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Consumo na China: tecnologia, entretenimento e desperdício

Data

23 de July, 2018

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Nós somos completamente ignorantes quando o assunto é o comportamento de consumo chinês. Antes de vir para cá, eu não tinha ideia do que seria essa experiência. Muita gente (ainda) acha que a China deve ser algum tipo de grande SAARA (local do centro do Rio, onde lojas vendem bugigangas chinesas aos montes) ou 25 de março, ou que tudo aqui é aquela confusão que vemos nos filmes, comida de rua: muita fumaça, gente comendo carne de cachorro e espetinhos de escorpião, esses clichês que criamos sobre os lugares. Claro, algumas dessas coisas ainda existem, são bem polêmicas até. Mas há muito mais do que isso. A China é uma potência quando o assunto é tecnologia e comportamento de consumo.

Para começo de conversa, aqui na China, mal uso dinheiro vivo. A única coisa que ainda exige dinheiro (mas mesmo assim, existe a opção de cartão de transporte, acredito que inclusive com possibilidade de baixar o código QR do cartão para o celular), é ônibus e metrô. Mas até isso está atualizando. Já podemos encontrar alguns aceitando a leitura do código pelo celular.

Um leitor de código QR do We Chat no caixa da loja, por onde você paga a sua compra.

Para compras, seja em restaurantes, mercados, lojas, uso sempre o celular pelo aplicativo We Chat, que compra até passagens de avião e reserva hotéis! Além de ser uma “carteira”, ele também é chat, recarrega créditos no celular, compartilha links para sites, traz promoções de algumas marcas na palma das suas mãos (você compra em algum lugar e pode ter acesso às promoções do estabelecimento diretamente por ele, é tudo automático), te atualiza sobre eventos na sua região, e mil outras funcionalidades. Para quem vem ficar um tempo aqui a passeio (o visto de turista é válido por 30 dias), recomendo muitíssimo baixar o app. O Whatsapp fica praticamente obsoleto perto dele. Lembrando que para acessar Whatsapp, Facebook, Twitter, Instagram, Netflix, a gente precisa assinar um VPN por aqui. A internet na China é bloqueada às redes sociais do ocidente.

Para suas compras online, existe o TaoBao, que é uma Amazon ou E-bay daqui e é a melhor opção. Pelo site, você compra até feijão! Sim, compra-se de tudo, de produtos de beleza a roupas, até material de construção, comida, tudo mesmo. É um hipermercado na palma da mão. Tudo isso chega rápido (depende da entrega, mas geralmente chega) na porta da sua casa. O entregador do kuaidi (entrega expressa), inclusive, liga para o seu celular para avisar que chegou. Ou seja, nem precisa sair de casa para comprar nada, se não quiser! Surreal, né? Ok, ok, a gente já tem diversos serviços de entrega no Brasil, mas eu garanto que os chineses usufruem muito mais disso que a gente. Tem kuaidi (as caixas de entrega ficam no primeiro andar dos prédios) a dar com o pau aqui! Tem inclusive uns lockers especiais que adivinha? Você abre com o seu código QR e lá está, dentro de uma gavetinha, a sua entrega. Até na calçada do lado de fora dos condomínios você encontra os pacotes. Pensa que alguém leva? Não. Afinal, as leis aqui são bem rígidas e vivemos num grande Big Brother o tempo todo. Depois a gente acostuma e passa até a achar bom. A segurança aqui é muito grande mesmo.

Aqui em Qingdao, a quantidade de shoppings aumenta consideravelmente a cada ano. Já notei uma grande diferença desde que vim nas férias em dezembro, comparando com agora no meio do ano. Foram dois shoppings (City Media Plaza e Wanda Mall) prontos desde então. Não acho, porém, dentro de shoppings o movimento das lojas muito grande. Confesso que não entendo como sobrevivem, principalmente as lojas chinesas e marcas de luxo, que costumam estar vazias. Mas, de repente eu que não vi o total de vendas delas por mês, e estou aqui ignorante e supondo que não vendam…vai saber?

Ainda em dezembro de 2017, a primeira H&M de Huangdao (City Media Plaza) estava em fase de abertura.

As marcas como a H&M e Uniqlo, Zara, adidas, Nike, Converse, Gap, Vans e afins vivem cheias. Você encontra aqui todas as principais marcas internacionais. Não é difícil para nós ocidentais encontrar o que a gente gosta de usar, porque inclusive aqui tem os outlets dessas marcas. Aí é que mora o perigo! Huangdao tem um outlet chamado Rio Carnival (sim, é esse nome mesmo) e lá tem Adidas, Nike, New Balance, Levi’s, Lee, Gap, Sketchers, Converse…ou seja, difícil manter o equilíbrio. Sim, é MUITO mais barato que comprar em outlets do Brasil. Acredite, eu frequentava alguns como o Nova América, o Outlet de Caxias, no Rio, e os preços são bem mais em conta aqui na China.

Os tamanhos das roupas de marcas chinesas são infinitamente menores que os tamanhos ocidentais. Acredite nisso. Por isso, a melhor opção é procurar essas marcas para conseguir comprar alguma coisa, mesmo que você não seja um tamanho muito grande. A não ser que você vista manequim 36-40 (mulher) e use sapatos até o 37, sua busca por tamanhos será limitada mesmo às grifes internacionais.

A Miniso, que já tem lojas no Brasil em São Paulo e Rio de Janeiro, é uma marca com design japonês, produzida na China. É a famosa “não preciso disso, mas vou levar, é tão barato!” Coisinhas lindas e úteis para o dia a dia.

A experiência do mundo automatizado passa até pelas vending machines. Aquelas maquininhas que nós brasileiros ainda vemos muito timidamente em estações de metrô e outros locais. Aqui, você encontra sempre em estações de metrô, em shoppings, até dentro de algumas lojas. Nelas, você pode se surpreender inclusive com os artifícios utilizados para manter você lá dentro.

Cabines de karaokê são comuns. Cabem até duas pessoas e você pode compartilhar via We Chat a sua performance. (Foto: CFP)

Outro dia, passeando no Wanda Mall, entrei em uma dessas lojas. Por aqui, encontramos cabines de karaokê individuais. Sim, se estiver afim de cantar, é seu momento de ter cinco minutos de fama, nem que seja para si mesmo! Uma loja de roupas multimarcas feminina tinha três dessas dentro do ambiente de loja. Eles não estão de brincadeira, apesar de parecer! O consumo aqui é quase como uma experiência lúdica. Há máquinas que te entregam um suco de laranja espremido na hora. Tudo feito em menos de cinco minutos, por uma máquina-robô. Você pode pagar com seu celular, usando o código QR.

Achei ótima essa reportagem do South China Morning Post sobre isso. Mostra na prática como funciona a tecnologia do consumo atualmente na China:

Uma máquina dentro de um supermercado, lê o código QR. Essa foto é em Pequim, em 2014. (Foto: Visual China)

Assista aqui, uma máquina de suco de laranja em ação: https://www.instagram.com/tv/BlClSYiBe43/

O comportamento de consumo chinês está muito à frente do que o que experimentamos no Brasil, ou até, em alguns lugares da Europa e EUA. Eles são ousados, não têm medo de arriscar, portanto, não é difícil serem inovadores e te surpreenderem com o inusitado. Me divirto em uma ida ao mall, sempre!

Há controvérsias sobre tudo ser via celular, devido ao governo monitorar absolutamente tudo que o consumidor faz. Todos os passos, todas as compras, são registrados e o governo tem acesso a isso. Alguns chineses ainda preferem usar dinheiro vivo para suas compras, mas é cada dia mais raro isso acontecer. A tecnologia vence pela praticidade.

Grandes marcas internacionais dividem a calçada em Pequim. (Foto: Maria Claudia Pompeo – dezembro 2017)

Ainda tenho muito a absorver nessa minha temporada morando aqui. Sou ainda uma iniciante consumidora na China, mas o que posso observar é ipsis literis o que Angela Wang fala sobre isso neste Ted Talks sobre este assunto. A China avança a passos largos. Primeiro, pela questão da tecnologia móvel. Segundo, acredito que os investimentos em apps e experiência de compra seja um foco imenso do governo chinês. Eles querem o chinês consumindo aqui dentro, mas também, querem trazer novos consumidores mundiais para cá. Por exemplo, o reconhecimento facial aqui, já é uma realidade em diversos lugares.
Minha porta de casa, por exemplo, usa a biometria! Imaginem como isso acaba se refletindo no restante das coisas, como por exemplo, na experiência de compra? Não é por acaso (não mesmo), que esse país está engolindo economicamente as maiores potências mundiais (EUA e União Européia). É apenas o começo do que no meu ponto de vista, a China vai englobar mundialmente. O país pode até ser ainda bem fechado para algumas coisas (os impostos aqui para produtos importados de outros países ainda são consideráveis), mas não resistirá à globalização total. É inevitável que a abertura, mesmo que de forma gradual, aconteça. Acho que nos próximos 10 anos pelo menos, a China terá estendido inúmeras pontes comerciais. Aí o mercado de outros países provavelmente tentará recuperar o tempo perdido e se atualizar como ela. Será que teremos um mundo totalmente automatizado em todas as esferas e países em algumas décadas?

Outro questionamento que me vem sempre, com tantos produtos e tanta facilidade: e a sustentabilidade? A China tem gente demais, anda consumindo demais. Aqui, a consciência sustentável ainda não se disseminou como em outros países, e me incomoda muito ver que tudo é embalado em plásticos (acredite, até um limão individual, vem em uma embalagem plástica), todas as bebidas têm canudos (às vezes já enfiados no copo), e há bastante desperdício de comida (os chineses gostam de ostentar e a prosperidade é demonstrada à mesa, então pedem comida demais, bebida demais). Fora o tabagismo, que é um problema sério e visível. A maioria da população fuma até em ambientes fechados em alguns locais, como Huangdao, mas já é lei e não poderiam. Como algumas cidades não têm multa, e outras sim, eles respeitam quando a multa é aplicada. Acredito que as soluções para tudo isso tem que começar a aparecer agora, senão esse avanço todo pode correr o risco de virar contra o país. Ficando atenta desde que me mudei para cá, tentando fazer o meu, mas ainda assim, engatinhando nesse assunto.

Angela Wang (sócia do Boston Consulting Group na área de varejo), dá uma palestra sobre a experiência de consumo chinesa neste Ted Talk de dezembro passado. Se quiser se aprofundar nesse assunto, dá play neste vídeo.

*Foto destaque Rikke Filbært – Unsplash

Data

23 de July, 2018

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Maria Claudia Pompeo

Maria Claudia Pompeo é carioca, consultora de moda para marcas e pessoas e produz conteúdo de moda e comportamento online há 15 anos. Coleciona revistas de moda e sofre quando tem que se desfazer de algumas, por pura falta de espaço. Viciada em internet desde os primórdios, teve inúmeros blogs e colaborou com algumas revistas online. Atualmente escreve sobre moda e tendências na sua página e faz a curadoria de suas pesquisas de imagem e comportamento no Instagram - @mcpompeo. Site: facebook.com/mcpompeoconsultoria

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Comentários

  • Adorei! A Amazon tem uma inteligência artificial com voz de mulher, a Alexa. Aí na China eles usam IAs também?

    - Kamille
    • Aqui não tem IA no site do Taobao não…não naveguei ainda em outros sites pra saber se rola, mas vou ficar atenta. Rs

      - Maria Claudia Pompeo
  • Muito bom !!

    - Raul Gomes
    • Que bom que gostou, Raul! Acompanhe para ver mais curiosidades sobre a China e outros países vizinhos!

      - Maria Claudia

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