Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Uma noite típica na Fábrica Braço de Prata, em Lisboa, pode começar com uma apresentação de jazz cubano, super suingado. Em seguida, uma dupla apresenta o melhor da MPB, num esquema voz-e-violão. Daqui a pouco entra talvez uma banda de percussão africana, ou música experimental alemã, ou ainda um grupo de teatro, ou mesmo uma aula de filosofia – e assim as atrações vão se revezando, uma após a outra, ocupando as salas (mais de 20!) do enorme espaço, toda noite, até o encerramento da casa.
Pra recuperar as energias, é só dar uma passada no belo bar, que serve mojitos, caipirinhas e, claro, bons vinhos. Se a fome apertar, há um restaurante que serve também belos petiscos (experimente as bolinhas de alheira e as moelas). Entre um número musical e outro, aproveite para as exposições de artistas que ficam espalhadas pelas salas e corredores, e se nada lhe interessar sempre há a opção de se dirigir até a enorme livraria no primeiro andar e escolher um livro para se refugiar – mas dada a variedade e qualidade das atrações, diria que é quase impossível ficar entediado na Fábrica.
Mas por incrível que pareça a Fábrica Braço de Prata tem uma movimentação tão grande de dia quanto de noite. As mesmas salas que acolhem standards jazzísticos recebem durante no período diurno uma escola de músicas, várias atividades infantis dentro do projeto Bracinho de Prata e oficinas as mais diversas, de danças africanas a escrita criativa.
A FBP se situa em Marvila, na Zona Oriental de Lisboa (uma área que tem sofrido um processo intenso de hipsterização, conforme já falamos aqui), e tem uma longa história. Inicialmente uma indústria militar de fabricação de munição, teve suas atividades encerradas na década de 90. Em 2007 o espaço estava reservado para a construção de um condomínio de luxo. Por volta dessa mesma época duas livrarias, a Eterno Retorno e a Ler Devagar, se viram sem casa. Entraram então em acordo com o responsável pelo espólio da Fábrica: poderiam ocupar o espaço sem pagar aluguel, enquanto o projeto não saísse, em troca da manutenção do prédio.
A partir daí a coisa cresceu e virou o centro multicultural que é hoje. A Fábrica é auto-gerida e se define como uma empresa privada sem fins lucrativos, adotando um modelo que chamam de Economia do Comum – todo o dinheiro que sobra, depois das contas pagas, é reinvestido no espaço. A bilheteria é 100% revertida pros artistas: ao final de cada noite, soma-se tudo que foi angariado e é divido entre os artistas que se apresentaram na data, e o lucro das vendas das obras expostas vai todo para os respectivos artistas.
Para ficar por dentro da agenda da casa é só verificar o site. A FBP cobra um preço único por noite, normalmente 7,5€, que dá direito a todos os concertos e atrações daquela data. A programação noturna da casa vai de quarta a sábado a partir das 18h. Vale a pena programar uma visita.
Paraense radicado em Lisboa. Engenheiro, cozinheiro e cervejeiro, sem ordem específica de preferência. Viajante de vocação.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.