Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Na Javali a diversão sempre foi muito bem-vinda. A festa, comandada por Emmanuel Vilar, agita os fins de semana paulistanos há 7 anos com uma pista sempre fervida. Isso porque a premissa da Javali sempre foi ser como uma festa em casa entre amigos, nela não tem lugar para cara feia. Os excessos que eu mencionei acima são cometidos sem medo, no jeito de vestir, de dançar, ou de cantar junto com os braços para cima.
Esse ano de 2019 trouxe uma novidade: Smirnoff Tônica como o drink oficial da festa. Lançado este ano, Smirnoff mostra que é possível tomar um drink sem frescura – só vodka, tônica, limão espremido e o chá de hortelã – e foi o match perfeito com a vibe da Javali e as edições da festa neste ano que aconteceram nas tardes de sábado, caindo bem com um drink leve e refrescante para acompanhar a galera.
A próxima edição da Javali, que acontece no dia 8 de junho, celebra esse retorno de Saturno com uma festança daquelas. Os DJs residentes Julio Deluxe e Giampietro Zanon recebem os convidados Formiga, Daniel Martins e o back-2-back de Johnny Luxo & Leiloca Pantoja. Como sempre, esse aniversário vai ter muitos hits no som, muito brilho na pista, e muita jogação por todo lado.
Aproveitamos essa comemoração gostosa para conversar com o Manu, e ouvir dele sobre toda a história, os causos, e também para saber quais são os planos para o futuro do ‘Grande Java’. Se joga comigo!
A Javali está completando 7 anos. Foi uma das primeiras festas fixas itinerantes de São Paulo, em uma época em que os clubes ainda reinavam. Como surgiu a ideia da festa?
Eu acho que tudo surgiu de uma questão bem pessoal e bem simples. Eu queria ir a uma festa que estivesse fora do roteiro tradicional de baladas, dos botecos e clubes da Rua Augusta e região, enfim, queria fugir da mesmice, da rotina da noite, digamos assim.
Sentia falta de ir a um lugar menos engessado, que fosse mais acolhedor, onde eu pudesse encontrar amigos em um lugar que trouxesse um clima de festa em casa de galera. Um lugar sem regras, onde pudéssemos nos preocupar apenas em dançar, beber, ouvir música boa e se divertir, de verdade, sem carão (como dizíamos na época). O slogan da festa – Excessos São Bem-Vindos! – vem desta ideia. Um convite pra se jogar sem se preocupar em fazer carão.
Depois de 7 anos eu posso te dizer que foi um acerto, pois a brincadeira começou entre amigos, e cresceu bastante, sem nunca perder a essência. De lá pra cá eu já vi muita gente se divertindo como nunca na Javali. Já vi muita gente moderna, descolada, etc, indo até o chão com um pagodão dos anos 90. E isso me deixa muito feliz!
O fato de ser itinerante faz a Javali rodar a cidade, e acontecer nos lugar mais diferentes. Hoje quase todas as festas funcionam assim. Qual é o lado bom e o lado ruim de ser itinerante, tanto para a festa quanto para o público e para a cidade?
Já vivemos os dois lados, o de ser itinerante e o da “residência fixa”. De 2012 até 2016 a Javali acontecia na Lega Itálica, uma mistura maravilhosa de casarão com teatro – ai que saudade! – que fica na Liberdade. Saímos de lá porque a pressão dos vizinhos por causa do barulho em cima do local aumentou (havia várias festas por lá), e acabou sendo fechado. De lá pra cá estamos descobrindo e experimentando locais diferentes na cidade, o que tem sido bem desafiador.
O bacana de estar num mesmo local é que este passa a fazer parte do DNA da festa, e o público cria intimidade com ele. Você chega na festa e já sabe exatamente onde compra bebida, onde fica o banheiro, o melhor lugar pra ficar na pista, onde encontrar os seus amigos na pista, o melhor lugar pra paquerar e por aí vai. Começa a virar aquela coisa do clima de casa de galera que eu falei. Tem o aspecto de tirar a novidade, de cair na mesmice, mas que pode ser sempre substituído pela aquela sensação de “aqui é o meu lugar, eu pertenço a isto aqui”.
Por outro lado, ser itinerante é apostar na surpresa, na inovação, no “vamos viver uma experiência nova”. Numa cidade como São Paulo é desafiador, e por vezes, parece uma gincana, pois encontrar locação em São Paulo não é tarefa fácil. Você tem que pensar na adequação do teu público ao espaço (será que o público vai gostar?), na logística de levar este público até lá, ter acesso a transporte público perto, documentação, etc. Sem contar que lugares inusitados são sempre sem estrutura básica, você tem que montar TUDO, do fio que vai ligar o som e iluminação, passando por banheiro químico, alimentação, cenografia, etc. Isso encarece muito a produção. O mais desafiador é fazer este local se transformar na Javali e oferecer a mesma experiência de sempre, mas de uma forma diferente. Cada festa é uma festa, e pro nosso caminho tem sido demais.
Montação, fervo e música pop sempre foram um território bem explorado pelo público LGBT, mas a Javali conseguiu quebrar esse paradigma e juntou um público mais eclético. Qual foi o trunfo para conseguir isso?
Primeiro de tudo, eu acho que a Javali não foi programada pra ser uma festa X ou Y, ela não nasceu de um conceito, ela nunca foi um produto. Ela nasceu de um desejo legitimo de se jogar e de se divertir com amigos. A Javali é uma festa que tem alma, tem vida, tem verdade, e a isso atribuo o sucesso dessa empreitada, no nosso grande trunfo.
Aliado a isso, temos o aspecto lúdico da festa, que traz chuva de bexigas (17 mil) na hora mais especial da balada, chuva de pétala de rosas, chuva de papel picado, entrega de flores, infláveis que caem junto com as bexigas, entrega de balões que piscam em cores diferentes, e por aí vai. As pessoas curtem, pois tira elas da realidade, faz com que elas se soltem e entrem na brincadeira.
Acho que nossos sets resgatam nas pessoas uma memória afetiva, que fazem elas se emocionarem de verdade. Uma hora você está ouvindo Madonna ou Arcade Fire e do nada toca Roberto Carlos, ou Richie com “Menina Veneno”, ou “Total Eclipse of the Heart”, da Bonnie Tyler, enfim, você quer cantar aquilo em alto e bom som, e de preferência com um amigo do lado, na mesma sintonia. Somos uma festa lúdica, que toca hits e clássicos de todos os tempos. Não tem como uma pessoa não ser tocada pelo menos uma vez durante 8 horas de festa.
Por fim, aquela velha história do boca a boca foi trazendo cada vez mais pessoas para a Javali, dos mais diversos. Em 103 edições (95 em SP e 8 no RJ) nós alcançamos um público total de mais de 155 mil pessoas.
A produção da festa, com todos esses estímulos (bexigas, papel picado, flores…) é uma das coisas mais marcantes da Javali, e provavelmente é o que dá mais trabalho. Como você faz para estruturar tudo isso a cada nova edição?
Todos estes elementos – que hoje em dia são conhecidos como “marcas registradas” da festa – trazem a ludicidade para a pista de dança, tirando as pessoas da realidade e levando para a realidade da Javali, fazendo com que elas se percam, se joguem, abracem a diversão do jeito que a gente gosta, experimentando, de fato, a experiência que a Javali oferece.
Produzir tudo isso é uma delícia, ao mesmo tempo que é muito caro. Como não podemos (e jamais pensaríamos) tirar estes elementos, uma coisa bacana que acontece para nos ajudar a estruturar tudo isso é a relação com marcas – por meio de patrocínio e apoio – que tem sinergia com a Java, e que nos ajuda a colocar estas coisas de pé. Neste ponto a nossa relação com a Smirnoff, por exemplo, tem sido muito bacana, pois eles entenderam o nosso projeto, nosso sonho e nos ajudam a seguir em frente.
Essas marcas que apoiam, você seleciona as marcas que conversam com o perfil da festa? O que você acha que essas marcas têm em comum com a Javali?
Com a Smirnoff, retomando o exemplo de antes, a conversa fluiu desde o começo. Eles apoiam todas as nossas bandeiras e patrocinam outras festas que, do mesmo espectro da Java, também carregam bandeiras, da diversidade, individualidade, etc.
Então, no fim virou uma relação em que os três lados saem ganhando: nós, a Smirnoff, e o próprio público. Rolou uma química superbacana com o lançamento deles de Smirnoff Tônica, que é um drink leve e refrescante, combinando com as mudanças recentes na Java, que agora começa à tarde, ainda com sol, em espaços mais abertos. Tanto eles como nós estamos explorando o novo, seja em lugares ou em sabores, tudo embalado em experiências lúdicas e autênticas.
A festa ficou pausada por alguns meses. Por que? Você acha que na volta ela mudou de alguma forma?
Depois das Olimpíadas, a crise econômica nos pegou de jeito. Havíamos acabado de sair do casarão da Liberdade e lidar com os valores de aluguéis em São Paulo é bem complicado. Uma festa como a Javali, com toda sua estrutura, dá muito trabalho para produzir e o valor de produção é muito alto. Eu precisei repensar em várias coisas, tanto do ponto de vista profissional como pessoal, decidi morar um tempo fora do Brasil, e no começo de 2017 fui morar na Austrália.
A Javali voltou no fim de 2017, e posso dizer que ela mudou muito. Primeiro, eu diminuí drasticamente a quantidade de edições por ano. Antigamente, chegávamos a fazer 17, a cada 3 semanas. Em 2018 fizemos 8 edições, e este ano teremos somente 5. Hoje em dia eu invisto cada vez mais em cenografia (que é o que eu mais curto fazer), o que garante uma experiência nova a cada edição, viramos uma festa itinerante, tenho apostado em edições ao ar livre, mudamos da sexta para o sábado, e mudamos o horário. Hoje em dia a festa começa por volta das 16h e vai até as 3 da manhã. Bom pra ir, se jogar e voltar bonitinho pra casa, dormir, descansar, e não ficar destruído no dia seguinte.
Hoje a cena noturna de São Paulo está dominada pela música eletrônica, numa pegada mais próxima de Berlim. Uma festa como a Javali funciona como um tipo de resistência? Você acha que ainda tem espaço para festas onde todo mundo canta junto, com os bracinhos para cima?
Eu não acho que a cidade esteja dominada pela cena eletrônica, eu acho que é uma das cenas fortes que existem. Como ela temos a sertaneja, samba, forró universitário, funk, black, hip hop e por aí vai. Eu acho que sempre teremos espaço pra todo mundo cantar junto e dublar na pista. Não considero a Javali como uma resistência à cena, às festas de música eletrônica. Eu acho que ela resiste muito dentro de uma cena que ela faz parte. Nestes 7 anos muitas festas parecidas com a Javali surgiram e desapareceram, e isso que é intrigante.
Eu acho que São Paulo é uma cidade onde, de fato, tem tudo e pra todo mundo. Tem espaço pra todo mundo. E quem tem alma e verdade ocupa cada vez mais espaço.
Qual foi a edição mais memorável para você? Tem algum momento inesquecível?
Ah! São 103 edições, né. Tem muitos momentos incríveis. Acho que a nossa 1ª edição ao ar livre, em abril de 2018, foi uma das mais memoráveis, pois foi a nossa primeira vez à tarde e com um investimento pesado em cenografia. Foi muito louco ver como aquilo deu resultado. Dava pra ver na cara das pessoas a felicidade de estar ali, vivendo aquele momento.
Sobre os momentos inesquecíveis, tem a vez em que tocou “Time of My Life”, do filme Dirty Dancing, e na hora do refrão improvisaram a coreografia do filme e levantaram uma menina, como se ela fosse a personagem de Jennifer Grey e foram passando ela pela pista toda. Foi demais!
Quais são os planos para o futuro da Javali? A ideia é seguir fazendo o você sabe fazer de melhor, ou acha que é preciso evoluir?
A ideia é fazer menos edições por ano, porém maiores. Este ano serão 5, quem sabe no ano que vem não sejam 3. Trazer diferenciais, como atrações bacanas, que melhorem a experiência da festa ainda mais. Recebemos proposta para levar a festa pra 3 capitais diferentes, o que pode ser bem interessante, se for viável financeiramente. Acho que sempre dá pra evoluir.
Pode dar algum spoiler da festa de aniversário, no próximo dia 08/06?
Vamos fazer um festão com quase 12 horas de duração no galpão do Clube do CMTC. A festa em si será na parte interna do galpão (estaremos no inverno), mas teremos uma grande área ao ar livre também. No som teremos DJ Formiga com brasilidades, Johnny Luxo & Leiloca Pantoja com um set delícia de disco e clássicos, Daniel Martins, Julio Deluxe e Giampietro Zanon com vários hits, de todos os tempos, pra todo mundo poder se esgoelar de tanto cantar e dançar até não poder mais. No palco, a nossa musa Renata Bastos e mais alguma surpresinha que daí eu já não posso falar. Vai ser festão, como sempre!
Festa Javali – 7 anos
Sábado, 08.06, das 17h às 3h.
CMTC – Av. Cruzeiro do Sul, 808 – Armênia
Ingressos: de $50 a $60. Compra antecipada aqui
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*Foto do destaque: Leandro Godoi
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.