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No Brasil de hoje em dia, que tem polêmicas dia sim outro também, a bola da vez é a tentativa de proibição pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, de uma HQ dos Vingadores porque essa traz um casal de jovens namorados. Fora o patente absurdo da tentativa de censura (“embasada” por uma visão de mundo que relaciona homossexualidade com pornografia e atentado ao pudor), a verdade é que, se o mundo dos quadrinhos, ou pelo menos dos quadrinhos de super-herói, ainda é em sua grande maioria masculino, branco e hétero, há um movimento claro, especialmente nos últimos anos, em diversificá-lo para abraçar toda a diversidade humana, e isso inclui a sexualidade.
Por parte da DC, provavelmente o personagem gay mais high-profile hoje em dia seja a Batwoman, Katherine Kane. Essa personagem clássico da Era de Prata, prima de Bruce Wayne, depois de sumida por décadas das revistas foi reinventada nos anos 2000 pelo quadrinista Greg Rucka como uma militar lésbica com um visual impactante, marcado pela roupa de couro negra e os longos cabelos vermelhos vivos. Nessa mesma época, Rucka também revelou um outro personagem de longa data do universo do homem-morcego, a policial Renee Montoya, como gay e envolvimento amoroso para Kane. A popularidade da Batwoman é tal que a personagem está ganhando um seriado próprio pela CW.
Ainda assim, vale notar que a DC vetou uma história em que a personagem se casaria, o que fez os artistas da revista na época deixarem o título em protesto.
Apolo e Meia-noite foram apresentados nos títulos Stormwatch e The Authority, do estúdio Wildstorm, mas com a incorporação desse pela DC passaram a conviver com Superman e companhia – o que não deixa de ser irônico, visto que eles foram inicialmente pensados como uma versão gay e mais violenta justamente de Superman e Batman. Foi deles o provável primeiro casamento gay numa revista de uma grande editora, em The Authority #29 (2002), com Meia-Noite trocando seu uniforme negro tradicional pelo branco de noiva.
Já pela Marvel, a sexualidade sempre foi mais presente nas histórias dos X-men. Os mutantes em geral foram encarados como uma metáfora para a homossexualidade: uma minoria que se “manifesta” durante a puberdade e que são perseguidos pelo público em geral – inclusive essa é a leitura de Bryan Singer, cineasta gay que comandou os dois primeiros filmes da franquia. Também é do universo dos X-men os dois personagens gays de maior destaque na editora: Estrela Polar foi durante muito tempo o único personagem homossexual assumido da Casa das Idéias, e seu casamento numa revista de 2012 ganhou bastante destaque a época.
Ainda no Universo-X, mais recentemente um dos mais antigos heróis da editora e membro original dos X-men, o Homem de Gelo (aquele mesmo que aparecia no desenho animado “Homem-aranha e seus amigos”) também saiu do armário.
Finalmente, chegamos ao caso do Hulkling e Wicanno, que acarretaram a polêmica no Rio. Os personagens são membros dos Jovens Vingadores, que reúne versões, bem, mais “jovens” dos consagrados heróis. Apesar de serem uma criação relativamente recente, ganharam tanta popularidade que já há rumores de que podem aparecer nos próximos filmes da Marvel (por sinal, Kevin Feige, o diretor do Marvel Studios, já declarou que os próximos filmes devem trazer mais diversidade ao seu universo cinematográfico, inclusive personagens gays).
Foquei apenas nos personagens de maior destaque das grandes editoras. Se formos estender o olhar para as casas menores, como Image, e especialmente pros quadrinhos independentes, o cenário é bem mais diverso – o título Saga, por exemplo, tem, entre outros personagens, um casal de jornalistas gays e uma transexual, e chegou a ter uma de suas edições banida das plataformas iOS por conta de uma breve cena de sexo gay.
Paraense radicado em Lisboa. Engenheiro, cozinheiro e cervejeiro, sem ordem específica de preferência. Viajante de vocação.
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