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Laoshan é uma montanha com 18 mil quilômetros de extensão, ao longo da costa de Qingdao (onde moro), beirando o Mar Amarelo e é um dos maiores berços do taoismo na China. É lar de alguns templos taoistas, tendo o pico mais alto atingindo 1.133m acima do nível do mar, com cachoeiras e paisagens arrasantes. Minha primeira ida a Laoshan foi em dezembro de 2017 em pleno inverno, e desta segunda vez fiz o mesmo trajeto, agora no outono. São duas opções de trajeto para quem visita o parque. Uma beirando a costa, a outra subindo até o ponto mais alto por teleférico. Recomendo ir na meia estação, quando as temperaturas não são tão elevadas e nem tão baixas. Fica mais confortável subir as escadas entre as montanhas para os templos. Prepare a disposição, pois são muitas!
No fim de outubro, mais especificamente no dia das eleições no Brasil, 28 de outubro, foi meu aniversário e também um dia que resolvi tirar folga para “fugir” das tretas de internet e fadigas eventuais pelas últimas notícias do meu país, e me reconectar com um dos lugares que mais amei visitar aqui na China. Literalmente, eu corri para as montanhas e fui até Laoshan em busca de paz e paisagens lindas.
O que mais me encanta nesse lugar é o silêncio absoluto em alguns pontos mais próximos aos templos. Quanto mais você entra em seus labirintos, ou sobe suas escadas, mais paz encontra. Os templos e estátuas são um caso à parte. Há algo de misterioso neste lugar que me encanta. Além da importância histórica por Laoshan ser um dos locais onde se difundiu o taoismo chinês, há também um misticismo envolvendo Laoshan que me fascina. Durante a Dinastia Qing, acreditava-se que a montanha era lar de espíritos sobrenaturais e é sabido que muitos imperadores viajavam até lá em busca de vida eterna e também em busca da medicina das ervas e plantas que lá encontravam. Laoshan serviu de inspiração para diversos poemas e ensaios e há registros históricos de passagens de filósofos e imperadores por ali. Dentre os mais conhecidos escritores chineses, Pu Songling escreveu muito sobre Laoshan e também morou por ali durante a Dinastia Qing, no século XVII.
A água de Laoshan é famosa, sendo a água mineral mais encontrada nos melhores hotéis em Qingdao e da região. Dela, começou a ser produzida ali a cerveja Tsingtao Beer ( segunda maior cervejaria da China), mundialmente conhecida e que foi criada em 1903 pelos alemães que haviam ocupado a cidade. Com a exportação da cerveja para o mundo, a água de Laoshan (que encontra períodos de seca) é usada atualmente somente para a produção local. A estação das águas é entre julho e setembro. Fora isso, há um clima mais seco. Previna-se levando água se for caminhar por trilhas.
Outra curiosidade é que o chá verde, que é plantado nas encostas e nas casinhas que se vêem da janela dos ônibus para levar aos pontos turísticos, é um dos mais elogiados e famosos da China. Se tiver um tempinho, procure uma venda local e compre um pouco deste chá. A região é toda habitada por pequenos fazendeiros e pequenos produtores de chá. Por lá há também criações de frango orgânico, em que os animais são criados livres e sem hormônios e são facilmente encontrados em restaurantes da região. A cultura sustentável é clara nesse lugar e pela segunda vez, fico encantada em poder visitar Laoshan, uma montanha realmente mágica, que fica muito perto de onde moro e tão acessível a quem quiser visitar.
Aconselho se informar com os motoristas de ônibus do parque sobre os pontos turísticos antes de ir, pois os pontos podem ser um tanto difíceis de achar, a maioria está em mandarim. Se puder, use tradutor no celular para as placas com os mapas. No mais, leve uma mochila não muito pesada, com água e lanche. Se for no inverno, agasalhe-se e coloque sapatos confortáveis para caminhadas. Não há restrições em áreas abertas (não em templos) para o uso de drones. A dica é usá-lo na parada de Kuan Yin, que tem bastante espaço aberto.
Continuo achando Laoshan incrível, mas há de se ter paciência com o fato de muita coisa não ser em inglês. Acho que, na verdade, quase nada nos mapas é. A dica é saber que se você for pelo lado da costa, há quatro principais paradas: tem a parada da entrada ao parque, com vista para o mar, mas é mais para umas fotos e não tem muito o que ver; depois tem a do Templo Taiqing que é obrigatória pois é o templo mais antigo ali; tem a parada do teleférico, que leva a um local que você ainda sobe bastante para chegar a um templo bem menor e mais simples, mas com uma vista incrível; e há também um local que leva a uma estátua de Kuan Yin (que infelizmente da segunda vez que fomos, não estava lá) e um último ponto para outro teleférico que leva até a caverna (não chegamos a tempo para pegar o teleférico) onde se vê uma vista linda da montanha, atravessando por dentro da caverna.
Para hospedagem, tanto faz ficar em Qingdao ou no distrito de Laoshan. Há opções de hospedagem mais perto das montanhas também. Ficamos desta vez em um hotel muito simpático no distrito de Laoshan, em uma rede conhecida chamada Orange. O Orange Select fica do outro lado da rua de um simpático shopping (Lion Mall) que tem um dos melhores restaurantes de comida japonesa que comi por aqui na China, o Joy Sushi. O hotel é moderninho e o preço acessível. A única coisa que ainda não supero aqui é o cheiro de cigarro que, por mais que os hotéis proíbam de fumar nos quartos, os chineses ainda não abraçaram a causa, então pela ventilação do quarto entrava um desagradável odor de cigarro. Como ficamos apenas uma noite, relevamos a dor de cabeça de mudar de quarto, mas há que se prestar atenção nisso quando for se hospedar na China. Muitas vezes não tem muito jeito, então o jeito é se conformar. Não é necessário se hospedar por mais que dois dias para visitar a montanha. Se a ideia é conhecer Qingdao, sugiro bookar mais dias, acredito que quatro é ideal.
Laoshan é um distrito de Qingdao e para chegar até o Parque de Laoshan e visitar a montanha, há diversos ônibus e uma linha de metrô saindo de Qingdao até o distrito. O percurso é feito em pouco mais de uma hora. Você pode optar por ir de metrô até o distrito e pegar um Didi (o Uber chinês) até o parque para a montanha. Não sai muito caro e é mais confortável. Programe-se e leve dinheiro trocado para os teleféricos (em torno de 80 rmb) e templos (entre 6 rmb e 30 rmb) e para pagar os ônibus para circular por dentro da cidade na montanha, (que custam 1 rmb). A entrada para o parque pode ser paga via We Chat, ou dinheiro. Em baixa temporada, o bilhete custa 130 rmb e tem direito a dois dias de passeio. Em um dia você consegue fazer um dos lados da montanha tranquilamente. Chegue cedo para aproveitar o dia, pois os ônibus dentro do parque param de circular às 17h.
Espero que se estiverem pela China, tenham a oportunidade de conhecer Qingdao e por consequência Laoshan. Eu acredito ser um dos lugares imperdíveis na China, por sua história e importância na disseminação do taoismo (que se perde aos poucos pela modernização), pelo contato com a natureza, e por suas paisagens lindas! Aproveite!
Até o próximo post! 再见
*Foto Destaque: Maria Claudia Pompeo
Maria Claudia Pompeo é carioca, consultora de moda para marcas e pessoas e produz conteúdo de moda e comportamento online há 15 anos. Coleciona revistas de moda e sofre quando tem que se desfazer de algumas, por pura falta de espaço. Viciada em internet desde os primórdios, teve inúmeros blogs e colaborou com algumas revistas online. Atualmente escreve sobre moda e tendências na sua página e faz a curadoria de suas pesquisas de imagem e comportamento no Instagram - @mcpompeo. Site: facebook.com/mcpompeoconsultoria
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.