Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Antigas fábricas em ruínas transformadas em coworkings, galerias de arte e espaço criativos em geral? Tem! Restaurantes e cafés descolados, com culinária das mais diversas partes do mundo? Tem também! Um espaço pra treinar parkour? Você só vai achar por aqui. E se o passeio der sede, não se preocupe: a quantidade de cervejarias artesanais é tal que uma parte do bairro ficou conhecida como Lisbon Beer District e é palco da Oktoberfest local. E tem ainda lojas de decoração, antiquários, estúdios de tattoo, sem mencionar os diversos empreendimentos que devem dar as caras ao longo de 2018. Estamos falando, é claro, de Marvila, o antigo bairro fabril às margens do Tejo que aos poucos está se transformando na área mais cool de Lisboa – não a toa, foi escolhido pela revista TimeOut local como “bairro do ano” de 2017.
Marvila fica na zona leste lisboeta, fora do circuito turístico tradicional. Historicamente um bairro industrial, tomado por fábricas – de vinho, tabaco, sabão, material bélico, entre outras – e vilas operárias, entrou em decadência a partir dos anos 80. Quem visitasse Marvila até uns dez anos atrás só veria armazém atrás de armazém abandonados. Scott Steffens, da Cervejaria 2 Corvos, uma das primeiras a se instalar no bairro, me disse que, quando começou a procurar um local, tinha que correr atrás dos proprietários, que nem chegavam a listar seus imóveis em imobiliárias por acreditar que não haveria demanda. Mas foi justamente a disponibilidade de espaços amplos e baratos, com acesso fácil ao restante da cidade, que atraiu um contigente cada vez maior de empreendimentos pro bairro, a partir de 2010, num processo de gentrificação que se acelerou ainda mais nos últimos anos.
A maior parte das atrações de Marvila se estende ao longo da Rua do Açúcar. Você pode começar sua visita pela região do Poço do Bispo, que fica próxima a estação de comboio (trem) do Braço de Prata. Uma das pioneiras na renascença de Marvila, a Fábrica Braço de Prata ocupa as instalações de uma antiga indústria bélica e talvez seja o melhor exemplar da nova vocação do bairro: um espaço polivalente, ocupado de maneira dinâmica por livrarias, concertos de jazz, exposições de arte e muitas outras atividades. Vale consultar a programação da casa pra ver o que está rolando.
Andando mais um quarteirão se chega a uma pequena praça na qual se destacam dois belos edifícios, ambos antigos armazéns vinícolas: o José Domingos Barreiros & Cª Lda e o Abel Pereira da Fonseca. É esse último, emoldurado por enormes janelas circulares de ferro fundido, que mais nos interessa. Hoje o Abel hospeda um número de empreendimentos interessantes: o coworking Lisbon Workhub, os restaurantes El Bulo Social Club (argentino), Refeitório do Sr Abel (pizzas) e o Heterónimo Baar. Os três últimos são obras do inquieto Chakkal, chef argentino que elegeu Marvila como área de atuação.
Também no Abel se situam o Cantinho do Vintage, um armazém de móveis e objetos de decoração retrô, além do Spot Real, a primeira academia de parkour de Lisboa (sim, você pode praticar num ambiente seguro antes de sair pulando de telhados por aí!).
Se quiser descansar um pouco do agito, basta atravessar a praça até o propriamente denominado Café com Calma, que tem uns bolos ótimos. Numa das transversais da Rua do Açúcar ficam dois espaços bem interessantes: a Fábrica Moderna é um makerspace que agrega artesãos modernos e também promove uns workshops bem legais como cerâmica e impressão 3D. Quase em frente fica a Todos , um espaço coletivo com diversos empreendimentos criativos nas áreas de fotografia, design, música, etc. De vez em quando rolam uns eventos maneiros por lá. No mesmo quarteirão fica o Teatro Meridional, casa da premiada companhia de mesmo nome.
Andando mais um quarteirão, você chega ao que é discutivelmente o coração do bairro: o cruzamento da Rua do Açúcar com a Capitão Leitão, também conhecido como Lisbon Beer District. O nome, claro, se deve ao fato de que três cervejarias artesanais se aglomeram no espaço de um quarteirão: a 2 Corvos foi a primeira a chegar, em 2015. No ano seguinte chegou a Lince e finalmente em 2017 a Musa, consolidando o bairro como epicentro da revolução cervejeira que toma Portugal. Juntas, as cervejarias tem promovido diversos eventos no entorno, como uma Oktoberfest ano passado, e agora em janeiro uma versão da tradicional Festa dos Reis portuguesa denominada Ouro, Incenso e Birra.
Como as opções de comes nas cervejarias são bem limitadas, a hora que a fome bater não precisa ir longe: ali mesmo na Rua do Açúcar fica o interessante Aquele lugar que não existe, um restaurante-conceito que não tem nenhuma placa nem nenhum outro tipo de marketing (nem site tem), mas sim existe e tem uma comida bem real. E se existem diversos restaurantes chineses em Lisboa, poucos tem a classe e a qualidade do Dinastia Tang. Do lado do Tang fica o Beatus, cujo destaque é um daqueles ônibus londrinos de dois andares estacionado no meio do salão.
E como a gente não quer só comida, mas também diversão e arte, Marvila também tem sua cota de galerias e espaço de exibição artísticas. Ali mesmo na Capitão Leitão tem a Galeria Murias Centeno, a Baginski, da brasileira Andréa Champalimaud, e a Francisco Fino. Um pouco mais ao norte, na região da Matinha, fica a Underdogs, especializada em arte urbana. E mais ao sul, na zona de Xabregas, fica o estúdio Bregas, a reconhecida escola de arte Ar.co e o espaço cultural EKA Palace, que possui um belo terraço onde de vez em quando rolam umas festas.
Em 2017 Marvila recebeu a segunda edição do Festival de Arte Urbana Muro, que deixou como legado uma interessante coleção de grafites pelos muros do bairro.
A prefeitura de Lisboa parece ter acordado de vez para o potencial da região e está tentando repetir em Marvila a estratégia de renovação que deu tão certo no Parque das Nações. Duas novidades prometem sacudir a região em 2018. No norte, no Poço do Bispo, as obras estão a todo vapor na construção do Parque Ribeirinho do Oriente, que deve revitalizar a área. Junto com o parque diversos empreendimentos imobiliários estão em estágios diversos de elaboração.
Mas a principal movimentação está ao sul, no vizinho bairro do Beato. O Hub Creativo do Beato é a grande aposta do poder público de Lisboa para 2018. Com inauguração prevista no segundo semestre do ano, o Hub promete criar um ambiente atrativo para projetos criativos dos mais diversos setores, centrado em antigas instalações fabris do Exército Português. O pessoal da WebSummit, o enorme evento de tecnologia e empreendedorismo que adotou Lisboa como lar há alguns anos, está de mudança marcada pra lá, assim como a incubadora de empresas alemã Factory e o setor de pesquisa digital da Mercedes-Benz. Enquanto o espaço não é inaugurado oficialmente, vai receber, em março, o Lisboa Dance Festival, focado em música eletrônica.
*Foto do destaque – Wojtek Scibor (Creative Commons)
Paraense radicado em Lisboa. Engenheiro, cozinheiro e cervejeiro, sem ordem específica de preferência. Viajante de vocação.
Ver todos os postsO Parque das Nações não deu certo…
https://www.msn.com/pt-pt/video/rtp/parque-das-nações-a-zona-mais-polu%C3%ADda-de-lisboa/vi-AADlac7
Post muito legal, Pedro. Eu – assim como muitos brasileiros – acabei de me mudar para Lisboa e gostei muito de saber que existe esta região cheia de vida e coisas interessantes para fugir do trivial Baixa-Chiado-Bairro Alto etc. Obrigada pelas dicas!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.