Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Continuando nossa saga com o projeto Decoding Innovation Festivals, o porto da vez foi Barcelona, e a curadoria da 19ª edição do OFFF Festival foi sensacional, reunindo mentes brilhantes e inspiradoras em 3 dias de evento, dentro do Museu de Design, em plena primavera da cidade. Se parássemos por aqui, já teríamos inspiração suficiente, mas vamos compartilhar nossos principais aprendizados, que nos fizeram enxergar o futuro da criatividade.
Sabe aqueles mega eventos e feiras, com dezenas de ativações de marcas que estamos acostumados a ver? Esqueça tudo isso. O OFFF Festival nos mostrou na prática o clichê que mais ouvimos sobre a riqueza da simplicidade.
Do lado de fora do museu havia telões para pessoas assistirem às palestras sentadas em arquibancadas ou cadeiras, enquanto aproveitavam cerveja, café ou comidinhas nos food trucks. Esta parte era aberta ao público. Parece bobo, mas esta vibe informal, na qual você tem acesso a um conteúdo de qualidade ao ar livre me encantou muito. Ainda mais com a temperatura super agradável e o céu azul que estava. Simples e funcional. Sem a preocupação de conforto de cadeiras almofadadas, ar condicionado. Ah, se você estivesse passando pelo lugar, poderia assistir, mesmo sem ser participante do evento.
Do lado de dentro, eram 3 super salas + o andar dos workshops exclusivos, sendo uma delas um teatro (que focava nos temas ligados à cinema), cada uma comportando cerca de 1.500 ou até mais pessoas. Eram programadores, designers, ilustradores, desenvolvedores, cineastas, entre outras profissões que criam coisas incríveis, usando a tecnologia como ferramenta para potencializar isso. Decoração? Zero! Ficava por conta das próprias paredes do lugar, além do telão, iluminação e um sistema de som impecável, para valorizar o trabalho de artistas que trabalhavam com som.
O palco principal dividia espaço com uma mini feira. Nem a Adobe, principal patrocinadora, tinha um estande enorme que roubava atenção. Tudo ali era pensado para experimentar, usar e despertar a criatividade usando as próprias ferramentas da marca, que estava no mesmo ambiente que outras pequenas vendendo roupas, objetos ou outros produtos que estimulavam a criatividade.
Uma solução simplista, que deu um efeito minimalista e muito bonito no local.
Pelo contrário. Se teve algo que ouvimos todos os criativos do mundo todo falando, foi o quanto a tecnologia ajuda a potencializar o trabalho deles, desde que utilizada como um meio e não o fim. Durante a palestra da Adobe, revelaram alguns números exclusivos que fizeram com profissionais da área. E se uma ferramenta aprendesse com a nossa própria criatividade? E se ela fizesse aquele trabalho chato e repetitivo, que ocupa nossa cabeça, enquanto livrasse tempo e espaço para sermos mais….. criativos? Foi exatamente essa a mensagem que captamos do evento todo: que a tecnologia chegou para nos ajudar a sermos as melhores e mais criativas versões de nós mesmos, desde que saibamos usar.
“A criatividade está na era da Inteligência Artificial” – Adobe
Vimos coisas maravilhosas e inimagináveis que apenas se tornaram reais graças à junção de Inteligência Artificial, softwares de última geração, conhecimento e criatividade. A tecnologia permite criar algo lindo e simples por fora, com uma complexidade enorme por dentro. É o caso do Ouchhh, que se denomina como Creative New Media Agency (tradução livre: Agência criativa de nova mídia), de Istambul que fazem “data sculpture“. Como assim? Eles, basicamente, captam sinais e vibrações do mundo e transformam esse data em animações maravilhosas, “estampadas” em instalações. Já fizeram isso em dezenas de lugares no mundo, incluindo no prédio da FIESP, na Avenida Paulista. É surreal de lindo.
“Não use data apenas para criar, mas para o seu processo criativo”
Esta frase foi falada durante a palestra do Ouchhh, mas ouvimos várias outras vezes durante o evento, pois os profissionais compartilhando experiência no palco estavam nos mostrando como podemos aproveitar estas tecnologias que entendem mente e comportamento para criar experiências mais imersivas e impactantes, seja em VR, instalações, brand experiences, ou campanhas em vídeo.
Aliás, participando do OFFF, a grande lição é o quanto o mundo publicitário precisa beber de outras fontes para se tornar mais criativo. Vimos um monte de desenvolvedores, programadores e ilustradores dando um banho de inovação e criatividade, usando AI e outras ferramentas para criar experiências de marcas, com a combinação de A.I., luzes e sons. Não à toa, os festivais de música já estão anos na frente, utilizando o espaço para potencializar a experiência do público.
Outro ponto muito interessante foi ver quase que um novo formato de propaganda: campanhas que antes poderiam ser simples hoje podem ser modernas, animadas, tecnológicas e muito mais sexies. A agência Mother, de Londres, falou muito sobre o poder que a observação dos detalhes tem no processo criativo, para que texturas, cores, entre outros pontos sejam evidenciados nos vídeos. Eles conseguiram tornar a campanha “What the Cluck”, do KFC de Londres, em algo interessante e descolado.
No Open Stage, os artistas falavam bastante sobre seu processo criativo, inspirações, o caminho que percorreram para chegar até ali. Em um evento no qual as mentes mais criativas do mundo todo, daquelas que fazem trabalhos inimagináveis, ouvir sobre suas frustrações, medos e bloqueios criativos foi uma boa surpresa. Mas é inspirador ver que, mesmo com tanta tecnologia, criar tem a ver com expressão, coração e essência. E por isso mesmo, falaram tanto sobre encontrar um equilíbrio entre esta vida hiperconectada.
“Put the shit things out and people will pick it up” – Edel Rodrigues (Agent Orange)
E aqui está o grande paradoxo da criatividade: a internet (e tecnologia) pode ser uma fonte de referências, mas também pode causar uma sensação de sobrecarga e ansiedade, devido ao acúmulo de informação, bloqueando o cérebro. Não há criatividade sem olhar para dentro, sem conexão com você mesmo. Para ser criativo é preciso estar com a mente mais limpa e em um ambiente aberto para riscos. E isso vale também para empresas que buscam por inovação, pois sem erros, não há criatividade.
Outro ponto interessante foi o respeito pelo trabalho do outro, pois o risco pode ser também de vida ou de auto-estima. No caso do Edel, por exemplo, ele usa sua arte como um ato político, principalmente contra o Trump. Nascido em Cuba e morando nos EUA, imaginem a quantidade de haters que podem bater à porta dele a qualquer momento?
Pra finalizar, os principais destaques do evento para mim, foram:
a. a organização: além da simplicidade e funcionalidade das coisas, tudo fluiu muito bem e sem filas, mesmo com a quantidade de pessoas presentes.
b. a pontualidade de todas as palestras. Parece bobo, mas faz toda a diferença quando você pode contar com os horários programados.
c. o local em si: perto de tudo, com vista para a Sagrada Família e um espaço externo ótimo para aproveitar o dia.
Por fim, a curadoria de pessoas: enxergar estes trabalhos mais inovadores e criativos espalhados pelo mundo e reunir estes profissionais para compartilhar suas experiências durante 3 dias não é tarefa fácil. O mais legal era ver os palestrantes caminhando pelo evento, do seu lado. Pra quem é da área, um ótimo ambiente para networking.
Amo festivais de música, pessoas e culturas diferentes. Encontrei nas viagens um caminho para unir tudo isso e viver em constante aprendizado. Co-founder da @somosyounique e sócia da @mediaeducation
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.