Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Esta última edição do Sónar Barcelona celebrou seus 25 anos à altura. Festa não faltou e os números mostram isso. Para começo de conversa, a 25ª edição bateu o recorde de todas as edições reunindo 126 mil festeiros de 119 países! O Brasil estava bem representado. Ouvia-se português em todos os cantos do festival.
A temperatura este ano pegou leve e o clima ameno fez com que o Sónar fosse agradável a qualquer hora do dia e da noite. Foram 150 apresentações distribuídas em 10 palcos, 6 durante o dia e 4 à noite. 46% da audiência era internacional.
Foi uma intensa maratona de três dias das 13 às 7 horas da manhã. Como bem disse minha amiga Claudia Assef, o festival não foi para os fracos. Quem deixou o estilo de lado e se entregou a um bom tênis de corrida, se deu bem. Eu fui uma delas.
O Sónar+D cresceu e apresentou uma programação intensa competindo com a musical para quem tinha acesso as duas. Foram 6 mil profissionais credenciados de 61 países diferentes, 10% a mais que em 2017. Foram 27 conferências com participação total de 4 mil atendentes e 21 workshops completamente lotados. Temas quentes como inteligência artificial, blockchain, realidade virtual e aumentada, a nova internet e big data estiveram todos presentes.
A ideia de convidar selos, artistas e plataformas para serem curadores dos palcos trouxe uma diversidade pouco vista em festivais de música. O palco Village, o principal e o único a céu aberto do Sónar Dia, recebeu na sexta-feira uma extensa leva de artistas de todos os cantos da África sob a curadoria do Diplo. Foi, provavelmente, o festival do gênero com a maior participação de artistas negros que já rolou no mundo. As mulheres também marcaram presença e não foi pequena. A diversidade tão presente no line-up foi algo que não passou batido.
O line-up agradou a todos os ouvidos, do mais exigente ao mais pop. Destaques não faltaram, assim como não faltou dor no coração na hora do desapego. E ele foi constante! Assistir Ólafur Arnalds sentado no conforto do SonarComplex, dançar o animado set dos suecos do Studio Barhuns A/V ou estremecer com a apresentação hipnótica do Alva Noto? Escolhas difíceis e essa era apenas uma delas. Eu nunca me dividi tanto entre palcos num festival como neste último Sónar. Foi meu festival de meia-hora. Meia-hora aqui, corre um pouco, meia-hora ali, corre mais um pouco e meia-hora lá. Depois pega o ônibus, corre para o Sónar Noite, porque Gorillaz e LCD Soundsystem começavam seus shows às 22 horas, enquanto no Sónar Dia tínhamos o imperdível sul-africano Black Coffee ou o 2Many DJs dilacerando meu coração por ter que deixá-los para trás.
Acompanhar o grupo de amigos, que não era pequeno, não foi uma tarefa fácil, mas tornou o festival ainda mais especial e animado. Encontrinho rápido para um almoço, uma dançada juntinhos, uma deitada na grama, um abraço emocionado durante o pôr-do-sol ou um momento juntos para curtir uma experiência em VR, que teve uma presença bem concorrida com uma amostra de cinema virtual. Mais um ponto pro Sónar!
Para escapar dos momentos mais ensolarados e se jogar feliz numa pista disco, o Despacio foi a grande pedida. Impossível era querer sair de lá! Som bom, set sempre lindo do trio James Murphy, Stephen e Dave (2Many DJs), que se revezavam nas pickups das 15h30 às 21h30 todos os dias deixando a pista empacotada de gente o tempo todo. Foi lá que tive um dos momentos mais mágico de todo o festival. E eu tinha apenas acabado de chegar. James Murphy tocava “Like an Eagle”, de Dennis Parker (obrigada Milos e Paulo Ming pela descoberta) e o público estava extasiado (eu e os amigos ficamos também). No refrão da música, o globo acendia cobrindo a pista de luz. Todos gritavam e jogavam as mãos para o alto. Coisa mais linda e emocionante de ver!
Filas? Também foi o Sónar da fila. Nem tudo é perfeito nessa vida. A comoção geral foi com a espanhola Rosalía, aparentemente a Beyoncé do país no momento. Ela encheu o SonarHall e deixou o dobro de fãs para fora, que não arredaram o pé na esperança de vê-la ao vivo. Até mesmo o palco mais cabeçudo, o SonarComplex, tinha fila constantemente.
Meus destaques
Sexta-feira foi o dia mais disputado do festival. O show do Gorillaz foi o mais cheio que pegamos. Mas quem resiste mesmo ao Dalman Albarn? Ninguém aparentemente! Que show! Que entrada mais pé direito no Sónar Noite foi essa!? Dalman Albarn mostrou toda a sua genialidade durante 1h30 enquanto soltava hits e músicas inéditas. Este dia foi o mais difícil de transitar entre um palco e outro, pegar bebida, ir ao banheiro e até mesmo acessar a área vip. O jeito foi encontrar um palco para chamar de seu e de lá não sair mais até desligarem o som.
Posso não ser a mais fã do LCD Soundsystem, mas o show é sempre lindo de morrer, o James Murphy está sempre empolgado, a luz sempre bonita, a banda sempre animada e nós do outro lado, sempre feliz. Esse show não foi exceção e, para a minha felicidade, não estava lotado.
Thom Yorke fez um show bem eletrônico, (quase) animado (já viram ele animado? eu vi!) e visualmente lindo. Deu até para dançar um pouco, além de ter sido menos disputado do que imaginei que seria. Deu para chegar na beira do palco e, finalmente, ver meu ídolo de perto quase sorrindo.
Com visuais lindos e espaciais, o japonês Cornelius colocou nossos pés nos chão e nos embalou na calmaria que permeia quase todo seu novo álbum, o Mellow Waves. O show traz um recorte de vários gêneros passando pelo funk, pop, jazz e até uma discreta pitada de J-pop.
A dupla irlandesa Bicep fez um dos shows que eu mais gostei de todo o festival.Ele aconteceu no SonarHall, o palco céu aberto da noite. Foi crescente na medida certa e dançante. Tocar Glue, Opal e Aura na sequência já valeu pelo live todo.
Outra dupla de música eletrônica que foi uma das melhores surpresas do festival, foi o Maribou State acompanhado da cantora Holly Walker, que apresentaram o um show dançante ultrapassando a expectativa da maioria. Tokimonsta, Kampire e Yaeji também entraram para a lista dos favoritos. A minha tristeza foi perder Motor City Drum Ensemble & Jeremy Underground, que fechou o festival no sábado à noite, mas neste momento eu fraquejei.
O Sónar já anunciou as datas de 2019 em Barcelona que, excepcionalmente, será em julho nos dias 18, 19 e 20. Mas quem não quer esperar, pode se aventurar em uma das edições regionais: Buenos Aires (16.11.2018), Bogotá (17.11.2018), Istambul (8 e 9.03.2019), Hong Kong (13.04.2049) e Reykjavik (25 a 27.04.2019).
*Capa: foto do Sónar com 2Many DJs encerrando o dia / divulgação festival.
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.