Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Os desafios do colapso dos recursos naturais do planeta não tem precedentes desde a origem do homem, e essa encruzilhada passa por um grande fator: a forma com que comemos. Como a comida molda nossa cultura? Como alimentar, de maneira sustentável e saudável, um número cada vez maior de pessoas?
Essas foram algumas perguntas que foram exploradas no Seminário FRUTO – Diálogos do Alimento. Idealizado pelo chef Alex Atala e pelo produtor cultural Felipe Ribenboim, o evento reuniu mais de 30 das mentes mais importantes dos ramos da sustentabilidade, ciência, gastronomia para o Unibes Cultural, na última sexta e sábado.
O evento foi fechado para convidados, mas o conteúdo está todo disponível no Youtube.
Estivemos por lá e contamos tudo que rolou.
O evento foi dividido em três eixos principais:
EIXO CULTURAL: Comida é cultura e deve ser explorada e estudada como tal. Ela transforma, expressa e representa tradições e costumes de um povo.
EIXO BIOLÓGICO: Desde a semente que nos dá o fruto até a tecnologia, o alimento é o fator principal que move o ciclo da natureza
EIXO SOCIAL: A maior rede social do mundo é o alimento, e sua capacidade de integrar e denotar relações não deve ser subestimada.
– Nos próximos 50 anos, precisaremos alimentar 9 bilhões de pessoas , em um mundo cada vez mais desigual – 815 milhões de pessoas passam fome e muitos outros bilhões comem mal.
– Nosso sistema de produção atual está matando o planeta: a agropecuária é a atividade humana com maior impacto sobre o globo. Descontadas as espécies para alimentação humana e os próprios seres humanos, apenas 3% dos mamíferos vivos representam toda a biodiversidade remanescente do planeta. Jason Clay fez uma palestra brilhante que dimensiona o problema que vivemos.
– No Brasil já perdemos 93% da Mata Atlântica, 50% do cerrado e 20% da Amazônia – e é papel da nossa geração reverter esse quadro.
– Não há uma receita única para superar o desafio de alimentar bem a humanidade. Parte da resposta está na ciência, com o desenvolvimento da agricultura vertical, adaptada às cidades; com a engenharia genética e outras tecnologias agrícolas, para aumentar a resistência das cultivares à mudança do clima e ampliar a eficiência da fotossíntese. Mas parte da resposta também está em técnicas como a agricultura sintrópica, que não usa insumos químicos e a produção orgânica. Houve exemplos brasileiros como a Positiv.A do Alex Seibel, e a Cocar & Co do Pedro Hennel, empresas que buscam novos modelos sustentáveis de produção e pesca.
– A rastreabilidade dos alimentos e elevar a consciência dos produtores com relação ao impacto será decisivo nesse processo de transição, particularmente as populações tradicionais (indígenas, ribeirinhos, etc.). Esses povos são a principal barreira contra a erosão genética causada pela agricultura comercial.
– A resposta para o problema da agropecuária pode estar nos oceanos: com o aumento da procura por proteína animal, a aquicultura pode ser mais sustentável. Para isso é preciso mudar a forma que pescamos. A Celine Costeau (sim, neta de Jaques Costeau), com uma oratória impecável, sensibilizou sobre a necessidade de campanhas de comunicação sobre o assunto
– É preciso que o homem se reconecte com a origem dos alimentos. Não podemos acreditar que eles saem das bandejas dos supermercados. Exemplos de ações são o Gangsta Gardening, do Ron Finley – o jardineiro de guerrilha que transforma ruas, praças e parques em hortas urbanas.
O exemplo foi dado no próprio evento: como era de se esperar, um almoço que privilegiou os ingredientes brasileiros sustentáveis.
Além das palestras, algumas intervenções artísticas em realidade virtual e uma árvore de chocolates chamava atenção logo na entrada. Se tratava de uma gastro-performance da artista Simone Mattar – ela é uma food designer que consistentemente faz ativismo através da arte. A árvore representou o Brasil, com toda sua biodiversidade, usando ingredientes como cambuci, manguaba e siriguela. Foi uma ativação da Apex Brasil, que reforça que o Brasil alimenta o mundo de corpo e alma. Sem dúvida a arte mais gostosa de todo o evento!
O Seminário FRUTO teve um trabalho excepcional com a curadoria, e quase a totalidade das palestras referenciavam a sociobiodiversidade brasileira como a grande riqueza do país. Com esse privilégio natural, também a responsabilidade de liderarmos a revolução definitiva para o futuro do planeta: a do alimento.
Texto com colaboração de Diogo Tomasewski
*Para saber mais sobre as sementes e aprendizados no evento completos, visite o site e faça download do pdf Sementes, do jornalista Claudio Angelo.
Foto destaque: Brooke Lark – Unsplash
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
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