passagem.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.