Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
No SXSW todo dia é dia de Rock, bebê
Se você acha que o rock morreu ou perdeu força desde que o Arctic Monkeys ficou chato, te aconselho a já se programar para ir no SXSW ano que vem. O festival é de longe o melhor para quem curte rock em todas as suas vertentes. Mas não pense que vai assistir headliners que tocam nos grandes festivais pasteurizados e tirar selfie com roda gigante no fundo. O SXSW é para quem curte o vigor e a urgência que só as bandas novas têm. Acrescente a isso lugares pequenos e escuros e uma plateia alucinada. Está pronta a receita para os show mais intensos e memoráveis da sua vida.
Como todos os anos, eu faço a lição da casa e tento escutar tudo de rock que está na playlist oficial, mas mesmo assim você chega lá e bandas que não estavam na sua programação conseguem, da noite pro dia, entrar na sua lista das melhores do ano. Essa é outra característica do festival. Como as bandas tocam de 3, 4, 5 vezes durante os 5 dias do evento, é comum alguém falar de uma banda nova que você não tinha ouvido. Então você corre pra escutar, encaixa na agenda e BOOM entra no seu TOP 5.
Bom, mas chega de devaneios a vamos a lista das 5 bandas que mais me fizeram feliz esse ano.
Se teve uma banda que me surpreendeu nessa edição foi a desses caras de Dublin, a Fontaines D.C. Assisti por indicação de amigos e não porque estava na minha lista. É impressionante ver o vocalista Grian Chatten no palco. Sua voz rouca não combina com a cara de bom moço e nem com os seus 23 anos. Sua presença de palco, com tiques e olhar perdido lembram um jovem Ian Curtis. As músicas têm o tom sombrio dos dias atuais, personalidade, peso e nos primeiros acordes fazem a plateia pular e cantar. Nada mal para uma banda que nem álbum lançado tem (lançam o primeiro agora em abril) Pesquisando um pouco mais após showo , deu pra ver que eles estão fazendo barulho nos festivais europeus e já estão sendo considerados como uma das bandas que representam nova cena do Reino Unido, que inclui nomes como Shame e IDLEs (que tocaram no SXSW 2018).
Em uma de suas músicas, Big, Chatten repete “My childhood was small, but I’m gonna be big”. Eu aposto as minhas fichas nisso.
O Boy Azooga foi outra surpresa que quase deixei passar. Peguei a última apresentação deles em “casa” na Music British Embassy que sempre tem um dos melhores palcos com som e luz da melhor qualidade. Com um álbum lançado o ano passado, a banda de Cardiff é um caleidoscópio sonoro difícil de definir pois misturam, punk, rock, psicodelia, synth pop e tudo faz sentido. Ao vivo as músicas ganham várias camadas e terminam de um jeito incrível, coisa de banda que toca junto há mais tempo do que os garotos tem de idade. O vocalista Davey Newington vem de uma família de músicos o que lhe garantiu um background cheio de boas referências, técnica e sofisticação musical impressionantes.
Esse ano comecei e terminei com shows do A Giant Dog, local heroes e sempre presente no SXSW. É a típica banda que você nunca se cansa de ver. Seu som bebe dos anos 70 ao mesmo tempo que traz uma energia punk alinhada com os dias atuais. Já vi vários shows deles ao longo dos anos e é bacana poder acompanhar a evolução da banda, tanto nos álbuns quanto nos palcos. Dos 4 álbuns lançados, o último, Toy é o mais bem produzido e contou com a ajuda do Stuart Sikes, que já trabalhou com White Stripes e Cat Power. No palco, o destaque vai pra vocalista Sabrina Ellis. Sua performance teatral aliada a figurinos marcantes e uma energia inesgotável dão ao show uma personalidade única, além de um clima de festa punk onde alguma hora alguém vai voar por cima da sua cabeça.
Tudo no Death By Unga Bunga é inusitado. O nome, a sua origem norueguesa, o visual, a aparente raiva desengonçada do vocalista Sebastian Ulstad e os clips bizarros. Mas tudo isso faz parte da mítica da banda que tem músicas incríveis que conquistam na primeira audição misturando garage, surf rock, psicodelia e power pop. O show é intenso e divertido, com Sebastian sempre descendo do palco e cantando junto com o público acompanhado de uma coleção de riffs tocados brilhantemente pelo Stian Gulbrandsen. Se você ainda não conhece a banda, corre pro Spotify pois é a melhor coisa que a Noruega fez depois de A-ha, e isso é um elogio ;)
Ótimas músicas, performance vibrante, carisma e banda se divertindo tanto quanto o público, Gurr consegue gabaritar em tudo que é preciso pra entregar um show de lavar a alma. A banda de Berlim, que tem a frente o duo formado por Laura Lee e Andreya Casablanca, já haviam tocado na edição de 2017, mas com uma performance bem mais contida. De lá pra cá lançaram o segundo álbum “She Says” e estão bem mais à vontade no palco. Com uma mistura perfeita entre punk e pop que muitas vezes lembra Le Tigre, Gurr representa o Girl Power em sua melhor forma.
Se você gostou da seleção, então tenho certeza que você vai curtir a playlist completa de rock que fiz pra edição desse ano. Se quiser saber quais foram os meus show preferidos do ano passado (mesmo com um spoiler acima) é só clicar aqui. A playlist oficial do SXSW 2019 pode ser conferida aqui.
*Foto capa: A Giant Dog
Carlos Borges pra nós e pro mundo é o Carlão, um apaixonado por músicas que façam ele tocar sua air guitar no último volume. Planner em tempo integral e latergram convicto, é do tipo que faz roteiro de tudo nas suas viagens, adora fotografar lugares abandonados e prefere curtir os momentos do que posta-los.
Ver todos os postsO pessoal do BASTTARDOS estão mandando bem pracaramba, vejam o novo lançamento.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.